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Fora do Nightwish, Marko Hietala volta mais pesado e seguro em “Roses from the Deep”

Novo álbum do cantor e baixista tem participações certeiras, guitarras bem trabalhadas e evolução demonstrada em relação ao primeiro disco solo

Marko Hietala, agora escrito com K mesmo, chocou o mundo do metal ao anunciar sua saída do Nightwish — e inicialmente da vida pública — no início de 2021. Após um período sabático, o baixista e vocalista também do Tarot passou a retomar a carreira sem muita pressa e apresenta sua versão atual em “Roses from the Deep”, seu segundo álbum solo e primeiro desde que deixou o grupo que o tornou famoso.

O lançamento evidencia algo já esperado: a banda de Tuomas Holopainen perdeu mais sem Marko do que ele ao sair do grupo. É surpreendente perceber, também, que o músico apostou em uma sonoridade ligeiramente mais pesada em comparação ao antecessor, “Mustan Sydämen Rovio” (2019) – lançado também em inglês como “Pyre of the Black Heart” (2020) e descrito por Hietala como “hard rock progressivo”.

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Desta vez, porém, os riffs e timbres distorcidos de guitarra tomam o lugar das passagens mais atmosféricas e acústicas do registro anterior. Em comum há os fortes ganchos melódicos, que funcionam tão bem na voz do finlandês.

Pelo menos é esse o clima do início do disco, com a trinca “Frankenstein’s Wife”, “Left on Mars” — com participação da vocalista Tarja Turunen, ex-colega de Nightwish — e “Proud Whore”, dona de riffs e levadas que devem colocar um sorriso no rosto dos fãs de Black Sabbath, Deep Purple e dos primórdios do heavy metal em geral.

“Two Soldiers” oferece um respiro no formato de uma balada com cara de musical da Disney — o que não é necessariamente um problema — e bela interpretação vocal de Marko e do convidado Juha-Pekka Leppäluoto (Northern Kings). “Dragon Must Die”, na sequência, é um dos momentos mais interessantes do álbum: épico de mais de 8 minutos, a canção cresce até desembocar em um quase thrash metal, com direito a solo de teclado e uma segunda parte que deve agradar aos apreciadores do bom e velho power metal.

Trata-se de um álbum sem “fillers”, como são chamadas as faixas que estão lá mais para ocupar espaço do que pela qualidade em si. “The Devil You Know” e “Rebel of the North” apresentam influências hard rock de primeira linha, com os vocais de Hietala fazendo lembrar bons momentos de Ian Gillan. “Impatient Zero” começa com cara de que dará refresco, mas este não vem: os riffs seguem fortes e os refrãos, grudentos.

“Tammikuu” (“Janeiro”, em finlandês, segundo o Google Tradutor) é a única com letra no idioma nativo do artista e se mostra cheia de energia para cantar junto — o que não acontece porque o idioma não facilita. A última do tracklist é justamente a faixa-título, segunda balada do disco e recheada de elementos sinfônicos, que até permeiam o álbum todo, mas até então serviam mais como pano de fundo para a sonoridade mais pesada.

“Roses from the Deep” mostra um Marko Hietala mais confortável com sua própria pessoa e olhando mais para o agora do que para o passado. Aqui, ele parece jogar tudo o que tem em uma mesa e selecionar as melhores partes. O novo disco faz o antecessor parecer mais conservador, embora também tenha inegável qualidade.

Chega a ser curioso pensar que Marko tenha mantido a mesma banda para os dois registros, já que são bem pouco parecidos. O grupo é composto por Tuomas Wäinölä (guitarras, também do Kotipelto), Anssi Nykänen (bateria) e Vili Ollila (teclados, também do Northern Kings e Raskasta Joulua, ambos projetos que contam com Hietala). O guitarrista e o tecladista são os que mais brilham em riffs potentes e solos muito bem construídos.

Reforço: “Roses from the Deep” prova que o Nightwish perdeu mais do que Marko. Enquanto os gigantes do metal sinfônico permanecem burocráticos e agora sem os vocais de Hietala, que ajudavam a “arejar” o som (seu substituto no baixo, Jukka Koskinen, não canta), o músico da barba bifurcada mostra que pode ir até além do que sua antiga banda tem feito, já que tem bagagem para isso — inclusive maior em tempo de carreira do que Tuomas Holopainen e seus comandados. Ele se tornando musicalmente imprevisível, o que é ótimo.

*Marko Hietala lança “Roses From the Deep” nesta sexta-feira (7) via Nuclear Blast Records. Clique aqui para fazer o pré-save.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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