Os melhores discos de 2023 na opinião de Claudio Borges

Critério principal para montar lista foi saber se álbum responde às perguntas: fez morada no meu Spotify? Comprarei em CD? E merece ser adicionado à coleção de vinis?

Listas causam controvérsia. Em geral, olham para elas como se fossem uma declaração impositiva. Algo como “esses são os melhores do ano e o que você pensa está errado”. Errado é pensar dessa forma.

Sempre que elaboro uma lista, apenas seleciono meus favoritos. Se concordarem, ótimo; caso não seja possível uma concordância, ok, não perderei uma noite de sono.

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Para montar essa lista utilizei meus dois critérios de sempre. Ei-los.

O primeiro consiste em responder três perguntas: fez morada no meu Spotify? Se fez, vou comprar em CD? Comprei o CD, merece ser adicionado à coleção de vinis? Se a resposta foi positiva para as três perguntas, com certeza ele figura entre os cinco primeiros colocados.

O segundo critério é avaliar como esse último trabalho do artista/grupo se comporta dentro de sua discografia. Claro, no caso de haver uma.

Depois de passar por essa avaliação estou apto a montar a lista. Aviso: haverá muitos “é o melhor álbum desde…”. Divirtam-se e respeitem o coleguinha.

Os melhores discos de 2023 para Claudio Borges

10) Supremacy – “Influence” (melodic hard rock)

Em seu segundo álbum, os colombianos recrutaram o excelente cantor brasileiro Gus Monsanto (ex-Adagio e Revolution Renaissance) e capricharam nas composições. O resultado é um petardo de melodic hard rock que deixará suas bandanas em polvorosa. Longe de ser original, mas é feito com convicção suficiente para destronar alguns nomes com mais hype. Gus e o guitarrista, Danny Acosta, são os grandes destaques, sobretudo nas faixas “Sirius”, “Passing Through”, “My Time” e na balada “Dream of You”. Ah, quase esqueci de mencionar que a excelente “Mr Big Shot” tem solo do Bruce Kullick (ex-Kiss). Diversão garantida.

9) Dave Hause – “Drive It Like It’s Stolen” (folk rock)

Em seu sexto álbum solo, o cantor e guitarrista manteve todas as características intrínsecas a sua obra, mesmo adicionando novas nuances ao seu folk rock básico de ligeira influência punk. Pouco conhecido por aqui, agradará quem gosta de Gaslight Anthem, Hot Water Music, The Menzingers e Bruce Springsteen. Suas músicas evocam uma certa nostalgia e de tão instantaneamente assimiláveis poderiam migrar do nicho para o mainstream. Bem, se ainda houvesse um onde o rock figurasse com o devido destaque. Aproveite a leitura e se delicie ao som das minhas favoritas “Cheap Seats”, “Hazard Lights”, “Low” e “Damn Personal”. Em um ano em que o novo álbum do Gaslight Anthem é uma baita decepção, Dave cumpriu seu papel e me salvou com essa injeção de ânimo.  

8) The Rolling Stones – “Hackney Diamonds” (rock)

Mesmo com o falecimento de Charlie Watts – presente em duas músicas –, Mick Jagger, Keith Richards e Ron Wood executaram seu melhor álbum desde “Voodoo Lounge” (1994). A sonoridade vibrante é fruto do DNA Stoniano bem embalado pela moderna produção de Andrew Watt (Ozzy, Iggy Pop, Miley Cyrus, Eddie Vedder). Basta ouvir o primeiro single, “Angry”, para se ter a exata ideia de que se trata de mais um grande álbum nessa longeva carreira. Quer mais? “Bite My Head Off” e seu riff sujo, a esfuziante “Whole Wide World” e “Mess it Up” te convencerão. Vale o clichê: é apenas rock n roll, mas eu gosto.

