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Greta Van Fleet sucumbe aos clichês deles e dos outros em “Starcatcher”

Terceiro álbum full-length tenta mostrar grupo “amadurecido”, mas falta de criatividade resulta em material esquecível

Em entrevistas recentes, a vocalista Courtney LaPlante (Spiritbox) e o guitarrista Nicholaus Arson (The Hives) criticaram, cada um à sua maneira, bandas que mudam seu som justificando que “amadureceram”. Geralmente, é uma desculpa para apresentar algum trabalho mais complexo – ou simplesmente menos convincente – tentando condicionar a opinião pública a não o rejeitar. Afinal de contas, criticar um trabalho “maduro” te colocaria como alguém… imaturo. Ninguém quer isso, né?

A tática é velha, mas não impediu alguns dos maiores fracassos da história do rock – Kiss e seu “Music from The Elder” que o digam. Este não deve ser o caso de “Starcatcher”, terceiro álbum full-length do Greta Van Fleet, até por não ser um trabalho equivocado a esse ponto. Não é ruim, longe disso. É apenas esquecível, como foram todas as suas iniciativas após o EP duplo “From the Fires” (2017), justamente o responsável por fazer o grupo estourar.

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Contexto

Na ativa desde 2012, o quarteto americano formado pelos irmãos Kiszka – Josh (voz), Jake (guitarra) e Sam (baixo) – junto de Danny Wagner (bateria) conseguiu, com o citado EP de 2017, um raro feito: receber disco de ouro nos Estados Unidos, além de Canadá e Itália. Para uma jovem banda de rock, não é pouco. Na maior parte do tempo o som era um pastiche de Led Zeppelin, é verdade, mas suficientemente pulsante e cativante. Se é pra imitar, que seja bem-feito.

Porém, é claro, as críticas vieram. A ponto de Jake ter mentido – e não o culpo – que o Zeppelin não era uma grande influência. A partir daí, toda e qualquer tentativa de se desvencilhar da comparação e mostrar-se “amadurecido” foi abraçada pelo quarteto; seja no ainda cauteloso primeiro álbum full “Anthem of the Peaceful Army” (2018), seja no pomposo semi-prog “The Battle at Garden’s Gate” (2021). Trabalhos decepcionantes, mas pelo menos ainda com singles fortes, como “When the Curtain Falls” (trilha da novela global “O Sétimo Guardião”), “Lover, Leaver”, “My Way, Soon” e “Heat Above”.

Pastiche até nos vacilos

Infelizmente, “Starcatcher” não tem nem um single forte a esse ponto. Aqui, o Greta Van Fleet se empalidece ao soar como um evasivo Led Zeppelin de “III” (1970) e “Houses of the Holy” (1973) – coincidentemente ou não, os álbuns em que Jimmy Page e seus asseclas tentaram soar diferentes de seus maiores êxitos. Como extra, passaram a adotar um visual elfo/épico batido que remete ao início da carreira solo de Rick Wakeman. Tem até foto promocional com espada, como vocês podem ver no topo da página.

Tudo isso aí e, mesmo assim, não conseguiram reverter o jogo para canções envolventes. Não é só pastiche de banda velha: os jovens músicos caíram no mesmo clichê de grupos veteranos de repetir-se exaustivamente.

Muitas faixas do novo trabalho, em especial na primeira metade, soam como sobras menos carregadas do pedaço final de “The Battle at Garden’s Gate”. Curiosamente, sofrem do mesmo problema do disco anterior, que é repetir timbres, campos harmônicos e, em especial, ritmos. “Fate of the Faithful”, “Waited All Your Life”, “Sacred the Thread” e “Frozen Light” meio que parecem a mesma música. Parece até que esqueceram o metrônomo repetindo um BPM idêntico enquanto gravavam.

Greta Van Fleet soterrando méritos

A única canção mais acelerada na tracklist de “Starcatcher”, “Runway Blues”, é apenas uma brincadeira de 1 minuto e 17 segundos. E é bizarro que este seja o melhor momento dos 42 minutos de audição, funcionando quase que como uma breve injeção de ânimo.

