Widowmaker: o projeto de Dee Snider que poderia ter dado certo

Dee Snider não estava dando certo com o Twisted Sister desde a metade da década de 1980. O período foi marcado pela fraca repercussão de “Come Out And Play”, lançado em 1985, e o “caso PMRC”, onde Snider foi um dos únicos músicos que chegaram a depor em tribunal contra a ação da Parents Music Resource Center, que buscava censurar álbuns de pop e rock com conteúdo considerado subversivo.

Os bastidores do Twisted Sister não iam bem e Dee Snider começou a trabalhar em um disco solo já entre 1986 e o início de 1987. Por pressão da Atlantic Records, o material foi lançado sob a alcunha da banda e se tornou o último trabalho da discografia composto 100% por músicas inéditas: “Love Is For Suckers”.

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Desperado

Ao fim de 1987, Dee Snider pediu demissão do Twisted Sister – e, obviamente, a banda chegou ao fim, visto que Snider, além de vocalista, era o único compositor e a principal imagem. Em 1988, ele começou a trabalhar em um projeto chamado Desperado, com o baterista Clive Burr (ex-Iron Maiden), o guitarrista Bernie Torme (Gillan, Ozzy Osbourne) e o baixista Marc Russel.

Desacreditado pela indústria fonográfica em geral, Dee Snider não conseguiu fazer com que o Desperado conseguisse lançar seu único disco, “Ace”. O grupo conseguiu um contrato com a Elektra, mas quando o trabalho já estava gravado e prestes a ser lançado, os diretores da companhia decidiram engavetá-lo. As músicas chegaram a ser pirateadas até serem divulgadas, oficialmente, no álbum “Bloodied, But Unbowed”, em 1996.

Dee Snider definhava. Sem conseguir retornar, no auge do sucesso do hard rock nos Estados Unidos, o vocalista se manteve recluso entre 1989 e 1990. Enquanto isso, só aumentavam os problemas financeiros que Snider já acumulava anos antes, especialmente após ter que bancar a existência do Despertado.

Nova chance

Eis que, em 1991, Dee Snider ganhou mais uma chance. O produtor Ric Wake apostou no vocalista e o convidou para lançar um novo disco pela Esquire Records, com distribuição da ainda tímida CMC International. O voto de confiança veio, justamente, quando o hard rock e o heavy metal começavam a cair em popularidade, após a chegada do grunge e do rock alternativo.

As más notícias não param por aí: Bernie Torme teve problemas no pulmão e não conseguiu participar do projeto. Clive Burr já estava fora. A banda foi reformada com o guitarrista Al Pitrelli, recém-saído do grupo de Alice Cooper, e o baterista Joe Franco, que tocou em “Love Is For Suckers” e era grande amigo de Snider. Apenas o desconhecido baixista Marc Russel foi mantido.

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Widowmaker

O novo projeto foi batizado sob a “bênção” do baixista Bob Daisley: Widowmaker. Daisley teve uma banda com esse nome no passado e Dee Snider resolveu perguntar a ele se poderia utilizar tal alcunha. “Não dou a mínima. Ferramos com tudo mesmo!”, disse Bob.

Algumas músicas presentes no primeiro disco do Widowmaker, “Blood And Bullets” (1992), foram reaproveitadas do trabalho feito com o Desperado. Outras canções, por sua vez, eram realmente novas.

Ao ouvir “Blood And Bullets”, é inegável que havia uma química entre os envolvidos – até maior que no Desperado. O primeiro trabalho do Widowmaker transita na linha tênue entre o hard rock e o heavy metal. É ganchudo e pesado ao mesmo tempo.

A PMRC voltou a incomodar Dee Snider graças à capa de “Blood And Bullets”, considerada subversiva. Depois de discutir com Ric Wake, Snider foi obrigado a concordar com o acréscimo do selo “Parental Advisory” no álbum – algo que, diga-se de passagem, Dee Snider lutou contra anos atrás. O aviso era opcional, contudo, várias lojas de discos se recusavam a vender material que estava na lista da PMRC sem que houvesse o alerta na arte frontal.

Apesar das ótimas músicas e até do polêmico selo – que, sim, chamava a atenção -, “Blood And Bullets” foi, inicialmente, ignorado pelo público. A banda precisou passar alguns meses na estrada para que o álbum, lançado sob um selo independente e com distribuição pífia, fosse melhor divulgado. Vale destacar, inclusive, que a primeira turnê do Widowmaker foi, também, a primeira de Snider em cinco anos. Desde 1987, o cantor não pisava em um palco.

Dificuldade

Com o tempo, “Blood And Bullets” teve 50 mil cópias vendidas. Contudo, quando as coisas pareciam melhorar, a Esquire Records fechou as portas ao fim de 1992 e a viabilidade do Widowmaker caiu por terra.

Neste momento, Dee Snider beirava a miséria. Estava completamente no vermelho, pois não havia conseguido quitar suas dívidas passadas. Ele havia vendido a sua casa entre 1989 e 1990, mas a grana precisou ser direcionada para outros fins. Snider, sua esposa e seus três filhos estavam próximos de ficar sem teto.

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Ainda assim, o Widowmaker encontrou forças para continuar e, em 1994, o segundo disco da banda foi lançado. Intitulado “Stand By For The Pain”, o álbum tem uma proposta musical muito diferente de seu antecessor. O mergulho no rock/metal alternativo é notório. As músicas são boas, mas não há o mesmo charme de “Blood And Bullets”.

A tentativa de entrar na patota do alternativo não deu certo – ainda mais porque “Stand By For The Pain” também foi lançado de forma independente, pela Deadline Records – e o grupo chegou ao fim ainda em 1994.

A retomada de Dee

A situação financeira de Dee Snider só veio a melhorar nos anos seguintes, mas o cantor não parou de trabalhar. Um projeto inusitado foi responsável por sanar os débitos de Snider: uma canção natalina que ele compôs para Celine Dion. Mas a cantora sequer soube que a canção era de autoria de Dee. “Não conte que Satã escreveu uma canção de Natal”, disse ele ao produtor Ric Wake.

Ele chegou a lançar um filme, intitulado “Strangeland”, em 1998, além de ter se envovlido com programas de rádio e composição de trilhas sonoras. O Twisted Sister, por sua vez, teve três reuniões imediatas, nos anos de 1997, 2001 e 2002, mas voltou de vez à atividade em 2003.

É inegável que o Widowmaker acabou chegando tarde demais. Provavelmente, um retorno do Twisted Sister teria sido adiado se o grupo paralelo de Dee Snider tivesse vida mais longa – e caso as dívidas não tivessem assolado a vida do cantor.

Em recente entrevista, o baterista Joe Franco chegou a dizer que os discos que fez com o Widowmaker são os melhores de sua carreira. E olha que ele trabalhou com o Twisted Sister em “Love Is For Suckers” e em projetos futuros de Dee Snider.

O Widowmaker tinha todos os predicados para dar certo. Infelizmente, não rendeu. Hoje, seus álbuns permanecem com um status cult.

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A história da Parents Music Resource Center (PMRC)

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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