7) Winger – “Seven” (hard rock)

A banda liderada pelo alvo de dardos favorito de Lars Ulrich, Kip Winger, mostra, mais uma vez, porque precisa ser levada a sério. Não é pelo fato de Kip ter estudado música clássica por dez anos e se tornado um compositor premiado. É, simplesmente, por conta da qualidade de seus álbuns. Winger é um dos casos de bandas que melhoraram após a morte comercial do hard rock americano – Europe sendo um outro bom exemplo. Ao se desprenderem das imposições do mercado, criaram uma identidade menos genérica. Em um mar de cantores enfrentando dificuldades com as cordas vocais, Kip vai muito bem, obrigado.  Basta ouvir sua interpretação na forte “Tears of Blood” ou na belíssima balada “Broken Glass”. Já o hard direto de “Heaven´s Falling” possui um refrão capaz de destruir qualquer cantor mediano. Nem a proximidade do início de “Resurrect Me” com o Scorpions dos anos 1980 – sobretudo do “Love at First Sting” – é capaz de deter a apreciação de mais uma prova de tanto talento reunido nessas 12 faixas.

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6) Extreme – “Six” (hard rock)

Vou deixar uma coisa bem clara: não gosto de Extreme. Pronto, falei. Isso posto, “Rise” é o meu rock favorito desse ano. Nem estou falando do solo pirotécnico a la Eddie Van Halen do Nuno Bettencourt; mas, sim, de uma música que infecta seus sentidos e se aloja na sua cabeça por um longo tempo e te faz querer ouvi-la novamente. Ela é razão suficiente para “Six” figurar nessa lista. Gary Cherone e cia chegaram ao topo do seu jogo com um álbum variado, que acerta o alvo seja quando pega mais pesado em “#Rebel” e “Banshee”, seja quando desacelera na inspirada balada “Small Town Beautiful”, ou no pop acústico de “Other Side of the Rainbow” e na brilhante “X Out”. Assim como Nuno tem seu devido lugar no panteão de melhores guitarristas, é hora de reconhecer a voz do Cherone como uma das mais versáteis no rock. Prova disso é o delicado dueto com Nuno em “Hurricane”. Será que, realmente, não gosto da banda?

5) Ist Ist – “Protagonists” (post-punk)

O terceiro álbum do quarteto de pós-punk inglês é o melhor deles. A influência de Joy Division salta aos ouvidos logo na abertura com “Stamp you out”. Peter Hook ficaria orgulhoso com a linha de baixo criada por Andy Keating. Combinada com a voz de Adam Houghton – e seu barítono influenciado por Ian Curtis – poderia resultar em um pastiche insosso como tantos outros que se aproximaram dos criadores de “Unknown Pleasures”. Não é o caso aqui. Há personalidade suficiente para driblar as comparações e entregar um trabalho sólido e empolgante. Favoritas: “Something Has to Give”, “All Downhill” e “Nothing More Nothing Less”.

4) Metallica – “72 Seasons” (heavy metal)

A essa altura do campeonato, com tantas reviravoltas em gols de placa e goleadas contra, o Metallica surpreendeu com seu melhor álbum desde que o “Black Album” os catapultou do confinamento Thrash Metal em direção ao mainstream. James Hatfield mergulhou ainda mais fundo em seus demônios pessoais para emergir com um amalgama das 4 décadas de serviços prestados ao metal e ao rock. Composições afiadas e execução impecável – fico com dúvida se foi o Lars que tocou ou se programaram a bateria – ditam um caminho pelo qual a banda vinha sempre escorregando: o de prender a atenção do ouvinte até o final do álbum. É até difícil respirar aliviado tamanho é a intensidade do quarteto. Uma após a outra, as músicas te levam a pensar em como seria bom se fizessem sempre álbuns inspirados assim. Espero que não demorem mais 128 estações para lançarem outro como esse. Destaques: “72 Seasons”, “Screaming Suicide”, “Sleepwalk My Life Away”, “Inamorata” e “Lux Aeterna”.

