Por que Ritchie Blackmore saiu do Deep Purple

Guitarrista não aguentava mais o desafeto Ian Gillan — em vários sentidos — e sentia-se entediado com a banda

Ritchie Blackmore saiu do Deep Purple em 1993. Foi o segundo rompimento do guitarrista com a banda, dona de tantas mudanças na formação que elas são sinalizadas como “Marks” — vai do Mark I até o Mark IX.

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É importante destacar que a configuração mais popular do grupo conta com Ritchie, Ian Gillan nos vocais, Roger Glover no baixo, Ian Paice na bateria e Jon Lord nos teclados. Apenas Blackmore, Paice e Lord estavam desde o início, mas as chegadas de Gillan e Glover elevaram o patamar da banda e geraram seu álbum mais famoso, Machine Head (1972).

Notoriamente, também era a formação mais cheia de brigas por causa dessas figuras. Gillan e Blackmore viviam às turras. A primeira reunião dessa formação clássica, em 1984, acabou cinco anos depois com a demissão do cantor.

Gillan retornou a pedido da gravadora em 1992, para comemorar o jubileu de prata da banda. Junto dele, as tretas. O que se seguiu foi uma batalha por controle ao longo de um ano e um disco: The Battle Rages On… (1993). O cantor venceu a luta e Ritchie Blackmore saiu do Deep Purple ainda no ano em que o álbum saiu.

Ian Gillan volta pela segunda vez

Como em 1973, Ian Gillan foi demitido do Deep Purple novamente em 1989, após sua relação com Ritchie Blackmore azedar de novo. O grupo contratou como seu substituto Joe Lynn Turner, ex-Rainbow. Nem os colegas gostaram, mas a parceria seguiu e rendeu um álbum criticado, “Slaves and Masters” (1990).

Em 1993, o Deep Purple comemoraria seu aniversário de 25 anos e Roger Glover ainda tinha contato com Ian Gillan. No livro “Smoke on the Water: The Deep Purple Story”, o baixista telefonou para o cantor e disse que o queria de volta. A BMG já pressionava o grupo para uma reunião.

Após um teste para mostrar se ainda estava cantando e compondo bem, Ian entrou no estúdio para participar do álbum “The Battle Rages On…” — que já estava praticamente pronto. As músicas foram compostas enquanto Joe Lynn Turner ainda fazia parte do grupo, fora três canções criadas junto a Mike DiMeo, testado entre a saída de Turner e a volta de Gillan. O vocalista clássico contribuiu com as letras.

Ritchie Blackmore saiu do Deep Purple

Apesar do péssimo 192º lugar na parada da Billboard, “The Battle Rages On…” fez sucesso em outras partes do mundo. O disco ficou de fora do top 20 britânico por uma posição e surgiu entre os dez mais vendidos em outros cinco países.

A turnê, contudo, foi mais uma reedição dos embates entre Ian Gillan e Ritchie Blackmore, com ambos zombando um do outro em shows — como se nota no vídeo abaixo. A diferença foi que, dessa vez, o guitarrista percebeu como não importava quantas vezes ele demitia o vocalista, o cara sempre voltava.

Em entrevista para o livro “Smoke on the Water: The Deep Purple Story”, Blackmore resumiu os problemas com Gillan de maneira simples:

“Eu não me dava nada bem com Ian no fim das contas. Eu queria tocar boa música e ele queria tocar música ruim. Ele tinha uma visão diferente, no lado oposto ao meu do espectro.”

Ritchie Blackmore saiu da banda em 17 de novembro de 1993, no meio de uma turnê, em Helsinque. Ian Gillan reconheceu em “Smoke on the Water: The Deep Purple Story” que se não fosse pelo empresário Bruce Payne ter dito algumas verdades para a banda, eles não teriam continuado com os shows.

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“Ele nos falou sobre certas coisas que não estávamos a par, o que nos convenceu a continuar. Jon, Ian [Paice] e Roger haviam sido profundamente afetados pelo que estava acontecendo, mas haviam persistido. Jon e Ian tiveram coisas terríveis feitas com eles, como quando foram excluídos do processo de composição. O problema é que para Ritchie, a banda era ele. E não era. Ele era apenas um quinto do todo. Não é apenas o artilheiro o segredo para um grande time, é também o meio e a defesa.”

Por que Ritchie Blackmore saiu do Deep Purple

Em entrevistas desde que Ritchie Blackmore saiu do Deep Purple, explicações diversas foram dadas. Quase todas passavam pela mesma razão: o guitarrista estava de saco cheio da banda e especialmente do vocalista.

Em 1997, durante entrevista à revista Metal Edge, ele declarou:

“Saí porque não estava gostando de trabalhar com uma banda de rock corporativo, que não estava indo a lugar nenhum. Era nostalgia demais. Também não gostava de como o vocalista estava cantando. Os outros não se importavam, mas eu ficava incomodado. Em termos de negócios, estávamos indo muito bem. Porém, não sentia que estávamos oferecendo algo honesto.”

Até por isso, Blackmore não estava incomodado pelo fato de ter descido alguns patamares com o Rainbow. O guitarrista reformou sua outra banda assim que saiu do Deep Purple, gravando o álbum “Stranger in Us All” (1995).

“As pessoas perguntam como me sinto tocando em lugares menores, mas não é algo com que me importo. O importante é que façamos algo verdadeiro e ao menos algumas pessoas estejam interessadas. Financeiramente, estou ganhando mais. Sou um cara de sorte por ter Doogie White comigo. Ele sabe exatamente o que desejo em um cantor, combina todos os pontos fortes dos vocalistas anteriores, além de ter estilo próprio. Conhece todo o material do passado da banda.”

Em entrevista de 2024 ao New Jersey Stage (via Ultimate Classic Rock), Blackmore declarou que, ao deixar o Purple, manteve-se aberto a novas experiências musicais. O maior reflexo disso reside no fato de ele ter abraçado sonoridades completamente diferentes das feitas anteriormente por ele ao fundar o Blackmore’s Night, projeto ao lado de sua esposa, a cantora Candice Night, que explora temas renascentistas e uma sonoridade fincada no folk medieval tradicional.

“Sempre me interessei por rock melódico – melodias em geral. No final do Purple, era apenas barulhento pelo propósito de ser barulhento, então quando ouvi a música renascentista, havia tantas melodias incríveis, que me tocaram. Isso foi um grande alívio em muitos aspectos, então pulei fora apenas para tocar algumas melodias de forma mais orgânica. Além disso, o estresse vinha das viagens relacionadas ao rock ‘n’ roll, da tentativa contínua de criar diferentes riffs sempre mais pesados, o que pode ser chato. Eu estava ficando cansado de tocar o mesmo tipo de música: rock pesado por rock pesado.”

A vida continua também para o Deep Purple

Ritchie Blackmore seguiu com o Blackmore’s Night. O Deep Purple também continuou em atividade.

A opção encontrada para ocupar a vaga de Blackmore naquele momento foi Joe Satriani, que chegou a bater o telefone na cara de seu empresário quando recebeu a oferta, ofendido com a ideia de substituir um de seus ídolos. Felizmente, ele mudou de ideia. Porém, realizou apenas shows até 1994, quando recebeu uma oferta para permanecer e recusou, visando priorizar sua carreira solo.

Steve Morse, guitarrista do Dixie Dregs que teve um período de sucesso no Kansas, acabou por se tornar o dono definitivo do posto. Permaneceu no Purple por 28 anos, saindo apenas em 2022 para cuidar de sua esposa, Janine, após um diagnóstico de câncer. Desde então, a vaga é assumida por Simon McBride.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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