O trágico acidente que vitimou três músicos do Lynyrd Skynyrd

Queda de aeronave tirou as vidas de Ronnie Van Zant (voz), Steve Gaines (guitarra) e sua irmã Cassie Gaines (backing vocal), além de gerente assistente de turnês da banda e piloto e copiloto

A relação do rock com aviação é conturbada. Aeronaves ajudam músicos a tocar por todo o planeta, mas também são responsáveis por tragédias. Buddy Holly, Ritchie Valens, Big Bopper, Otis Redding, os Bar-Kays, Randy Rhoads, todos foram vítimas de acidentes do tipo; contudo, o caso da queda que tirou a vida de três integrantes do Lynyrd Skynyrd vale examinar pelo quanto era evitável.

Família Buscapé?

Em 20 de outubro de 1977, três dias apos o lançamento do álbum “Street Survivors”, o Lynyrd Skynyrd embarcou em um bimotor da Convair indo da Carolina do Sul até a Louisiana, nos Estados Unidos. Aquele era para ser o último voo com aquela aeronave.

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O baterista Artimus Pyle descreveu à Rolling Stone, sem medir palavras, o estado da aeronave:

“Estávamos voando num avião que parecia pertencer à Família Buscapé.”

O mesmo Convair alugado pelo Skynyrd havia sido fiscalizado pelo Aerosmith para possível uso durante a turnê do álbum “Draw the Line”. Os responsáveis pelos voos da banda de Steven Tyler e Joe Perry consideraram inadequados tanto o avião quanto a equipe de bordo.

O modelo específico, o CV-240, havia deixado de ser fabricado em 1954. Ou seja: a aeronave tinha pelo menos quase 25 anos naquela noite de outubro. Além disso, sua fuselagem era mais fina comparada a outras aeronaves do mesmo tipo, como o Douglas DC-3. Reduzia o peso, porém a tornava muito mais frágil em caso de quedas.

O acidente do Lynyrd Skynyrd

Durante o voo, o Convair estava passando por cima do estado americano de Mississippi quando a equipe de voo percebeu que estavam prestes a sofrer uma pane seca, termo usado para descrever falta de combustível. Tentativas de mudar o curso e se dirigir ao aeroporto mais próximo, em Pike County, foram insuficientes.

Era preciso, então, fazer um pouso de emergência. Contudo, o avião deslizou cerca de cem metros por cima de um pântano próximo a um campo aberto, se espatifando contra uma árvore pouco antes de 19h, horário local.

O guitarrista Gary Rossington descreveu a sensação do impacto no documentário “If I Leave Here Tomorrow: A Film About Lynyrd Skynyrd”:

“Nós batemos nas árvores a uns 150 quilômetros por hora. Parecia que estávamos numa lata de lixo de metal sendo acertada por tacos de baseball. A cauda foi arrancada, o cockpit quebrou e passou por baixo, e aí ambas as asas saíram. A fuselagem virou de lado e todo mundo foi jogado para a frente.”

Ronnie Van Zandt, vocalista e líder do Skynyrd, dormia no corredor pois havia passado a noite anterior em claro. Ele não estava usando um cinto de segurança na hora do acidente e morreu na hora.

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Além de Van Zandt, o acidente vitimou os dois membros da equipe de bordo – capitão Walter McCreary e seu co-piloto William Gray – além do guitarrista Steve Gaines, sua irmã e cantora de apoio Cassie Gaines e o gerente assistente de turnês Dean Kilpatrick.

Quanto aos demais integrantes da banda:

  • Billy Powell, tecladista, sofreu vários cortes pelo rosto e quase teve seu nariz arrancado da face, mas foi o menos afetado entre músicos da banda – não à toa, foi o único integrante que conseguiu estar presente nos funerais dos colegas falecidos;
  • Gary Rossington, guitarrista, quebrou os dois braços, pernas, pulsos e tornozelos; para se recuperar, precisou de implantar hastes de aço no braço direito e perna direita;
  • Allen Collins, guitarrista, quebrou duas vértebras da região do pescoço e sofreu lesões graves no braço direito que fizeram médicos recomendarem amputação – o pai do músico recusou e, apesar de lenta, a recuperação ocorreu.
  • Artimus Pyle, baterista, sofreu uma ruptura na cartilagem do peito, além de outros ferimentos;
  • Leon Wilkeson, baixista, estava ao lado de Steve Gaines e ambos foram atirados em uma antepara enquanto ainda estavam presos no assento. Steve morreu ao ter seu pescoço quebrado, mas Leon sobreviveu – ainda que tenha quebrado perna esquerda, braço esquerdo, seis costelas (tendo uma delas perfurado o pulmão esquerdo), vários ossos do rosto e todos os dentes exceto molares.

