Mais uma nova era do Angra é apresentada no Rio de Janeiro

Banda mostra seu ciclo atual — não necessariamente de sofrimento — durante show lotado no Circo Voador

Em sua segunda passagem pelo Rio de Janeiro em 2023, o Angra trouxe na última sexta-feira (15) o show de sua nova tour, que leva o mesmo nome do disco lançado pelo quinteto mês passado: “Cycles of Pain”. Um Circo Voador abarrotado — sold out, segundo os produtores — recebeu a banda e acompanhou a apresentação com bastante devoção.

A performance estava marcada para às 23h, conforme anunciado nas redes sociais da casa e da produção — um horário muito tarde mesmo para os padrões cariocas. O Innocence Lost se encarregou de aquecer a plateia, mas só pude acompanhar o finalzinho da apresentação da banda, que foi prestigiada por grande parte dos presentes.

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Foto: Carla Cardoso @clickcarla

Fabio Lione (voz), Rafael Bittencourt (guitarra), Marcelo Barbosa (guitarra), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria) adentraram ao palco já passados alguns minutos da hora marcada. A abertura se deu com a clássica “Nothing to Say”, fazendo com que a casa cantasse junto com Lione, terceiro vocalista da banda, nessa que pode se dizer ser, também, a terceira encarnação do grupo. Apesar de Fabio não possuir as mesmas características vocais de Andre Matos, vocalista original da gravação e do grupo, ele segura bem a música dando a ela personalidade própria. Na sequência, “Final Light”, única representante do disco de estreia do italiano no lineup, o mediano “Secret Garden” (2015).

Começam então as apresentações das músicas do novo disco, aquele que, na minha modesta opinião, parece ser o definitivo da atual formação. Muitos ainda sentem falta da sonoridade dos primeiros álbuns, ou mesmo do segundo vocalista, Edu Falaschi. Contudo, pode-se dizer que o Angra soube se reinventar com Lione e acertou em cheio a mão com o novo full-length, trilhando um caminho que o trabalho anterior “Ømni” (2018) havia pavimentado, com um prog metal recheado de melodia e refrães acessíveis. O cartão de visitas se deu com “Tide of Changes”, em suas duas partes (sendo a primeira apenas uma introdução), com destaque para o baixo de Andreoli, que evolui absurdamente a cada dia, com linhas muito interessantes.

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Foto: Carla Cardoso @clickcarla

“Angels Cry”, faixa-título da estreia da banda, agradou aos fãs mais antigos. “Vida Seca”, com sua introdução em português, cantada por Rafael Bittencourt, mostrou mais uma vez a força do novo álbum, que ainda teve uma de suas faixas mais power metal tocada na sequência: “Dead Man on Display”.

A celebrada “Rebirth” trouxe um momento mais suave para a apresentação, enquanto “Morning Star” trouxe a era “Temple of Shadows” (2004) para o concerto. Talvez outra canção mais enérgica desse álbum poderia representá-lo no setlist atual. Voltando ao novo lançamento, “Here in the Now”, com seu belo refrão, e “Ride Into the Storm” com sua velocidade e melodia, fecharam a primeira parte do repertório.

Foto: Carla Cardoso @clickcarla

Aqui cabe um destaque: a banda poderia ter optado por abrir o show com a última faixa citada. Depois de uma tour celebrando os 30 anos de carreira, que passou pelo RJ em março, é hora de virar a página e colocar o novo lançamento em destaque absoluto, ainda mais por se tratar do disco mais forte dessa formação até então. Apesar do set ter sido bem escolhido, com 7 faixas de “Cycles of Pain”, o posicionamento poderia demonstrar maior coesão, levando a um funcionamento e uma narrativa mais afiados.

Um breve momento acústico é executado, com “Lullaby for Lucifer” e “Gentle Change”, sendo que a primeira, como já de costume, foi executada com Bittencourt nos vocais. Para a segunda, Fabio se junta a ele, cantando com muita personalidade a faixa mais brasileira do disco “Fireworks” (1998).

Foto: Carla Cardoso @clickcarla

Voltando à parte elétrica da apresentação, houve duas representantes bem prog metal; uma do novo álbum, a faixa-título “Cycles of Pain”, e “Ømni – Silence Inside”, também responsável por batizar um disco, mas o anterior. Nelas, todos os músicos se destacam nas partes mais complexas das canções.

“Bleeding Heart”, em sua versão original, foi cantada pelos presentes e mostrou mais uma vez que poderia ter figurado no tracklist convencional do álbum “Rebirth”, e não só como bônus da edição japonesa e no EP que deu sequência a esse álbum. Na última parte, banda e público cantaram a letra de “Agora estou sofrendo” (versão em português gravada pelo grupo de forró Calcinha Preta), numa brincadeira que já se tornou tradição. Mais uma de “Temple of Shadows” – “Waiting Silence” – fechou a parte regular do set, com recepção para lá de efusiva dos presentes.

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Foto: Carla Cardoso @clickcarla

O retorno ao bis se deu com a música mais emblemática do Angra: “Carry On”. Por se tratar justamente do grande hino da banda, é uma grande injustiça que não seja tocada na íntegra; em um corte feito desde a era Falaschi. Seria compreensível se fosse uma faixa mais longa, de 15 minutos, mas não é o caso. Ela é emendada em “Nova Era”, grande símbolo da passagem de Edu pelo grupo e uma das músicas mais queridas e celebradas pelos fãs.

Depois de cerca de duas horas, o Angra encerrou a apresentação com um agradecimento a todos os fãs que compareceram. De fato, foi um grande show, com destaque para o novo álbum, mas passeando por toda a carreira. Os únicos discos que não foram lembrados foram justamente aqueles considerados como os mais fracos de toda a carreira da banda — e com bastante razão — pelos próprios admiradores do quinteto: “Aurora Consurgens” (2006) e “Aqua” (2010). Mais uma vez, encantaram a Cidade Maravilhosa.

*Fotos de Carla Cardoso. Mais imagens ao fim da página.

Foto: Carla Cardoso @clickcarla

Angra — ao vivo no Rio de Janeiro

  • Local: Circo Voador
  • Data: 15 de dezembro de 2023
  • Turnê: Cycles of Pain

Repertório:

  1. Crossing + Nothing to Say
  2. Final Light
  3. Tide of Changes – Part I
  4. Tide of Changes – Part II
  5. Angels Cry
  6. Vida Seca
  7. Dead Man on Display
  8. Rebirth
  9. Morning Star
  10. Here in the Now
  11. Cyclus doloris + Ride Into the Storm

Set acústico:

  1. Lullaby for Lucifer
  2. Gentle Change

Parte 2:

  1. Cycles of Pain
  2. Ømni – Silence Inside
  3. Bleeding Heart
  4. Waiting Silence

Bis:

  1. Unfinished Allegro + Carry On (pela metade)
  2. Nova Era + Ømni – Infinite Nothing
Foto: Carla Cardoso @clickcarla
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Diego Garcia
Diego Garciahttps://igormiranda.com.br
Engenheiro, com mestrado em mobilidade urbana e especializações em finanças e design de serviços, equilibra seus afazeres profissionais com uma paixão profunda por rock, hard rock e heavy metal, em suas mais variadas vertentes. Começou a colecionar CDs, DVDs e Blurays aos 8 anos de idade e não parou mais, mesmo com a chegada do streaming. Não mede esforços para ir a shows e a festivais.

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