Ex-vocalista do Iron Maiden, Paul Di’Anno morre aos 66 anos

Informação foi confirmada através do selo Conquest Music nas páginas oficiais do cantor; causa não foi divulgada

Paul Di’Anno, vocalista conhecido por ter gravado os primeiros álbuns do Iron Maiden, morreu aos 66 anos. A informação foi confirmada através do selo Conquest Music nesta segunda-feira (21). A causa não foi revelada.

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Di’Anno gravou os álbuns “Iron Maiden” (1980) e “Killers” (1981), saindo para a entrada de Bruce Dickinson. Seu primeiro projeto após deixar a banda foi o Di’Anno, com sonoridade mais comercial. O nome foi reaproveitado na virada do século, com uma banda formada apenas por instrumentistas brasileiros.

A seguir fundou o Battlezone, com sonoridade mais pesada. O grupo existiu entre 1985 e 1989, retornando brevemente em 1998. Na sequência veio o Killers, que teve no álbum “Murder One” (1991) o trabalho mais elogiado do vocalista fora do Maiden.

Também gravou e excursionou com Gogmagog, Praying Mantis, Scelerata e Architects Of Chaoz, entre outros. Nos últimos anos, participou do Warhorse, com músicos croatas, aproveitando sua estadia no país para tratamento visando readquirir independência de locomoção.

Nos últimos anos, os fãs acompanharam os problemas de saúde de Paul Di’Anno. Uma mobilização mundial foi feita para que o cantor pudesse ter acesso a um tratamento para lidar com problemas em seus membros inferiores.

Paul Di’Anno e a entrada para o Iron Maiden

Nascido em 17 de maio de 1958 em Chingford, Londres, na Inglaterra, Paul Andrews tem cidadania inglesa e brasileira, devido a seu pai ter sido brasileiro. Chegou a morar no país, mais especificamente em São Paulo, e teve duas filhas por aqui.

Na adolescência, cantou em diversas bandas e trabalhou como açougueiro e cozinheiro. Entrou para o Iron Maiden em 1978. Antes dele, dois outros cantores ocuparam o posto: Paul Mario Day – que posteriormente cantaria no Sweet – e Dennis Wilcock – responsável por incorporar alguns dos elementos dramáticos e de efeitos especiais que fazem parte dos shows do grupo até hoje.

Só então, coube a Paul Andrews (seu nome de batismo) empunhar o microfone e participar da ascensão da Donzela de Ferro rumo ao posto de uma das atrações mais bem-sucedidas do heavy metal britânico. Em entrevista ao Misplaced Straws, o próprio contou como tudo teve início.

Ele disse, mencionando o baixista e líder do grupo:

“Bem, Steve Harris estudou na mesma escola que eu. Ele é alguns anos mais velho e estava procurando um cantor. A banda teve outros dois antes, Paul Day e Dennis Wilcock. Eu conhecia Paul Day, todos nós meio que morávamos na mesma área. Um amigo em comum, Trevor Soll, disse que o Maiden estava procurando vocalista e perguntou se eu gostaria de tentar.”

Inicialmente, Paul Di’Anno confessou não ter se entusiasmado, especialmente por conta do background musical diferente. Ele disse:

“Eu estava mais interessado em música punk, para ser honesto com você. Mas fui para o teste mesmo assim. Inventei a letras para um cover de uma música chamada ‘Dealer’, do Deep Purple. Após a audição, Steve foi até minha casa tarde da noite e perguntou: ‘Paul, você quer a vaga?’ Respondi que sim.”

Ainda assim, Paul reconhece que não sentiu como se tivesse encontrado algo tão importante quanto pode parecer hoje. O cantor afirma:

“Eu não estava tão entusiasmado, para ser honesto com você. Só quando fui à casa de Steve algumas semanas depois e ele tocou para mim o material que estaria no primeiro álbum do Iron Maiden, que pensei: ‘Uau, isso é fantástico’.”

A demissão

Após dois álbuns gravados, Paul Di’Anno foi demitido em 1981, dando lugar a Bruce Dickinson, que transformou a banda e acabou se mostrando o ingrediente que faltava para que o grupo realmente despontasse para o sucesso.

Em entrevistas nos últimos anos, Di’Anno falou de forma mais aberta sobre a demissão do Iron Maiden. Ao Eon Music, ele declarou, por exemplo, que saiu não só por conta do vício em drogas, como, também, pelos problemas com o baixista e líder Steve Harris.

“Gostei muito do segundo álbum (‘Killers’), mas não me impactou tanto quanto o primeiro. Não pude dar 100% de mim, o que não era justo com a banda, os fãs ou comigo. E, sim, eu estava tentando achar outras formas de fazer aquilo ser empolgante na estrada e, sim, tive problemas com cocaína.”

O cantor destacou que sua situação com drogas “não foi tão ruim como muitas pessoas dizem”.

“Mas no fim das contas, quando se tem uma máquina como o Iron Maiden, se uma parte da engrenagem dá errado, tudo acaba caindo por terra. E eu não estava preparado para o Maiden passar por aquilo, nem estava preparando para eu mesmo passar por aquilo. Citei que não estava feliz, conversamos e foi isso. Rompemos de forma amigável.”

Paul Di’Anno também revelou que chegou a ir ao primeiro show do Iron Maiden com Bruce Dickinson no vocal.

“Levei a minha mãe comigo. Tivemos que ir embora antes da hora, porque as pessoas ficavam gritando por mim. Então, fomos embora.”

