Como o Megadeth se consolidou com nova formação em “Countdown to Extincton”

Entradas de Marty Friedman e Nick Menza já haviam se provado efetivas no álbum anterior, “Rust in Peace”, e elevaram banda a outro patamar

O Megadeth finalmente ficou limpo na virada dos anos 1980 pros 1990. Conhecidos até então por seu consumo descontrolado de drogas, o grupo liderado pelo vocalista e guitarrista Dave Mustaine sempre com o baixista David Ellefson quase perdeu a oportunidade de subir ao patamar superior do metal devido a esses vícios, mas conseguiram dar a volta por cima.

Foi um caminho longo que envolveu visitas a clínicas de reabilitação e trocas constantes de integrantes. Mas bastou uma estabilidade na formação e a turnê certa na época certa para a banda se recolocar nos trilhos – primeiro com “Rust in Peace” (1990), depois com “Countdown to Extinction” (1992).

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Fundo do poço

Após uma performance no festival Monsters of Rock em 1988 em que os integrantes estavam visivelmente sofrendo com os efeitos adversos de drogas, tudo começou a ruir para o Megadeth. Ellefson foi imediatamente para a reabilitação e a turnê australiana foi cancelada. Nessa pausa, Dave Mustaine demitiu o baterista Chuck Behler e o guitarrista Jeff Young.

Em entrevista ao Music Connection, Mustaine resume os problemas:

“Na estrada as coisas foram aumentando de uma briguinha na fronteira para uma guerra total. Acho que muitos de nós éramos inconsistentes por causa de drogas.”

Behler foi demitido por causa de seu vício e já tinha seu substituto alinhado na figura de Nick Menza, que era seu roadie. Jeff Young levou a bota por uma suspeita da parte de Mustaine de que o guitarrista estaria tendo um caso com sua namorada. Young nega até hoje as acusações, mas sua saída foi a mais difícil de reparar.

O Megadeth passou 1989 inteiro sem fazer shows. O grupo chegou a gravar uma cover de Alice Cooper para um filme de Wes Craven, “Shocker”, mas o vício de Mustaine estava tão ruim que ele mal conseguia fingir tocar durante a gravação do clipe.

Em março daquele ano, o frontman foi preso por dirigir sob a influência e posse de drogas ao bater num carro estacionado ocupado por um policial fora de turno. Ele aceitou se reabilitar para evitar a prisão. Ao fim do ciclo estava sóbrio pela primeira vez em quase dez anos.

Após um período de testes que viu o grupo testar nomes como Dimebag Darrell e Slash, o escolhido foi Marty Friedman, indicado pelo novo empresário do grupo, Ron Laffitte. A formação clássica do grupo estava se solidificando e os frutos iniciais eram evidentes em “Rust in Peace”, disco de 1990 reconhecido por crítica e fãs como o melhor do Megadeth até então. 

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Uma participação na megaturnê Clash of the Titans, com outras bandas de thrash como Slayer, Testament e Anthrax – além de Alice in Chains e Suicidal Tendencies, nomes mais alternativos – expôs o grupo para uma plateia enorme, preparando o terreno para o futuro.

Numa entrevista à Metal Hammer, David Ellefson falou sobre a influência de Laffitte e as expectativas:

“Ron Laffitte era um ótimo empresário pra gente; seu ídolo era Pat Riley, técnico do Los Angeles Lakers, então ele era totalmente focado no time e se concentrava em como dava pra canalizar todo esse talento. Ele fez questão que a gente tivesse tudo pra capturar a grandeza em desenvolvimento na banda na época. A gente sabia que o disco após ‘Rust In Peace’ seria o grande, dava pra sentir.”

Mudança sonora

A esse ponto, o thrash metal estava passando por um período de intensas mudanças. As principais bandas do movimento estavam desacelerando suas canções, optando por peso em vez de velocidade. Antiga banda de Dave Mustaine, o Metallica se tornou o maior grupo do planeta com seu disco homônimo de 1991, o “Black Album”, que para vários puristas era uma traição completa do gênero.

