Os 10 melhores filmes de 2023 na opinião de Raphael Christensen

Colaborador do site destaca que ano representou período de transição para o cinema, com mais destaque a obras internacionais e esgotamento do formato de super-heróis

2023 foi um ano histórico para o cinema. Estamos presenciando uma entrada absurda do trabalho internacional às mentes Hollywoodianas. Mas não só por isso.

O ano marcou o início de mais uma mudança de ares na indústria. Afinal, o tão indestrutível reinado dos filmes de super-heróis parece finalmente ter chegado ao esgotamento. Dessa forma, abre-se uma brecha para o surgimento de uma nova onda.

- Advertisement -

Em meio a tais transições, apresento os 10 melhores filmes de 2023 em minha opinião. É uma lista pessoal e que deve ser interpretada, acima de tudo, como uma série de recomendações.

Os 10 melhores filmes para Raphael Christensen

10) “When Evil Lurks”

Com o título original “Cuando Acecha la Maldad”, este terror argentino merece todas as glórias possíveis. Ainda que complicado de se conseguir assistir, o longa presente na plataforma Shudder (não disponível no Brasil) apresenta inovações no que diz respeito a terror psicológico e temática de possessão demoníaca.

Na trama, a sociedade convive com uma espécie de infecção demoníaca. O único tratamento é a morte do paciente através de rituais específicos. Caso estas vítimas venham a óbito de forma normal, o vírus se espalha, atingindo outros pelas proximidades territoriais.

“When Evil Lurks” trazendo uma carga emocional absurda e cenas gráficas muito tensas. Você se sente sujo e desagradável durante todo o filme; praticamente tão infeccionado quanto as pessoas retratadas. Uma experiência de outro nível.

9) “Maestro”

Grande aposta da Netflix para a temporada de premiações, “Maestro” é a mais nova aventura de Bradley Cooper (“Se Beber, Não Case!”). Como em “Nasce Uma Estrela”, o genial ator não só protagoniza o longa, como também o dirige.

“Maestro” não está isento de problemas. No geral, é um filme mediano para bom. Temos, aqui, 130 minutos de um espetáculo em atuações envolvendo Bradley Cooper (na pele do músico Leonard Bernstein) e Carey Mulligan (interpretando a atriz Felicia Montealegre), mas como erro principal, aborda muito as relações românticas do famoso compositor. Faltou equilibrar com a trajetória profissional, mostrando o gigante da música que ele foi.

Aliás, a obra não deveria se chamar apenas “Maestro”. A ideia do diretor pareceu ser o foco, sem medo e sem ego, tanto no famoso músico quanto em sua esposa — com ambos tendo praticamente a mesma importância de tela.

Apesar dos pesares, o resultado é bastante positivo. Um deleite em interpretações, além de maquiagem e direção de arte extraordinários.

Carey Mulligan estará forte demais nas premiações com esse filme, mas conta com uma concorrente de peso — a ser apresentada no decorrer deste texto. Já Bradley Cooper consegue entregar o tipo de trabalho que a Academia ama. Acho difícil enxergar o Oscar de Melhor Ator fora das mãos deste brilhante artista.

8) “Godzilla Minus One”

US$ 15 milhões. Este foi o investimento (considerado baixo para produções do tipo) em um dos melhores filmes do ano — e um dos melhores longas de monstros e destruição em todos os tempos. Cinema vai muito além de dinheiro: envolve compreensão técnica, sabedoria, ousadia e criatividade.

A premissa de “Godzilla Minus One” é simples. Pouco tempo depois do final da Segunda Guerra Mundial, o Japão, que ainda vivia a maior destruição de sua história, é obrigado a lutar uma nova guerra contra o surgimento de um monstro devastador.

