Por que Mamonas Assassinas não seriam bolsonaristas nem “cancelados” hoje, segundo internauta

Filmagens de shows e trechos de entrevistas apresentados no Twitter mostram posicionamento progressista da banda, que chegou a participar de “showmícios” de esquerda nos tempos de Utopia

Vitimados por um trágico acidente aéreo em 1996, os Mamonas Assassinas foram um dos maiores fenômenos da música brasileira. Fundindo vários gêneros musicais a seu rock cômico, eles ficaram famosos pelas letras irreverentes e recheadas de críticas disfarçadas no meio do humor.

Em tempos de polarização como atualmente, fica o questionamento: qual “lado” eles tomariam? Há quem acredite que hoje os Mamonas seriam bolsonaristas, devido ao humor escrachado e que ia contra o chamado “politicamente correto”. E tem quem pense ainda que, em virtude disso, seriam “cancelados” por parcelas da sociedade. Será mesmo?

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Segundo uma fã no Twitter, definitivamente não. Em uma detalhada thread (nome dado a tweets colocados em sequência, formando um post mais longo) que obteve mais de 38 mil curtidas e 9 mil compartilhamentos nos últimos dias, a usuária da rede @carolreoli – em referência ao sobrenome artístico dos integrantes Sérgio e Samuel Reoli – mostrou que o grupo sempre teve um posicionamento mais progressista, mesmo nos anos 1990. Diversos trechos de entrevistas, matérias de TV, revistas e jornais foram compilados para reforçar a tese.

Origens

Mamonas Assassinas eram, na verdade, Utopia. A banda foi criada com este nome em 1989, na cidade de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo. Os integrantes já eram Dinho (voz), Bento Hinoto (guitarra), Julio Rasec (teclados) e os irmãos Samuel Reoli (baixo) e Sergio Reoli (bateria).

De acordo com a internauta, o Utopia era fortemente envolvido com a política na época. Os músicos participavam de campanhas de políticos de esquerda – na época em que os chamados “showmícios” eram permitidos por lei – e gravavam jingles. Chegaram a apoiar a candidatura de Lula, que só viria a ser eleito presidente em 2002.

Apenas em 1994, um ano antes do lançamento do primeiro e único álbum, o Utopia se tornou Mamonas Assassinas. Adotaram o tom humorístico nas letras e na postura, mas sem se distanciar muito de sua ideologia, o que fica claro ao analisarmos algumas das letras do disco.

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As críticas dos Mamonas Assassinas

Conforme apontado pela internauta, o álbum homônimo dos Mamonas Assassinas abre já com uma crítica ao consumismo na música “1406”, cujo título faz referência a um dos primeiros números de “televendas” da época. A cultura consumista é criticada de vários modos, da menção a uma série de produtos “milagrosos” até a presença de versos como “você não sabe como eu fico chateado, ver meu cachorro babando por um carro importado”.

Apesar da enorme popularidade que teve ao longo dos anos de 1995 e 1996, os Mamonas nunca gravaram comerciais para empresas. Reportagens da época dão conta que os Mamonas deixaram de faturar mais de R$ 800 mil (valor que ultrapassa os R$ 4 milhões em correção monetária para 2022) em publicidade.

Em “Robocop Gay”, sucesso até hoje em bares e karaokês pelo Brasil, os músicos criticam a homofobia – tipo de preconceito que se manifestava ainda mais na década de 1990. Em entrevistas, a banda sempre fez questão de deixar claro que a canção era uma homenagem à comunidade LGBTQIA+ e que o objetivo era normalizar as mais diversas orientações sexuais.

Ainda de acordo com a internauta, pensamentos críticos também se fazem presentes em “Jumento Celestino”, uma sátira às dificuldades encontradas pelos imigrantes nordestinos em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. O vocalista Dinho era o único membro da banda nascido fora do estado paulista – ele veio de Irecê, Bahia – e fazia questão de enaltecer sua terra em entrevistas.

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As críticas aos Mamonas Assassinas

A internauta aponta que outra prova da mentalidade mais progressista dos Mamonas Assassinas está em relação aos ataques que sofriam. Apesar das letras contendo quase sempre palavrões e conteúdo sexual, a banda fez muito sucesso entre o público infantil – o que enfureceu setores mais conservadores da sociedade na época.

Os próprios integrantes reconheciam o problema. Em entrevista, o guitarrista Bento Hinoto garantiu que as músicas do primeiro álbum não foram direcionadas ao público infantil. Caso fossem, não haveria conteúdo adulto. Ainda segundo o músico, o segundo disco no qual trabalhavam – e que nunca chegou a ser concluído – não teria palavrões.

Outro tópico abordado pela usuária do Twitter é que apesar de terem sido o “terror” dos religiosos dos anos 90, os integrantes dos Mamonas Assassinas tinham suas crenças. De acordo com o empresário Samy Elia, em documentário, sempre que a banda tocava “Robocop Gay” ao vivo, havia uma grande “pausa” e os membros faziam orações para agradecer pelo sucesso.

Como seria hoje?

A música dos Mamonas Assassinas era divertida, mas também cheia de críticas. Dessa forma, não é difícil imaginar sobre o que eles falariam hoje se ainda estivessem vivos e com o grupo em atividade.

Durante uma entrevista para a MTV Brasil, o tecladista Julio Rasec resumiu bem a temática lírica da banda, dando um bom indício do que viria a seguir.

“A nossa música é basicamente um retrato musical do cotidiano. A gente só relata as tragédias de uma forma engraçada. E a pessoa pensa que é tudo engraçado, mas se você for analisar, é tudo uma grande tragédia.”

Por fim, a internauta também considerou as opiniões dos familiares, amigos e pessoas que conviviam com os integrantes da banda. Não é raro ver as sobrinhas dos irmãos Reoli ou de Dinho criticando duramente o governo atual.

Em post no Instagram, a sobrinha do vocalista chega a afirmar: “meu tio era Lula”. Obviamente, não significa que ele seguiria apoiando o político mais de duas décadas depois, mas é um indício de que seu posicionamento estava definido durante a juventude.

É impossível fazer qualquer tipo de previsão depois da tragédia que tirou a vida de todos os membros dos Mamonas Assassinas. Como destacado, opiniões mudam com o tempo. Mas se analisarmos o legado musical e a postura adotada perante a mídia, conforme feito por @carolreoli, parece improvável que qualquer um dos músicos fosse considerado um “bolsonarista” nos dias de hoje.

Presta atenção, Creuzebek…

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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