Mais melódico, Alter Bridge surpreende em “The Last Hero”

Alter Bridge – “The Last Hero” [2016]

O Alter Bridge é uma das maiores bandas do que se chama de “metal alternativo”. E isso passa não só pela fama que o grupo conquistou desde o começo – já que três dos quatro integrantes são dissidentes do consagrado Creed -, mas também pela garantia do produto oferecido. Os quatro discos lançados pelo grupo até então são bons e seguem uma determinada linha, sem tanta ousadia.

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Cada disco da banda tem, sim, uma peculiaridade. Por exemplo: o debut “One Day Remains” (2004) é mais radiofônico, enquanto “AB III” (2010) tem um viés melancólico. No entanto, a pegada metálica-alternativa é uma constante nos lançamentos do Alter Bridge.

A situação muda um pouco em “The Last Hero”. O quinto álbum do Alter Bridge mostra uma banda levemente mais preocupada com a melodia, a ponto de, em alguns momentos, soar mais comercial. Sei que destacar o potencial de mercado de algum trabalho pode soar como ofensa dentro da “comunidade metal”, mas, neste caso, nem mesmo os mais puristas devem levar a mal.

“The Last Hero” tem, no geral, um repertório caprichado. O cuidado com as composições é uma marca do Alter Bridge, especialmente da dupla de autores Myles Kennedy e Mark Tremonti, porém, aqui, atingiu um patamar refinado. Cada refrão e cada gancho melódico parece ter sido feito para entrar na mente.

Até mesmo as letras foram preparadas com mais cuidado, com direito a alguns temas engajados com a realidade sócio-política – apesar de não existir tanto aprofundamento por aqui. Há críticas àqueles que questionam o aquecimento global (“The Writing On The Wall”), contestações direcionadas a lideranças (“Show Me A Leader”), fortes mensagens de autoestima (“My Champion”), entre outras boas sacadas.

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Com um melhor preparo, o resultado pode ser, sim, um trabalho mais comercial. Depende da interpretação. Para mim, “The Last Hero” é um disco de qualidade, independente se há um approach mercadológico. Algumas faixas aqui presentes têm potencial para entrarem para a lista das minhas prediletas entre todas da discografia da banda.

“Show Me A Leader” mostra, de cara, que o Alter Bridge está mais melódico, quase hard rock, especialmente pelos ganchos na ponte e no refrão. Na sequência, a engajada “The Writing On The Wall” é mais pesada que a anterior, em função das afinações graves utilizadas por Mark Tremonti e Brian Marshall.

A ótima “The Other Side” mantém o nível no quesito peso. Há mais ousadia no instrumental e Myles Kennedy oscila entre vocais graves e agudos, o que confere um diferencial à faixa. Melódica, “My Champion” é quase um hard rock de arena. Cantarolável do início ao fim, é uma das músicas de destaque do álbum. Na sequência, “Poison In Your Veins” convida o ouvinte ao headbanging em um clima caótico desde sua introdução.

O início acústico de “Cradle To The Grave” engana. A música é mais lenta, mas é muito bem arranjada. O talento de Mark Tremonti na construção de riffs e melodias fica nítido por aqui. “Losing Patience” tem a pegada caótica semelhante à de “Poison In Your Veins”. Não inova, mas entretém.

“This Side Of Fate” volta a priorizar a melodia, mesmo que de forma mais dark. Em quase sete minutos, tem um formato um pouco inusitado, com solos em seus primeiros minutos de duração e alternância entre momentos leves e pesados. Vale ouvir com atenção. Na sequência, a semi-balada “You Will Be Remembered” atrai pela sua melodia e por toda a sua boa construção. Aqui, a interpretação de Myles Kennedy merece destaque.

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Aberta por riffs grosseiros, “Crows On A Wire” traz o peso de volta com intensidade. Também semi-balada, “Twilight” é boa, mas poderia estar em outro momento da tracklist – era hora de outra música pesada, como a intensa “Island Of Fools”, repleta de bons solos de Mark Tremonti. A faixa que dá nome ao álbum é a mesma que encerra o trabalho. Boa música: trilha caminhos harmônicos menos óbvios, seja por já ter vocais logo de cara ou pelo final repleto de passagens inusitadas.

Há alguns pontos em “The Last Hero” que não me agradaram tanto, como a quantidade reduzida de solos de Mark Tremonti e o volume da voz de Myles Kennedy, consideravelmente mais alta que os demais instrumentos em alguns momentos. Ainda assim, não são pontos suficientes para tirar os méritos desse ótimo disco.

O Alter Bridge mostrou-se mais melódico, dinâmico e bem direcionado em “The Last Hero”. Desta vez, a banda surpreendeu.

Nota 8,5

Myles Kennedy (vocal, guitarra)
Mark Tremonti (guitarra)
Brian Marshall (baixo)
Scott Phillips (bateria)

1. Show Me A Leader
2. The Writing On The Wall
3. The Other Side
4. My Champion
5. Poison In Your Veins
6. Cradle To The Grave
7. Losing Patience
8. This Side Of Fate
9. You Will Be Remembered
10. Crows On A Wire
11. Twilight
12. Island Of Fools
13. The Last Hero

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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