Há, obviamente, outros destaques positivos. Entre eles, estão a música de trabalho “Meeting the Master” – que cresce ao longo de seus 5min12seg e também a cada audição –, a afável balada de encerramento “Farewell for Now” e outras três que se destacam justamente pelo trabalho rítmico: a envolvente “The Falling Sky”, com um solo de gaita que até surpreende; “The Indigo Streak”, de ritmo quebrado unido a referências meio indie nas guitarras; e “The Archer”, o único momento realmente experimental por aqui, com variações de groove e climas.

Ainda assim, é pouco para uma banda que, apesar do pastiche, chegou com “Edge of Darkness”, “Black Smoke Rising” e “Safari Song”. Surpreende que nem a produção do conceituado Dave Cobb (Rival Sons, Chris Stapleton, Slash) tenha sido capaz de resolver alguns problemas tão latentes, além de criar outros – como soterrar em efeitos a voz de Josh Kiszka, justo no momento em que sua performance se encontra mais sóbria.

Aliás, enxerga-se evolução em performance do trio de irmãos. Josh, como apontado, usa sua voz de forma mais consciente. Jake, por sua vez, parece finalmente estar encontrando sua identidade enquanto guitarrista. Sam, na função dupla de baixista e tecladista, ganha cada vez mais espaço. Danny, outrora destaque, ainda parece preso às reproduções de John Bonham, mas ao menos não compromete.

O problema de “Starcatcher” não é de execução. É criativo mesmo. A velha sina da banda que diz ter “amadurecido” para justificar a falta de canções fortes. O comunicado oficial atesta que este álbum promove uma “volta às origens ao mesmo tempo em que segue adiante”. Como esperado, não faz nem um, nem outro. O resultado é, reforço, um disco que passa longe de ser ruim: só é esquecível.

Ouça “Starcatcher” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Greta Van Fleet – “Starcatcher”

  1. Fate Of The Faithful
  2. Waited All Your Life
  3. The Falling Sky
  4. Sacred The Thread
  5. Runway Blues
  6. The Indigo Streak
  7. Frozen Light
  8. The Archer
  9. Meeting The Master
  10. Farewell For Now

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Igor Miranda
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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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Em entrevistas recentes, a vocalista Courtney LaPlante (Spiritbox) e o guitarrista Nicholaus Arson (The Hives) criticaram, cada um à sua maneira, bandas que mudam seu som justificando que “amadureceram”. Geralmente, é uma desculpa para apresentar algum trabalho mais complexo – ou simplesmente menos convincente – tentando condicionar a opinião pública a não o rejeitar. Afinal de contas, criticar um trabalho “maduro” te colocaria como alguém… imaturo. Ninguém quer isso, né?

A tática é velha, mas não impediu alguns dos maiores fracassos da história do rock – Kiss e seu “Music from The Elder” que o digam. Este não deve ser o caso de “Starcatcher”, terceiro álbum full-length do Greta Van Fleet, até por não ser um trabalho equivocado a esse ponto. Não é ruim, longe disso. É apenas esquecível, como foram todas as suas iniciativas após o EP duplo “From the Fires” (2017), justamente o responsável por fazer o grupo estourar.

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Na ativa desde 2012, o quarteto americano formado pelos irmãos Kiszka – Josh (voz), Jake (guitarra) e Sam (baixo) – junto de Danny Wagner (bateria) conseguiu, com o citado EP de 2017, um raro feito: receber disco de ouro nos Estados Unidos, além de Canadá e Itália. Para uma jovem banda de rock, não é pouco. Na maior parte do tempo o som era um pastiche de Led Zeppelin, é verdade, mas suficientemente pulsante e cativante. Se é pra imitar, que seja bem-feito.

