A voz de Steve Perry em discos além do Journey e solo

Cantor emprestou seus talentos tanto a fenômenos de vendas quanto a lançamentos de artistas desconhecidos ou de pouca expressão

Mais conhecido como o vocalista do Journey durante seus períodos de maior sucesso comercial — de 1977 a 1987 e novamente de 1995 a 1998 —, Steve Perry desfrutou de uma carreira solo algo bem-sucedida, embora breve, entre meados dos anos 1980 e meados dos anos 1990, lançando “Street Talk” (1984) e “For the Love of Strange Medicine” (1994).

Aparentemente do nada, o cantor pôs na praça seu terceiro trabalho, “Traces” 24 anos depois, seguido de perto pelo complementar “Traces – Alternate Versions & Sketches” em 2020 e, finalmente, o álbum de Natal “The Season” em 2021.

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Pode parecer uma produção solo modesta para um cantor classificado na lista dos 100 Melhores de Todos os Tempos da revista Rolling Stone, que foi introduzido no Rock and Roll Hall of Fame e superou Freddie Mercury, do Queen, em uma recente enquete feita pela Billboard. Mas a carreira vocal de Perry, seja paralela ao Journey ou além do grupo que o revelou, vai muito além dos supramencionados cinco álbuns de estúdio, como este artigo prova a seguir.

A voz de Steve Perry em discos além do Journey e solo

Schon & Hammer – “Self Defense”

Do álbum “Here to Stay” (1982)

Poucas pessoas se lembram do duo pop/rock composto pelo multi-instrumentista Jan Hammer — mais conhecido por seu trabalho na trilha sonora da série de TV “Miami Vice” e colaborações com Jeff Beck — e o guitarrista do Journey, Neal Schon, que lançou os álbuns “Untold Passion” em 1981 e “Here to Stay” no ano seguinte. Além de Perry, que faz backing vocals neste último, Schon & Hammer contam com a participação do baterista Steve Smith e do baixista Ross Valory, ambos do Journey, além do ex-baixista do Styx, Glen Burtnik.

Kenny Loggins – “Don’t Fight It”

Do álbum “High Adventure” (1982)

Quarto álbum de estúdio de Kenny Loggins, “High Adventure” é um repositório de singles de sucesso, incluindo a faixa de abertura “Don’t Fight It”, coescrita por Perry, que também canta, e posteriormente indicada ao Grammy.

Em uma entrevista de 2021 para o Rock History Music, Loggins mencionou sua fascinação pela capacidade de Perry de ser um camaleão vocal:

“Minha lembrança favorita desse processo é estar no estúdio onde Steve e eu estávamos fazendo nossos vocais principais ao mesmo tempo, o que quase nunca acontece. Normalmente, você tem um cara em um dia e depois o outro cara em outro dia. Então, entre as tomadas, ele começa a improvisar vozes magicamente. Me lembro de ele começar a cantar uma música do Rod Stewart, e soar exatamente como o Rod Stewart, e depois Sam Cooke, que é o cantor preferido dele. Ele tinha a capacidade de emular todas essas grandes vozes e ainda assim ter uma voz própria. Para mim, ele é uma das maiores vozes dos anos 1980, se não de todos os tempos.”

America – “Can’t Fall Asleep to a Lullabye”

Do álbum “Perspective” (1984)

Depois de amargar vários anos de álbuns e singles fracassados, o America retornou ao top 10 em 1982 com “You Can Do Magic”, de Russ Ballard. Na tentativa de replicar esse sucesso, Ballard foi escolhido para produzir o álbum de 1983, “Your Move”. No entanto, sem trocadilho, ele não fez mágica, levando a dupla a seguir uma direção radicalmente diferente em seu trabalho seguinte.

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Contando com a contribuição de três produtores diferentes e uma série de músicos renomados, “Perspective” marcou a incursão do America na música carregada de sintetizadores que estava em alta na primeira metade da década de 1980. O single “Can’t Fall Asleep to a Lullabye” (26ª posição na Billboard) apresenta backing vocals de Perry.

