A história de “Rocket to Russia”, clássico álbum dos Ramones

Gravado em uma antiga igreja, álbum foi a segunda contribuição da banda ao ano mais importante da história do punk rock

O ano de 1977 é o “ano mágico” para o punk rock. Na Inglaterra, os Sex Pistols e o The Clash lançaram verdadeiros manifestos com “Never Mind the Bollocks” e “The Clash”, respectivamente. Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, os Ramones tentavam dar sequência à carreira com dois álbuns: “Leave Home” e “Rocket to Russia”.

O primeiro citado – que é o segundo na discografia da banda – representa uma continuação da estreia, tendo feito algum sucesso apenas pela música “Pinhead”. Mas para o terceiro álbum, o grupo teria finalmente uma virada no jogo. Não alcançaram o êxito comercial esperado, mas se colocaram no caminho.

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“Rocket to Russia” é provavelmente o álbum mais recheado de hits do quarteto americano. Desde o single “Sheena is a Punk Rocker”, lançado meses antes do disco, até clássicos como “Rockaway Beach”, “Teenage Lobotomy” e o cover de “Surfin’ Bird, do The Trashmen, o trabalho é considerado por muitos como o melhor da banda. Um deles é o guitarrista Johnny Ramone, que o classifica dessa forma em sua autobiografia, “Commando”.

“Esse foi o melhor álbum dos Ramones, com os clássicos. A banda alcançou seu auge, tanto no estúdio como ao vivo. Tem uma grande canção depois da outra, a maioria delas compostas entre nosso primeiro e segundo álbuns.”

Produção de “Rocket to Russia”

A produção de “Rocket to Russia” é assinada pela mesma dupla de “Leave Home”: Tony Bongiovi e T. Erdelyi. O primeiro citado é primo de Jon Bon Jovi e ainda traz sobrenome original da família. Ele começava a ganhar fama no meio musical por ter mixado a trilha sonora do primeiro filme de “Star Wars”. Já o segundo era ninguém menos do que o baterista Tommy Ramone, usando seu sobrenome verdadeiro.

O terceiro álbum também marcaria a despedida de Tommy das baquetas. Ele foi substituído por Marky Ramone a partir de 1978, mas continuou trabalhando como produtor, inclusive com os Ramones. Diz-se que o lendário Phil Spector teria pedido para conduzir o trabalho, proposta que foi negada pela banda, mas que se realizaria alguns anos depois de forma caótica.

De qualquer modo, a produção de “Rocket to Russia” ainda esconde mais segredos. Em 1982, Johnny Ramone garantiu que Tony Bongiovi nem estava no estúdio durante os trabalhos. A produção acabou, de fato, dividida entre Tommy e o engenheiro de som, Ed Stasium, creditado como o responsável pela sonoridade do álbum.

Dessa vez, a gravadora Sire Records liberou uma verba bem maior do que a dos dois primeiros discos da banda. Ainda assim, era modesta: entre US$ 25 mil e US$ 30 mil. Como de costume, tudo foi feito a toque de caixa, como Johnny deixou claro na biografia “Hey Ho Let’s Go: A História dos Ramones”.

“Não importa se você gasta 100 dólares ou 30 mil dólares. É melhor gravar rapidamente. Se o engenheiro diz que um take está bom, deve-se ir para o próximo. Você não deve ficar lá enrolando, pois é o seu dinheiro que está sendo gasto.”

Soando melhor que a concorrência

As gravações rolaram no Mediasound Studios, em Manhattan, Nova York, num lugar que havia sido uma antiga igreja episcopal. Sempre atento à sonoridade, Johnny Ramone certo dia apareceu com um compacto de “God Save the Queen”, música dos Sex Pistols.

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Furioso por considerar que os ingleses os copiaram em vários aspectos, o guitarrista mostrou a música a Stasium e reclamou do som obtido até então. Seu argumentoe ra: os Ramones deveriam soar melhor do que aquilo.

É difícil dizer se o resultado foi alcançado. Fato é que “Rocket to Russia” tem uma sonoridade muita própria, que vem da influência da surf music que trazida na época.