Porém, é claro, as críticas vieram. A ponto de Jake ter mentido – e não o culpo – que o Zeppelin não era uma grande influência. A partir daí, toda e qualquer tentativa de se desvencilhar da comparação e mostrar-se “amadurecido” foi abraçada pelo quarteto; seja no ainda cauteloso primeiro álbum full “Anthem of the Peaceful Army” (2018), seja no pomposo semi-prog “The Battle at Garden’s Gate” (2021). Trabalhos decepcionantes, mas pelo menos ainda com singles fortes, como “When the Curtain Falls” (trilha da novela global “O Sétimo Guardião”), “Lover, Leaver”, “My Way, Soon” e “Heat Above”.

Pastiche até nos vacilos

Infelizmente, “Starcatcher” não tem nem um single forte a esse ponto. Aqui, o Greta Van Fleet se empalidece ao soar como um evasivo Led Zeppelin de “III” (1970) e “Houses of the Holy” (1973) – coincidentemente ou não, os álbuns em que Jimmy Page e seus asseclas tentaram soar diferentes de seus maiores êxitos. Como extra, passaram a adotar um visual elfo/épico batido que remete ao início da carreira solo de Rick Wakeman. Tem até foto promocional com espada, como vocês podem ver no topo da página.

Tudo isso aí e, mesmo assim, não conseguiram reverter o jogo para canções envolventes. Não é só pastiche de banda velha: os jovens músicos caíram no mesmo clichê de grupos veteranos de repetir-se exaustivamente.

Muitas faixas do novo trabalho, em especial na primeira metade, soam como sobras menos carregadas do pedaço final de “The Battle at Garden’s Gate”. Curiosamente, sofrem do mesmo problema do disco anterior, que é repetir timbres, campos harmônicos e, em especial, ritmos. “Fate of the Faithful”, “Waited All Your Life”, “Sacred the Thread” e “Frozen Light” meio que parecem a mesma música. Parece até que esqueceram o metrônomo repetindo um BPM idêntico enquanto gravavam.

Greta Van Fleet soterrando méritos

A única canção mais acelerada na tracklist de “Starcatcher”, “Runway Blues”, é apenas uma brincadeira de 1 minuto e 17 segundos. E é bizarro que este seja o melhor momento dos 42 minutos de audição, funcionando quase que como uma breve injeção de ânimo.

Há, obviamente, outros destaques positivos. Entre eles, estão a música de trabalho “Meeting the Master” – que cresce ao longo de seus 5min12seg e também a cada audição –, a afável balada de encerramento “Farewell for Now” e outras três que se destacam justamente pelo trabalho rítmico: a envolvente “The Falling Sky”, com um solo de gaita que até surpreende; “The Indigo Streak”, de ritmo quebrado unido a referências meio indie nas guitarras; e “The Archer”, o único momento realmente experimental por aqui, com variações de groove e climas.

Ainda assim, é pouco para uma banda que, apesar do pastiche, chegou com “Edge of Darkness”, “Black Smoke Rising” e “Safari Song”. Surpreende que nem a produção do conceituado Dave Cobb (Rival Sons, Chris Stapleton, Slash) tenha sido capaz de resolver alguns problemas tão latentes, além de criar outros – como soterrar em efeitos a voz de Josh Kiszka, justo no momento em que sua performance se encontra mais sóbria.

Aliás, enxerga-se evolução em performance do trio de irmãos. Josh, como apontado, usa sua voz de forma mais consciente. Jake, por sua vez, parece finalmente estar encontrando sua identidade enquanto guitarrista. Sam, na função dupla de baixista e tecladista, ganha cada vez mais espaço. Danny, outrora destaque, ainda parece preso às reproduções de John Bonham, mas ao menos não compromete.

O problema de “Starcatcher” não é de execução. É criativo mesmo. A velha sina da banda que diz ter “amadurecido” para justificar a falta de canções fortes. O comunicado oficial atesta que este álbum promove uma “volta às origens ao mesmo tempo em que segue adiante”. Como esperado, não faz nem um, nem outro. O resultado é, reforço, um disco que passa longe de ser ruim: só é esquecível.

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  1. Fate Of The Faithful
  2. Waited All Your Life
  3. The Falling Sky
  4. Sacred The Thread
  5. Runway Blues
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