Ghost tem evolução fantástica em novo disco, “Meliora”

Ghost: “Meliora” (2015)

O Ghost era o tipo de banda com ótimas referências, mas trabalhos fracos. Nunca deixei de apoiar a proposta do grupo, baseada no shock rock, com pitadas de classic rock, ao estilo do Blue Öyster Cult, e flertes ao metal, inspirados em momentos menos densos de Black Sabbath e Mercyful Fate. No entanto, “Opus Eponymous” e “Infestissumam” são sonolentos e, apesar de algumas boas faixas, não empolgam enquanto conjunto.
A situação mudou em “Meliora”, terceiro álbum de estúdio do Ghost, que só será lançado oficialmente na sexta-feira (21), mas já está disponível no canal da banda no YouTube desde segunda (17). Confesso que não criei muita expectativa, mesmo com o single antecipado, “Cirice”, mostrar que havia algo de diferente sendo criado por ali. É provável que a falta de esperanças tenha ajudado a gerar uma reação tão animada nas audições do novo trabalho. Fato é que há algum bom tempero por aqui.
O maior erro para o Ghost seria associar seu som ao metal de verdade. O estilo soa artificial ultimamente. Os discos são mal produzidos e focam muito no peso, em detrimento das harmonias. Só que a banda precisava soar mais visceral. Em “Meliora”, o grupo soa mais agressivo, mas na medida certa – o vocal de Papa Emeritus, em sua terceira versão, continua afável e, de certa forma, pop. No instrumental, o baixo aparece mais, as guitarras estão bem timbradas e a bateria soa menos comportada.
O repertório também colabora. A perspectiva épica da abertura “Spirit” dá o tom para, na sequência, “From The Pinnacle To The Pit” mostrar como a proposta da banda evoluiu. “Cirice”, já conhecida de todas, é aterrorizante na medida certa. Enjoa um pouco por seus seis minutos serem baseados em uma construção circular demais, mas empolga os ouvidos mais pacientes. A vinheta “Spöksonat” anuncia a sensacional “He Is”, que começa acústica e é, praticamente, uma balada. Destacam-se o ótimo refrão e as sensacionais guitarras cruzadas no solo. “Mummy Dust”, mais acelerada, é conduzida por riffs acima da média e mostra o momento mais metal do álbum, apesar dos vocais quase sussurrados de Papa Emeritus III.
“Majesty” mostra o talento do Ghost em unir som pesado e pop. Os versos são contidos e densos, mas a melodia simplesmente se abre e fica grandiosa no refrão e nos trechos conduzidos por licks de guitarra. “Devil Church”, outra vinheta, antecipa outra faixa fora de série: “Absolution”, sedutora – em uma perspectiva dark – por fugir um pouco dos padrões.  Alguns trechos são conduzidos por um piano que, ao mesmo tempo, assombra e conquista. A cadenciada “Deus In Absentia”, com um dos melhores refrães do álbum, fecha o disco, que tem 41 minutos de duração, com um gosto de “quero mais”. É a música onde os instrumentistas mais se destacam – todos fazem fraseados interessantes e mostram boa sintonia.
“Meliora” não surpreende apenas por ser superior a seus antecessores, mas também por mostrar que há faixas muito melhores que o single “Cirice” em seu andamento. O trabalho chega perto da perfeição, algo que, para mim, só não foi atingida em função de um elemento que pode ser interpretado como positivo ou negativo: a falta de destaques entre os instrumentistas. Esse pode ser o ponto de equilíbrio do grupo, sem disputas de ego ou coisa do tipo, no entanto, sinto falta de ouvir um solo que não seja de guitarras duplas, com mais feeling e pegada, ou alguma passagem em que a bateria tome a linha de frente.
Ainda assim, o Ghost evoluiu de uma forma surpreendente e, se continuar com esse direcionamento, caminha para deixar o posto de “novidade excêntrica” para se firmar entre os grandes nomes do rock. Só não vale confundir: apesar de estar inserido no cenário metálico, Ghost não é metal.
Nota 9
Papa Emeritus III (vocal)
Nameless Ghouls (guitarras, violão, baixo, teclados, piano, bateria)
01. Spirit
02. From The Pinnacle To The Pit
03. Cirice
04. Spöksonat
05. He Is
06. Mummy Dust
07. Majesty
08. Devil Church
09. Absolution
10. Deus In Absentia
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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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