Barnes & Barnes – “Don’t You Wanna Go to the Moon”

Do álbum “Amazing Adult Fantasy” (1984)

Os atores Bill Mumy e Robert Haimer, que eram colegas de escola, formaram Barnes & Barnes originalmente como um projeto de gravação caseiro privado em 1970. Os dois jamais imaginariam lançar uma infinidade de discos e permanecer ativo até a morte de Haimer em março de 2023.

“Amazing Adult Fantasy”, o quinto álbum de estúdio deles, marca sua estreia na Rhino Records e é destacado por Mumy como seu trabalho favorito do duo.

USA for Africa – “We Are the World”

Do álbum “We Are the World” (1985)

Michael Jackson, Lionel Richie, Stevie Wonder, Tina Turner, Diana Ross, Cyndi Lauper, Bruce Springsteen… poderia ser um recorte da parada de sucessos de um ano aleatório da década de 1980, mas é apenas uma amostra do calibre dos artistas que colaboraram com o projeto USA for Africa, gravando a famosa canção “We Are the World”.

A iniciativa, que incluiu o lançamento de um LP e de um home video, visava à arrecadação de fundos para o combate à fome na Etiópia, mas acabou transcendendo as definições de campanha humanitária, estabelecendo-se como um verdadeiro marco na história da indústria musical.

Em participação no canal Rock Classics Radio (transcrita pela Goldmine Magazine), Steve Perry, que canta um dos versos da canção escrita por Jackson e Richie, relembrou a sessão de gravação ocorrida em 28 de janeiro de 1985:

“[A gravação] foi durante a fase ‘Born in the USA’ de Bruce Springsteen. Quando ele entrou, foi como se Deus tivesse entrado na sala. Michael Jackson estava lá, e Ray Charles também. Tina Turner estava presente, assim como Paul Simon e Bette Midler. Sentindo-me um pouco desconfortável na presença de toda essa gente, acabei indo para uma sala adjacente, onde ficava o catering. Enquanto eu estava comendo frios, olho para o lado e vejo Bette Midler e Paul Simon. Então, Bette Midler diz: ‘é uma pressão e tanto, né?’ Eu respondi: ‘com certeza’.”

Clannad – “White Fool”

Do álbum “Sirius” (1987)

Os irlandeses do Clannad não pouparam despesas em seu décimo álbum. Além de ter sido gravado em quatro estúdios diferentes — dois na Inglaterra, um na Irlanda e um no País de Gales —, “Sirius” conta com um elenco de apoio de primeira, com destaque para Bruce Hornsby (cantor do clássico das light-FMs “The Way It Is”), J.D. Souther (coautor de “Best of My Love”, “New Kid in Town” e muitos outros sucessos dos Eagles) e, claro, Steve Perry, que divide os vocais de “White Fool” com a vocalista Moya Brennan.

Crosby, Stills, Nash & Young – “Soldiers of Peace”

Do álbum “American Dream” (1988)

Em 1983, Neil Young prometeu a David Crosby que gravaria um segundo álbum com o Crosby, Stills & Nash se o cantor se livrasse do vício em drogas. Após passar cinco meses na prisão, Crosby ficou limpo — e Young cumpriu a promessa, abrindo as portas de seu rancho em Woodside, Califórnia para os trabalhos.

Lançado em 1º de novembro de 1988 pela Atlantic Records, “American Dream” atingiu uma impressionante 16ª posição na Billboard e se tornou o disco mais bem-sucedido de Neil Young nos anos 1980. Steve Perry é um dos 18 cantores no coral de “Soldiers of Peace”, a última música registrada para o álbum.

Tommy Tokioka – “I Wish You Were Mine” e “An Angel Above Me”

Do álbum “Happy To Be Living” (2000)

Com 68 seguidores no X/Twitter, o havaiano Tommy Tokioka está longe de ser um artista de grande visibilidade. No entanto, em 2000, teve a honra de contar com Steve Perry em duas faixas de seu primeiro e único álbum de estúdio.

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O feito foi tão incrível que consta da bio do cara na supracitada rede social: “gravou com o lendário astro do rock, Steve Perry do Journey”.