Resgate salvou vidas

O Lynyrd Skynyrd não estava completo naquele voo. Jojo Billingsley, uma das cantoras de apoio, estava tratando de problemas de saúde relacionados a vício em drogas.

No livro “Freebirds: The Lynyrd Skynyrd Story”, ela contou que teve um sonho em que o avião caía. Depois, falou pelo telefone com o guitarrista Allen Collins para o grupo deixar de usar aquela aeronave. O pedido, claro, não foi atendido.

Artimus Pyle, acompanhado de seu técnico Mark Frank e Ken Peden, outro integrante da equipe, saíram em busca de ajuda. Feridos, rastejaram por um riacho lamacento até chegar em uma fazenda.

O dono, Johnny Mote, havia escutado um barulho, mas achou se tratar de uma batida de carro e confundiu os três homens feridos e sujos com fugitivos. Ele os “recepcionou” com um tiro de advertência. O baterista do Skynyrd fez um apelo desesperado, segundo o site The History Collection:

“Ei! Eu não sei quem você pensa que somos, mas nós sofremos um acidente de avião do outro lado do pasto.”

No que Mote chegou ao lugar do acidente com os três, já chegavam na cena helicópteros da Guarda Costeira, Guarda Nacional e do Forrest County General Hospital, iluminando o caminho para qualquer um que pudesse participar do resgate.

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Uma descrição dos esforços feita pelo bombeiro voluntário Jamie Wall para o Clarion-Ledger, principal jornal do estado de Mississippi, conta o tamanho da operação e como pessoas tentavam ajudar da maneira que podiam:

“Algumas das pessoas estavam na rodovia direcionando tráfego. Outras foram em casa buscar tratores. Minha mulher estava em casa com um rádio amador. Eu estava passando mensagens pra ela a 15 quilômetros de distância.”

Quando Wall finalmente chegou aos destroços, ele contou ao Clarion-Ledger:

“Eu encontrei alguém no chão vivo. Quando caminhei para o outro lado do avião, tropecei em outra pessoa. Eu tirei o meu facão. Ouvi alguém gritando. Alguém estava preso num buraco da aeronave. Eu ajudei ele a sair cortando a fuselagem.”

Graças aos esforços de resgate, 20 tripulantes sobreviveram ao acidente, incluindo os já mencionados Rossington, Collins, Wilkeson, Pyle e Powell.

Uma investigação sobre as causas do acidente apontou que os pilotos haviam sido negligentes quanto ao nível de combustível antes da decolagem.

O fim do Lynyrd Skynyrd?

O Lynyrd Skynyrd como conhecemos acabou naquela noite. O grupo pode ter retornado dez anos depois com Johnny Van Zandt nos vocais, mas era uma banda cover de si mesma em grande parte porque mesmo sendo o irmão mais novo do finado vocalista, ele não era Ronnie.

Artimus Pyle e Gary Rossington são os únicos membros do Lynyrd Skynyrd ainda vivos. Um não fala com o outro.

Os demais integrantes morreram relativamente jovens. Allen Collins faleceu em 23 de janeiro de 1990, aos 37 anos, devido a uma pneumonia crônica tida como uma complicação da paralisia que sofreu após um acidente de carro sofrido em 1986 e que matou sua então namorada, Debra Jean Watts. A colisão automobilística, causada pelo músico estar embriagado, lhe custou os movimentos abaixo da cintura e comprometeu os braços e mãos de modo que ele nunca mais pôde tocar em seus anos finais de vida.

Leon Wilkeson, por sua vez, morreu dormindo em um resort no dia 27 de julho de 2001, aos 49 anos. Foi descoberto posteriormente que ele tinha doenças crônicas no pulmão e no fígado. Billy Powell faleceu em 28 de janeiro de 2009, aos 56 anos, após sofrer um ataque cardíaco.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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