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3) Peter Gabriel – “I/O” (art rock)

O fato de ser o primeiro álbum de inéditas em 21 anos deveria ser suficiente para a inclusão nessa lista. E é. Peter Gabriel é genial e todo álbum de estúdio dele precisa ser reverenciado. Uns mais do que outros, claro. Quanto mais escuto “I/O” mais camadas se desdobram aos ouvidos atentos. A imersão em seu universo é obrigatória. Não é um mergulho em águas rasas. Portanto, não o use como pano de fundo para qualquer outra atividade. Descubra essa belíssima obra de arte se dedicando integralmente. Se o caminho for pela estrada escura ou pela brilhante – o álbum está disponível em dois mixes – não importa, o que importa mesmo é que a viagem será incrível.  Destaques: “This is Home”, “Olive Tree”, “Four Kinds of Horses”, “Road to Joy” e “So Much”.

2) The National – “First Two Pages of Frankenstein” (rock alternativo)

Esqueça o confuso álbum anterior, “I Am Easy to Find” (2019), e mergulhe de cabeça na faixa de abertura “Once Upon a Poolside”. A tão apreciada bela melancolia do quinteto está muito bem representada nela. E nas dez faixas subsequentes, que também contém doçura na medida. Com participações de Sufjan Stevens, Taylor Swift – sim, ela mesma – e da jovem Phoebe Bridgers, criaram uma obra capaz de rivalizar com os clássicos “High Violet” e “Trouble Will Find Me”. Não satisfeitos, lançaram mais um álbum, o também delicioso “Laugh Track”. Um ano fecundo que servirá para ampliar o alcance da banda saída de Ohio e que adotou a Grande Maçã como morada. Destaques: “Grease in Your Hair”, “Tropic Morning News”, “The Alcott” e “New Order T-shirt”.

1) Depeche Mode – “Memento Mori” (synthpop)

Após a prematura morte do Andrew Fletcher, em 2022, o Depeche Mode se viu reduzido ao duo Dave Gahan e Martin Gore. Quem pensou na possibilidade de um sumiço por tempo indeterminado recebeu um novo álbum como reposta. Sombrio e melancólico, Memento Mori é o melhor álbum desde “Playing with the Angel” (2005). Não que tenham feito algum de menor valor durante esse período, mas aqui soam como o grupo que fez “Ultra”, “Violator” e “Songs of Faith and Devotion”. “Ghosts Again” – apesar de guardar alguma semelhança com “Lanterna dos Afogados”, dos Paralamas do Sucesso – é a minha música favorita do ano. Seguida muito de perto por “Don’t Say You Love Me” e “Never Let Me Go”. Provocante, sensual e em partes dançante, o álbum é uma polaroid em preto e branco do particular mundo que sempre me deixa querendo mais.

Menções honrosas

  • Electric Mob – “2 Make U Cry & Dance” (hard rock; banda brasileira)
  • The Defiants – “Drive” (hard rock)
  • Iggy Pop – “Every Loser” (punk rock)
  • Everything But the Girl – “Fuse” (pop/R&B)

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Claudio Borges
Claudio Borges
Jornalista, DJ, Produtor, Apresentador, Editor e o que mais ele encontrar pelo caminho da música. Descobriu Rock em 1982 e só ampliou gosto e conhecimento. Começou a tocar bateria aos 16 anos e guitarra aos 17.

1 COMENTÁRIO

  1. Na lista tem nome de veteranos como Peter Gabriel, Depeche Mode e Metallica
    Eu vejo com bons olhos o lançamento de álbuns novos por parte de artistas com grande longevidade
    Em 2023, teve vários álbuns bons, de artistas com mais de 30 anos de carreira
    Willie Nelson lançou 2 álbuns (ele completou 90 anos de idade)
    John Mellencamp 1 álbum
    Joan Jett lançou o EP “Mindsetts”
    Belinda Carlisle lançou um EP
    Rick Astley 1 álbum
    Ann Wilson 1 álbum
    Dolly Parton lançou “Rockstar”
    Bryan Adams lançou dois singles em uma trilha sonora
    O Europe lançou um novo single
    O Guns N’ Roses também

    O pessoal continua trabalhando incansavelmente

    A gente agradece

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