Jeff Golub – “Can’t Let You Go”

Do álbum “Soul Sessions” (2003)

Embora tenha lançado 12 álbuns solo em sua carreira no jazz, Jeff Golub (1951-2015) tende a ser frequentemente lembrado por seus trabalhos como músico contratado de rock, primeiro com Billy Squier, com quem gravou seis discos, e depois com Rod Stewart, sendo peça fundamental na atualização sonora promovida em “Vagabond Heart” (1991) e preservada em “A Spanner in the Works” (1995), além de ter tocado no álbum ao vivo “Unplugged …and Seated” (1993), um dos registros mais icônicos do cantor.

“Soul Sessions”, o quinto título de sua discografia, tem como cartões de visita duas presenças ilustres: Marc Cohn, vencedor do Grammy de Artista Revelação de 1992, em “Isn’t That So?”, e um Steve Perry de voz madura, mas não irreconhecível, em “Can’t Let You Go”.

David Pack – “A Brand New Start”

Do álbum “The Secret of Movin’ On” (2005)

Em 1971, David Pack foi um dos fundadores do Ambrosia, um quarteto de soft rock com inclinações prog (ou seria de prog rock com inclinações soft?) responsável pelos sucessos “How Much I Feel” (1978) e “Biggest Part of Me” (1980). O guitarrista pediu as contas em 2000 para dedicar-se integralmente à carreira solo, iniciada com o elogiado álbum “Anywhere You Go…” (1985), produzido durante um hiato nas atividades do grupo.

Desde então, Pack lançou apenas mais três discos, todos por gravadoras diferentes, concentrando seus esforços na produção de outros artistas e no projeto Beato Band, com seu velho amigo Fred Beato da Beato Bags. Além de cantar em “A Brand New Start”, Steve Perry assina como coprodutor de “The Secret of Movin’ On”.

Street Sweeper Social Club – “Promenade”

Do álbum “Street Sweeper Social Club” (2009)

Steve Perry contribuindo com um supergrupo de rap? Tem sim, senhor!

Formado em 2006 pelo guitarrista Tom Morello (Rage Against the Machine) e pelo MC Boots Riley (The Coup), o Street Sweeper Social Club se descreve como “mais do que uma banda, um recreativo sociocultural”. “Promenade”, segundo single do álbum de estreia homônimo, conta com o vocalista do Journey nos backing vocals.

Em entrevista ao SF Weekly, Riley confessa não se lembrar de como a colaboração tomou forma.

“Foi tudo meio de repente. ‘vamos chamar Steve Perry para cantar essa parte’, e eu disse: ‘beleza, pô’. Ele foi gente-boa.”

The High Kings – “The Streets of Kinsale”

Do álbum “The Road Not Taken” (2023)

Desde 2008, o The High Kings tem coescrito com e produzido alguns dos artistas mais populares da Irlanda, como The Script, Kodaline, Picture This, Ryan Sheridan, JC Stewart, Wild Youth e muitos outros. Definido como “uma celebração da música folclórica irlandesa”, o novo álbum do quarteto, “The Road Not Taken”, inclui com participações de Steve Perry, Sharon Corr (The Corrs) e outros.

Outras gravações

  • Em 1979, Steve Perry colaborou com o amigo Ned Doheny no sofisticado “Prone”.
  • No ano seguinte, fez backing vocals em quatro faixas de “Danger Zone”, o quinto álbum solo de Sammy Hagar. Seu colega de Journey na época, Neal Schon, toca guitarra em uma dessas faixas.
  • Em 1981, Perry repetiu a dose em “Round Two”, do Johnny Van Zant Band, desta vez acompanhado por outro membro do Journey, o tecladista Jonathan Cain.
  • Seis anos depois, foi um dos muitos convidados em “No Sound But a Heart”, da cantora Sheena Easton (conhecida pelo sucesso “For Your Eyes Only”, tema do filme “007: Somente para Seus Olhos”, de 1981), participando da balada “Still in Love”.
  • Avançando para 2020, Perry é creditado em “That’s What I Heard”, o mais aclamado entre os álbuns lançados pela Robert Cray Band nas últimas duas décadas.
  • Em 2021, o cantor aparece no álbum homônimo do Levara, grupo formado pelo ex-baterista do One Direction, Josh Devine, juntamente com o guitarrista Trev Lukather, filho de Steve Lukather, do Toto.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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