Dito isso, o longa é um primor em efeitos especiais e traz um nível de destruição poucas vezes visto no cinema. É de se chocar em cada frame. Porém, cinema não é só isso e mesmo dentro desse panorama devastador, o diretor Takashi Yamazaki ainda encontra um fio condutor dramático envolvendo os humanos e seus mais profundos sentimentos.

Leia também:  Crítica: Em “Rivais”, emoções intensas dos personagens brilham na tela

O cinema japonês deu uma aula. Algo que ninguém imaginava ver em uma tela e com um orçamento irrisório no ano de 2023. Hoje, Hollywood pode se esconder de vergonha.

7) “O Assassino”

Em mais uma parceria da Netflix com o lendário David Fincher, “O Assassino” é uma ode à realidade da ação contemporânea.

A trama promete oferecer o desenrolar de um problema envolvendo um assassino profissional. Até esse momento, todos já imaginam: veremos um novo “John Wick”. Certo?

Errado. Ao dar play, Fincher nos convida a tomar vergonha na cara e parar de achar que um real assassino profissional leva uma vida de quase super-herói como Wick.

Somos trazidos à realidade dessa profissão. Somos lembrados constantemente que um assassino profissional nada mais é do que um ser humano, mas com algumas técnicas e frieza para matar pessoas.

O filme convida para respirar o realismo da profissão junto com um personagem que é falho como qualquer outro ser humano. A ação é verdadeira e crível: os passos dados, as atitudes tomadas… tudo é em prol da verdade. Inclusive, se você bocejar durante o filme, parabéns: você está imerso na realidade da profissão.

6) “John Wick 4: Baba Yaga”

Apesar do realismo em “O Assassino” ser delicioso, não há como não colocar na lista o melhor e mais irreal filme de ação do ano. “John Wick 4: Baba Yaga” é frenético, avassalador, honesto, inovador, agressivo e inteligente.

Para alguns, a franquia protagonizada por Keanu Reeves é marcada por exagero. Alguns podem ter dificuldade em enxergar a beleza por trás. Mas há recompensa para quem vê além dos tiroteios. A história da ação é rescrita, modificada e ampliada nessas obras. Cai no campo das ideias: roteiros, argumentos, história.

“John Wick 4” não é apenas um lindo filme de ação. Há uma belíssima história por trás.

5) “Vidas Passadas”

Infelizmente, “Vidas Passadas” só irá estrear no Brasil em fevereiro de 2024, mas já está disponível no exterior e foi exibido nos festivais de Sundance e Veneza. Trata-se de uma história de amor simples, de encontros e desencontros. Contudo, a diretora Celine Song estreia nos cinemas com uma narrativa que foi abordada de várias formas no papel, mas nunca desse jeito na prática.

O grande destaque é a capacidade sentimental da diretora em se aprofundar em questões como estar acorrentado ao passado, preso entre dois amores, o que é permitido ou não dentro de um grande amor — tudo em uma abordagem intensa, fazendo com que você sinta os anos se passarem junto dos protagonistas.

O público se vê confrontado sobre sua própria vida e escolhas. Por conta disso, não acaba quando termina. O filme te acompanha e martela em sua mente por dias. Te tira da sua normalidade e te leva a lugares dentro de si que nem você mesmo poderia imaginar que pudesse ir.

Poderia sem problemas ser o melhor longa do ano nesta lista. Só não está por uma questão de estilo pessoal. Mas são grandes as chances desta obra fazer história.

4) “Sly”

Esta escolha pode gerar alguma controvérsia, mas o documentário da Netflix sobre a vida de Sylvester Stallone é tão importante que não dá para ficar fora de nenhuma conversa sobre melhores coisas de 2023.

Sempre tive em mente que Stallone é um dos nomes mais injustiçados da história do cinema. O ator americao não se limita ao famoso brucutu e imortal com seus eternos personagens clássicos. Sempre houve nele algo que o credenciaria a mais. Este “mais” deveria ter vindo com o reconhecimento do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em “Creed” (2016), para o qual foi indicado, mas não venceu, 39 anos após as nomeações também não conquistadas de Melhor Ator e Melhor Roteiro Original por “Rocky” (1977).