Os Ramones realmente ficaram mais pop a partir daqui, mas não de um jeito pejorativo ou “vendido”. Em 1978, Johnny já rebatia a ideia em uma entrevista ao explicar que a mudança representava uma melhora do grupo enquanto músicos.

“Nós sempre gostamos de músicas pop. Somos capazes de compor melhor agora. No começo, mesmo se quiséssemos compor músicas pop, éramos incapazes disso. Então, seria mais punk. Somos punk, somos pop, um pouco de tudo. Nós queríamos um álbum equilibrado que as pessoas pudessem ouvir.”

A loucura lírica dos Ramones

O som mudou, mas as letras ainda eram as mesmas. “Rocket to Russia” é permeado de temas envolvendo loucura e problemas mentais, sempre com uma abordagem repleta de humor negro.

No encarte, cada música era representada por um cartoon desenhado por John Holmstrom, editor da revista Punk, que também fez a contracapa.

O bom humor impera desde a abertura “Cretin Hop”, inspirada pela Cretin Avenue, em St. Paul, estado americano do Minnesota, que tem esse nome em homenagem ao bispo Joseph Crétin – mas não dava para perder o trocadilho. Já a “Rockaway Beach” da música existia de fato e era frequentada pelo baixista Dee Dee Ramone. Era uma praia conhecida por ser um ponto de prostituição e uso de drogas, o que contrasta com o clima da canção.

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Por sua vez, “We’re a Happy Family” ironiza a “família tradicional” americana da época, com mais trocadilhos e sacadas interessantes. Já “Ramona” conta a lenda de que havia uma funcionária no estúdio com esse nome, mas ela foi dispensada antes da música ser composta. Afinal, a presença de mulheres no estúdio com os Ramones era proibida.

Outro destaque do álbum é “Teenage Lobotomy”, que o engenheiro de som Ed Stasium classifica como sua favorita. Ele ainda elogia as mudanças de tom – propositais ou não.

“Se há uma grande música gravada por mim, deve ser ‘Teenage Lobotomy’. É uma minissinfonia dos Ramones. Tem todos os elementos do que é grande neles em uma única música: a introdução da bateria e o canto ‘Lobotomy!!!’, os discretos ‘uuuus’ na harmonia de fundo, o assunto em si…”

Resultado

“Rocket to Russia” foi um passo dos Ramones em direção ao estouro, mas não representou o estrelato propriamente dito. O álbum chegou ao 49º lugar na Billboard 200, estreia dos Ramones nas paradas americanas.

“Sheena is a Punk Rocker” se tornou o primeiro single do grupo a figurar nos charts americanos, com o 81º lugar. Foi superado por “Rockaway Beach” (66º lugar), o posto mais alto que eles já alcançaram no país em toda a sua história. A turnê de divulgação rendeu o disco ao vivo “It’s Alive”, lançado em 1979.

Mas nem mesmo os elogios da crítica na época bastaram para que a banda mudasse de patamar perante o público. Muitos argumentam que o sucesso veio tardiamente para o grupo, o que pode até ser verdade. Discos como “Rocket to Russia” mostram que não faltou esforço e muito menos qualidade para que isso acontecesse.

Ramones – “Rocket to Russia”

  • Lançado em 4 de novembro de 1977 pela Sire Records
  • Produzido por Tony Bongiovi e T. Erdelyi (Tommy Ramone)

Faixas:

  1. Cretin Hop
  2. Rockaway Beach
  3. Here Today, Gone Tomorrow
  4. Locket Love
  5. I Don’t Care
  6. Sheena Is a Punk Rocker
  7. We’re a Happy Family
  8. Teenage Lobotomy
  9. Do You Wanna Dance?
  10. I Wanna Be Well
  11. I Can’t Give You Anything
  12. Ramona
  13. Surfin’ Bird
  14. Why Is It Always This Way?

Músicos:

  • Joey Ramone (vocal)
  • Johnny Ramone (guitarra)
  • Dee Dee Ramone (baixo, backing vocals)
  • Tommy Ramone (bateria)

Músicos adicionais:

  • Ed Stasium (guitarra adicional, backing vocals)
  • Kathie Baillie, Alan LeBoeuf, Michael Bonagura (backing vocals na faixa 6)

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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