A história de “Yield”, o álbum da volta às raízes do Pearl Jam

Deparados com a escolha entre crescer ou terminar, músicos amadureceram, fizeram as pazes com seu legado e se concentraram somente na arte

Bandas de rock fazem as pazes com sua realidade ou terminam. Simples assim. Muitas vezes, o estrelato carrega consigo vários elementos desagradáveis ou que expõem a disfunção latente em um grupo, e todo mundo chega a essa encruzilhada. E o Pearl Jam se viu nessa situação em 1998.

Após anos tentando com unhas e dentes manter sua integridade em meio a uma indústria musical mais interessada em fazê-los gravar “Ten” para sempre, o quinteto de Seattle estava no ponto vital de “cresçam ou terminam”.

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Essa é a história de “Yield” – e de como o Pearl Jam cresceu.

Pearl Jam vs. o mundo

A grande batalha travada pelo Pearl Jam nesse período foi contra uma entidade até hoje capaz de inspirar antagonismo de qualquer um minimamente interessado em música: Ticketmaster. Sob a liderança do vocalista Eddie Vedder, o grupo tentava mudar a maneira como turnês eram organizadas e gerenciadas. Sem uma infraestrutura por trás, a única coisa que isso rendeu foi exaustão.

Ao final da turnê do disco “No Code” (1996), todos estavam cansado, em especial Vedder. Além de aquele ter sido o primeiro álbum do Pearl Jam a não ser um mega sucesso, o cantor havia sido a principal voz nesse período de discórdia entre banda e resto da indústria, sendo responsável por liderar o boicote à Ticketmaster. Isso acarretou em escrutínio ao longo dos anos. 

Reportagens questionavam o mito construído por Eddie Vedder acerca de sua juventude. A reação foi simplesmente parar de dar entrevistas. O Pearl Jam, enquanto isso, lançava músicas que tentavam de todas as maneiras possíveis não soar como seus maiores sucessos. Era um reflexo de seu vocalista: fuga dos holofotes a qualquer custo.

Nova realidade

O rock em 1998 estava em transição. Kurt Cobain havia morrido em 1994, o Soundgarden estava encerrado e o Alice in Chains encontrava-se em estado de animação suspensa. A cena de Seattle em menos de uma década foi de futuro da música para dinossauros. E para o Pearl Jam continuar, eles precisavam fazer algo para a saúde interna da banda.

Isso começou a mudar com uma simples decisão: Eddie Vedder pediu ajuda para seus companheiros. Quando o Pearl Jam começou, o processo criativo era mais colaborativo, com o guitarrista Stone Gossard e o baixista Jeff Ament sendo as principais forças nesse aspecto. Aos poucos, o vocalista foi tendo cada vez mais controle, além das letras e indo para música também.

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Em uma entrevista para a MTV em 1998, Ament falou:

“Acho que nos últimos discos, Eddie tem estado no leme. Eu lembro que ao final do último disco, ele falou: ‘sabe, isso deu muito trabalho pra mim, da próxima vez sería ótimo se eu não precisasse trabalhar tanto nos arranjos e se pessoas viessem com ideias mais completas, até canções completas, isso me ajudaria muito’. Acho que todo mundo levou essa ideia à frente.”

Quando o Pearl Jam se reuniu para gravar o que viria a ser “Yield”, em 1997, a maioria do material estava pronto.

Em uma história oral do Pearl Jam publicada pela Spin em 2001, Jeff Ament contou:

“‘Yield’ foi um disco super divertido de fazer. E tanto disso foi Ed dando uma relaxada; nós trabalhando em todas as nossas músicas antes de trabalhar nas coisas dele. Isso foi enorme.”

Espírito colaborativo

Até mesmo integrantes antes não envolvidos com o processo de composição, como o guitarrista Mike McCready, estavam dando contribuições na forma das músicas “Brain of J”, “Faithful” e o primeiro single do disco, “Given to Fly”.

Em uma entrevista para a Guitar World em março de 1998, McCready falou sobre sua relação com outros integrantes e como suas composições em “Yield” foram o resultado de um crescimento em sua confiança.

“Eu costumava ter medo dele [Stone Gossard] e não querer confrontá-lo em nada. Eu estava sempre ao meu ver andando de fininho em volta dele. Agora eu me sinto mais confiante e confortável comigo mesmo e talvez o respeito mútuo venha disso.”

Enquanto isso, Eddie Vedder estava aos poucos se sentindo mais confortável com sucesso e as expectativas do público em relação ao grupo, como contou ao Philadelphia Inquirer:

“Eu estou um pouco mais positivo sobre a jornada toda agora. Nós tivemos tempo de aproveitar algumas bençãos. Estou numa tremenda posição, estar numa banda fazendo música. Eu seria um idiota se não aproveitasse essa oportunidade.”

Brendan O’Brien, produtor dos três discos anteriores da banda, notou uma mudança de abordagem devido a esse espírito colaborativo em entrevista de 2001 à Spin.

“Eu lembro que havia um esforço consciente de montar as canções de melhor qualidade, mais acessíveis possível.”

Um videoclipe novo do Pearl Jam

O resultado foi “Yield”, o disco mais acessível do Pearl Jam desde “Ten”. “Given to Fly” se tornou um sucesso tão grande que eles até pensaram em rever a política anticlipes para aquela canção. Não rolou para ela, mas outra faixa do trabalho recebeu a honra de ser a primeira música do Pearl Jam a ganhar um vídeo desde 1992.

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“Do the Evolution”, um rockão bem porrada, ganhou um clipe dirigido por Kevin Altieri, da série animada do Batman dos anos 90, e Todd McFarlane, lendário artista de quadrinhos responsável pela criação de Spawn e outro vídeo icônico da década: “Freak on a Leash”, do Korn.

O tom da animação é um reflexo da letra apocalíptica, bem indicativa do final do século passado. Guerras, fome, doenças e uma garota demoníaca dançando enquanto o mundo é reduzido às cinzas.

Em uma declaração oficial na época do lançamento do clipe, a banda falou:

“Como artistas, nós somos desafiados a expandir o significado de nosso trabalho e ao utilizar esse meio visual e trabalhar com um visionário como Todd, nós fomos capazes de explorar alguns dos temas mostrados na canção ‘Do the Evolution’. Basicamente, nós tentamos fazer um videoclipe de maconheiro maneiro.”

“Yield” e após

Lançado em 3 de fevereiro de 1998, “Yield” foi o primeiro álbum do Pearl Jam desde “Ten” a não alcançar o topo das paradas. Chegou ao 2º lugar, atrás apenas do monolito cultural que foi a trilha sonora de “Titanic”. Mesmo assim, foi certificado disco de platina nos Estados Unidos, vendendo mais que seu antecessor, “No Code”.

O período pós-lançamento teve seus problemas. Em abril de 1998, Jack Irons entregou as baquetas e deixou o grupo após quatro anos, pois estava insatisfeito com o ritmo de turnês. Para seu lugar, foi recrutado Matt Cameron, ex-Soundgarden.

A rotatividade na bateria havia sido um problema para o Pearl Jam até então. Chegou ao ponto do documentário “Pearl Jam Twenty” ter uma montagem estilo “This is Spinal Tap” para mostrar todos que passaram pela banda naquela função.

Felizmente, em um sinal do amadurecimento da banda como um todo, o que era para ser uma substituição temporária se tornou permanente pouco tempo depois: Matt Cameron segue no Pearl Jam até hoje.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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