Movido pelo saudosismo, Dokken mostra estar vivo em “Heaven Comes Down”

Referências musicais ao passado multiplatinado atingem outro patamar; letras pessoais e emotivas, por sua vez, são um atestado de sabedoria e maturidade

Don Dokken tinha 30 anos e estava no auge quando gravou “When Heaven Comes Down”, uma das mais icônicas faixas de “Tooth and Nail” (1984), o segundo álbum de estúdio do Dokken. Trata-se de uma canção sombria e pesada, com versos que parecem refletir uma luta emocional pela qual o cantor e letrista estava passando. A referência ao céu vindo abaixo pode ser interpretada como uma metáfora para a perda da inocência ou da esperança.

Agora, Don é um septuagenário cujo prontuário médico inclui complicações decorrentes de uma cirurgia nas cordas vocais em meados da década de 1990 e problemas nas costas que resultaram em várias operações ao longo dos anos. Era hora de revisitar a metáfora, promovendo-a a pano de fundo para o 13º lançamento da banda que leva seu sobrenome.

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Acompanhado pelo guitarrista Jon Levin e pela cozinha do House of Lords, Chris McCarvill (baixo) e BJ Zampa (bateria), Don entrega em “Heaven Comes Down” o que talvez sejam suas letras mais pessoais e emotivas. Ele nunca abriu tanto o coração como na derradeira e acústica “Santa Fe” e talvez nunca tenha feito um mea culpa como faz na questionadora “Is It Me Or You?”.

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Do ponto de vista musical, mais do que nunca o Dokken pareceu movido pelo saudosismo. Não é de hoje que Levin tenta reproduzir os timbres e fraseados de seu principal antecessor, George Lynch, mas aqui as referências atingem outro patamar. A abertura “Fugitive” ecoa a dramaticidade de “Unchain the Night”, faixa 1 do clássico “Under Lock and Key” (1985). Já “I’ll Never Give Up” é uma filha pródiga de “Walk Away”, balada que colocou um ponto-final na fase clássica da banda em 1988.  

No departamento vocal, é como se o tanque estivesse sempre na reserva. Sem dar aquelas ousadas impossíveis de reproduzir ao vivo, Don conta ainda com uma ajudinha providencial do experiente Mark Boals nas dobras e backing vocals. Na outra ponta do processo, Kevin Shirley assegurou que a sonoridade deste fosse a mais potente de um disco do Dokken desde “Erase the Slate” (1999).

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A despeito das performances sofridas — sofríveis? — em apresentações recentes, Don prova durante “Heaven Comes Down” que, pelo menos em estúdio, consegue conduzir o Dokken a bons resultados. Nada que se compare aos sucessos multiplatinados de quatro décadas atrás, mas, certamente, um testemunho de sobrevivência e um atestado da sabedoria que só a maturidade é capaz de proporcionar.

*Ouça “Heaven Comes Down” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

*O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Dokken – “Heaven Comes Down”

01. Fugitive
02. Gypsy
03. Is It Me Or You?
04. Just Like A Rose
05. I’ll Never Give Up
06. Saving Grace
07. Over The Mountain
08. I Remember
09. Lost In You
10. Santa Fe

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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