Leia também:  A opinião de Phil Collins sobre músicas solo e do Genesis em “Psicopata Americano”

Sylvester é um ator de mão cheia. É um artista de coração maior que seus músculos. Infelizmente, por conta de preconceitos da indústria, não teve a chance de ser dirigido ao menos uma vez por um grande diretor, que pudesse lhe dar a chance de demonstrar que ele pode ir além de qualquer guerra, ringue ou explosão.

Este documentário mostra um pouco do ser humano por trás destes icônicos personagens. Permite que tenhamos um pouco noção da dimensão que este nome carregará pra sempre na história do cinema.

3) “Super Mario Bros. O Filme”

Aqui é onde deixo de lado meu papel de crítico, especialista, profissional, diretor, o que for. O terceiro lugar de minha lista é a animação que abraça a história dos games e a vida, principalmente, de quem presenciou o auge de cada um daqueles personagens.

É perfeitamente possível enxergar a reunião de roteiro deste filme, com os profissionais dizendo: “Sim, temos que emocionar em cada frame, trazendo referencias de todos os níveis possíveis, mas com uma simples, boa e certeira história”. E é isto que essa brilhante animação faz.

O longa sabe a importância que tem na vida das pessoas e usa isso a seu favor, sem desmerecer as novas gerações. É uma animação que entende o papel que tem de abraçar e unir mais do que propor qualquer tipo de “digladiação” entre o público. “Super Mario Bros. O Filme”, foi o momento cinematográfico mais feliz de 2023.

2) “Assassinos da Lua das Flores”

Com Martin Scorsese em sua melhor e mais feroz forma, “Assassinos da Lua das Flores” não é só uma aula de cinema: traz a potência do filme-arte que serve para objetivos maiores. Este longa protagonizado por Leonardo DiCaprio tem a capacidade de expor problemas, crueldades e dubiedades.

Inspirado no livro homônimo, o filme apresenta a história das investigações em cima dos assassinatos a uma tribo indígena onde a causa é o petróleo. São três horas e 26 minutos da mais pura e sofisticada sétima arte, com direção de um cineasta visionário que sabe perfeitamente qual ponto gostaria de adentrar. Scorsese criou uma obra para bater, machucar e impressionar.

O diretor conta ainda com interpretações certeiras de atores afinados entre si. Provavelmente, uma delas subirá ao palco para receber suas devidas honrarias: Lily Gladstone, o furacão profissional do ano.

1) “Oppenheimer”

Christopher Nolan (“Interestelar”) tem finalmente a grande chance de levar sua estatueta do Oscar para casa. A briga será complicada, mas “Oppenheimer” certamente é um filmaço. Ainda mais para quem teve a possibilidade de acompanhar a história do pai da bomba atômica em uma sala IMAX.

Visceral, a trama adentra de forma profunda toda a história da construção do artefato, assim como todos os dilemas pessoais, morais e éticos que o físico J. Robert Oppenheimer carregava dentro de si.

As interpretações são fantásticas. Os diálogos merecem aplausos de pé. A edição de som é de fazer chorar. “Oppenheimer” representa um marco do cinema biográfico. Para mim, explodiu tal qual uma bomba.

Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Threads | Facebook | YouTube.

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioListasOs 10 melhores filmes de 2023 na opinião de Raphael Christensen
Raphael Christensen
Raphael Christensenhttp://www.igormiranda.com.br
Ator, Diretor, Editor e Roteirista Formado após passagem pelo Teatro Escola Macunaíma e Escola de Atores Wolf Maya em SP. Formado em especialização de Teatro Russo com foco no autor Anton Tchekhov pelo Núcleo Experimental em SP. Há 10 anos na profissão, principalmente no teatro e internet com projetos próprios.

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades