Bob Dylan defende cofundador da Rolling Stone após expulsão do Rock Hall

Jann Wenner foi expulso da instituição que ajudou a criar após comentários preconceituosos

Na última quinta-feira (16), durante show em Nova York, Bob Dylan fez uma saudação a Jann Wenner, cofundador da revista Rolling Stone e do Rock and Roll Hall of Fame. O jornalista foi expulso da instituição recentemente, após ter feito comentários preconceituosos durante uma entrevista.

Em conversa com o The New York Times, Wenner foi questionado pelo fato de nenhuma artista feminina ou de cor da pele preta aparecer em seu novo livro, “Masters”, que apresenta entrevistas com “músicos extraordinários que dominaram o rock ‘n’ roll”.

“A seleção não foi deliberada. Foi meio intuitivo ao longo dos anos, simplesmente aconteceu dessa maneira. As pessoas tinham que atender a alguns critérios, mas era apenas meu interesse pessoal e amor por elas. No que diz respeito às mulheres, nenhuma delas era tão articulada o suficiente neste nível intelectual.”

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Ao receber a oportunidade de reformular as suas observações, Wenner reafirmou a opinião.

“Não é que elas não sejam gênios criativos. Não é que sejam inarticuladas, mas tenha uma conversa profunda com Grace Slick ou Janis Joplin. Por favor, fique à vontade. Você sabe, Joni Mitchell não era uma filósofa do rock ‘n’ roll. Ela não passou, na minha opinião, nesse teste. Nem pelo trabalho dela, nem pelas outras entrevistas que deu. As pessoas que entrevistei eram o tipo de filósofos do rock.”

Quanto à exclusão de artistas pretos, responsáveis pelo nascimento do rock and roll, Jann argumentou:

“Dos artistas negros – você sabe, Stevie Wonder é um gênio, certo? Suponho que quando você usa uma palavra tão ampla como ‘mestres’, o erro é usar essa palavra. Talvez Marvin Gaye ou Curtis Mayfield? Quero dizer, eles simplesmente não se articularam nesse nível. Você sabe, apenas por uma questão de relações públicas, talvez eu devesse ter ido e encontrado uma artista negra e uma mulher para incluir aqui, mesmo que não correspondesse ao padrão histórico, apenas para evitar esse tipo de crítica. Eu tive a chance de fazer isso. Talvez eu seja antiquado e não dê a mínima ou algo assim. Gostaria, em retrospectiva, de ter entrevistado Marvin Gaye. Talvez ele fosse o cara. Talvez Otis Redding, se estivesse vivo, teria sido o cara.”

Após a óbvia repercussão negativa, um representante do Rock and Roll Hall of Fame enviou nota à imprensa anunciado a destituição de seu idealizador em caráter irrevogável.

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Bob Dylan defende Jann Wenner

Porém, Bob Dylan saiu em defesa de Jann Wenner. Conforme registro do Ultimate Classic Rock, ele declarou:

“Tudo bem, gostaria de cumprimentar Jann Wenner, que está na casa. Jann Wenner, certamente todo mundo já ouviu falar dele. De qualquer forma, ele acabou de ser expulso do Rock and Roll Hall of Fame e não achamos que isso seja certo. Estamos tentando trazê-lo de volta.”

Curiosamente, o próprio atingido não contestou a decisão de sua exclusão. Em nota publicada no mês de setembro, Wenner disse:

“Durante minha entrevista ao The New York Times, fiz comentários que diminuíram as contribuições, a genialidade e o impacto de artistas negros e mulheres e peço desculpas de todo o coração por esses comentários. O livro ‘Masters’ é uma coleção de entrevistas que fiz ao longo dos anos que, na minha concepção, melhor representavam uma ideia do impacto do rock ‘n’ roll no meu próprio mundo. Essas entrevistas não estavam lá para englobar toda a música e seus diversos e importantes criadores, mas para refletir os pontos altos da minha carreira. São entrevistas que eu senti que ilustraram a abrangência e experiência nessa minha carreira. Elas não refletem meu apreço e admiração por uma infinidade de artistas de diferentes grupos responsáveis por mudar o mundo, cujas músicas e ideias eu reverencio e celebrarei e divulgarei enquanto viver. Compreendo totalmente a natureza inflamatória de palavras mal escolhidas e peço desculpas profundas, aceito as consequências.”

Sobre Jann Wenner

Nascido e criado em San Francisco, Califórnia, Jann Wenner cofundou a Rolling Stone em 1967 junto do crítico musical Ralph J. Gleason. A publicação se tornou uma das revistas de música mais populares da história, ajudando a lançar muitos artistas ao estrelato, ao mesmo tempo que proporcionou uma plataforma para escritores aclamados.

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No ano de 1983, junto a uma equipe de executivos veteranos, criou a Rock and Roll Hall of Fame Foundation. A organização começou a induzir artistas e figuras célebres da indústria três anos depois. Em 1995, o museu Rock and Roll Hall of Fame foi inaugurado oficialmente em Cleveland. Em 2004, o próprio se homenageou na cerimônia oficial.

Apesar de ser uma das figuras mais importantes da história da imprensa musical, Wenner colecionou polêmicas ao longo dos anos. Em uma biografia sobre ele chamada “The Life and Times of Jann Wenner and Rolling Stone Magazine”, lançada em 2017, o autor Joe Hagan fez diversas acusações de alpinismo social e troca de favores na forma de críticas positivas para artistas do qual ele era ou queria ser amigo.

Em um trecho (via The Ringer), Hagan escreve algo sobre a Rolling Stone que acabou sendo uma prévia da entrevista ao New York Times:

“Era uma revista de homens, apesar de mulheres lerem; era uma revista branca, apesar que afroamericanos tinham fetiche nela; era uma revista de esquerda, apesar de ser temperada pela devoção de Wenner ao establishment.”

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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