Quando o Megadeth entrou no estúdio para gravar o sucessor de “Rust in Peace”, o desafio para os integrantes era: como tornar a música palatável o suficiente para o público mainstream sem abdicar daquilo que nos faz únicos?

Felizmente para o grupo, pela primeira vez o processo criativo era colaborativo, com os integrantes sendo vozes mais ativas, desafogando Dave Mustaine das responsabilidades. Canções já estavam tomando forma desde a turnê Clash of the Titans – e quando começaram a primeira leva de sessões, em 1991, tudo estava indo bem, apesar dos desafios que estavam por vir.

Caos externo, paz interna

Enquanto ambientes tensos durante gravações se devem a conflitos entre os integrantes, em “Countdown to Extinction” o mundo ao redor do Megadeth estava à beira do caos. A maior parte do disco foi gravado em Burbank no primeiro semestre de 1992, e a cidade de Los Angeles ainda sentia os efeitos dos protestos relacionados ao caso Rodney King, um homem negro inocente agredido brutalmente por policiais sob a visão de câmeras. A absolvição dos oficiais deu início a protestos violentos a ponto de ser decretado toque de recolher no condado. 

https://www.youtube.com/watch?v=-4IY9pg_N_w

Por causa desse toque de recolher, os integrantes do Megadeth precisavam parar de gravar todo dia às 18h e ir para casa. Além disso, havia a sensação de que violência poderia acontecer a qualquer hora. O nome do disco, “Countdown to Extinction”, foi sugerido por Nick Menza inspirado numa capa da revista Time, e acabou sendo apropriado para ilustrar o clima da época.

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Enquanto o clima exterior era caótico, internamente tudo estava indo de vento em popa. O Megadeth com Menza e Marty Friedman na formação estava focando mais em groove, encontrando maneiras de utilizar principalmente a habilidade melódica de Friedman.

As canções não tinham mudanças frenéticas de ritmo – algumas até eram mid-tempo. Mesmo assim, continuavam sendo inegavelmente Megadeth por causa das letras extremamente politizadas de Mustaine.

“Symphony of Destruction” e “Architecture of Aggression” focam em assuntos militares, com referências a jovens soldados sendo tratados como peões e o ditador iraquiano Saddam Hussein. “Foreclosure of a Dream” trata de desigualdade financeira, enquanto “Sweating Bullets” mira em caçadores esportivos.

Não fosse o pai de Miley Cyrus…

“Countdown to Extinction” saiu dia 6 de julho de 1992, atingindo o 2º lugar da parada da Billboard. O álbum foi um sucesso esmagador, conquistando certificação de platina dupla nos Estados Unidos e outras marcas satisfatórias em diferentes países. Até hoje é o disco de maior sucesso da banda.

Ainda assim, Dave Mustaine estava insatisfeito por causa de quem o impediu de chegar ao topo das paradas, como ele revelou ao Metal Hammer:

“Bem, tinha esse cantor Billy Ray Cyrus que tinha uma música idiota, ‘Achy Breaky Heart’ e quando ‘Countdown To Extinction’ saiu, chegou ao segundo lugar. Quem era o primeiro? Billy Ray Cyrus! Eu fiquei obcecado com isso, pensei: ‘tenho que ser primeiro lugar ao menos uma vez na vida.”

Infelizmente para Mustaine, o Megadeth ainda não conseguiu esse primeiro lugar, mas a carreira da banda se mostrou mais longeva que a do pai de Miley Cyrus.

Megadeth – “Countdown to Extinction”

  • Lançado em 14 de julho de 1992 pela Capitol Records
  • Produzido por Max Norman e Dave Mustaine

Faixas:

  1. Skin o’ My Teeth
  2. Symphony of Destruction
  3. Architecture of Aggression
  4. Foreclosure of a Dream
  5. Sweating Bullets
  6. This Was My Life
  7. Countdown to Extinction
  8. High Speed Dirt
  9. Psychotron
  10. Captive Honour
  11. Ashes in Your Mouth

Músicos:

  • Dave Mustaine (vocal e guitarra)
  • David Ellefson (baixo)
  • Marty Friedman (guitarra, violão)
  • Nick Menza (bateria)

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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