Em entrevista à revista Metal Hammer, Di’Anno se recordou de sua demissão. O cantor disse que não culpa os demais integrantes do Iron Maiden pela dispensa, mas que gostaria de ter oferecido mais à banda.

“Não os culpo por se livrarem de mim. Obviamente, a banda era o bebê de Steve. Porém, gostaria de ter contribuído mais. Após algum tempo, isso me deixou triste. No fim, não pude mais oferecer 100% ao Maiden e isso não era justo para os fãs, para a banda ou para mim mesmo.”

Apesar disso, Paul Di’Anno destacou sua visão positiva a respeito de seu trabalho com o Iron Maiden.

“Os dois álbuns que fiz com a banda foram fundamentais para o estilo. Mais tarde, quando conheci Metallica, Pantera e Sepultura e eles falaram que esses discos os colocaram na música, fiquei incrivelmente orgulhoso.”

No livro “Run To The Hills”, biografia autorizada do Iron Maiden escrita por Mick Wall, Paul Di’Anno admitiu que o vício em drogas saiu do controle.

“Não era só uma cheiradinha em cocaína. Eu estava fazendo isso sem parar, 24 horas por dia, todos os dias. A banda tinha compromissos acumulados que duravam meses, até anos, e eu não conseguia enxergar o caminho até o fim. Eu sabia que não duraria até o fim da turnê.”

Leia também:  Dream Theater faz 1º show após volta de Mike Portnoy; veja setlist e vídeos

Problemas de saúde

A saúde de Paul Di’Anno preocupava fãs e até pessoas que trabalham com ele nos últimos anos. O ex-vocalista do Iron Maiden esteve numa cadeira de rodas por quase uma década em função de problemas nos joelhos. Cirurgias foram realizadas, mas não tiveram o efeito desejado.

Após a situação de um de seus joelhos ter piorado nos últimos anos, a ponto de ter deixado sua perna extremamente inchada, Di’Anno fez em setembro de 2022 uma cirurgia após mobilização (inclusive financeira) de fãs e pessoas envolvidas com sua trajetória, incluindo músicos do Iron Maiden. Nos tempos seguintes, seguiu em um longo processo de recuperação marcada também pelos compromissos profissionais, a exemplo de uma extensa turnê pelo Brasil no início de 2023. Esperava-se que ele recuperaria a capacidade de caminhar, o que não ocorreu.

Em entrevista ao The Metal Voice (via Blabbermouth), o cantor contou que vivia bastante isolado quando não estava em turnê e que ficou muito doente nos últimos meses, já que seu sistema imunológico não está tão forte quanto deveria. Ele disse:

“Sim, eu passo muito tempo em isolamento, especialmente onde eu vivo, porque moro no interior e não recebo muitas visitas. E estive muito doente nos últimos dois meses, com infecção após infecção após infecção, porque peguei pneumonia ano passado no México. Eu estava lá fazendo fisioterapia depois de terminar uma turnê.”

Segundo o artista, o quadro de sepse que ele teve em 2015, na Argentina, tornou seu sistema imunológico mais fraco. Dessa forma, ele ficava doente com muita facilidade.

Sobre as turnês, Di’Anno explicou que eram um problema para sua saúde física, mas ajudavam seu psicológico. O vocalista afirmou:

“É ruim para minha saúde. Não é bom para mim, porque eu não faço a fisioterapia ou a drenagem linfática que preciso. Às vezes você consegue, mas não sempre. É muito difícil. E obviamente, transferência de A para B, de aviões para ônibus e tudo isso. Mas tocar ao vivo faz muito bem mentalmente.”

Seja no Reino Unido ou na Croácia, onde realizou a maior parte de seu tratamento, Paul Di’Anno passava a maior parte do tempo sozinho e isso preocupa fãs e pessoas próximas. Seu empresário, Stjepan Juras, responsável por leva-lo à Croácia e pelos shows mais recentes do cantor, falou sobre o assunto em uma publicação em seu Facebook, em março deste ano. Ele contou:

“Embora Paul precise de apenas alguns meses de trabalho para voltar a caminhar totalmente, não é tão fácil. Existem inúmeros obstáculos e forças mentais, TEPT (transtorno de estresse pós-traumático), depressão, etc além de um estilo de vida não tão saudável. Todas essas coisas são doenças e não há brincadeira sobre isso.”

A respeito das turnês, que ajudam por um lado, mas atrapalham em outro, Juras parecia enxergar mais o lado positivo. Para o empresário, a situação de Paul era melhor quando ele podia ser acompanhado por mais pessoas, incluindo profissionais de saúde. Stjepan disse:

“Na turnê, se as viagens de avião forem cansativas e tudo o mais, alguém pode ajudar o Paul todos os dias a ir para a cama, a ir ao banheiro e a tomar banho. Um enfermeiro pode visitá-lo sempre que necessário. E na próxima turnê pelo Brasil ele terá um cuidador pessoal, enfermeiros e fisioterapeutas 24 horas por dia, 7 dias por semana.”

Uma turnê brasileira do vocalista prevista para 2024 foi adiada duas vezes por motivos de saúde. A longa sequência de datas deveria ter acontecido no início do ano, mas foi postergada para o período entre maio e julho, também não ocorrendo.

Paz com ex-colegas do Iron Maiden

Em maio de 2022, enquanto se preparava para ser operado em Zagreb, na Croácia, Paul Di’Anno esteve em um show do Iron Maiden e teve a oportunidade de rever o ex-colega e líder da banda, o baixista Steve Harris. Em um momento raro, os dois conversaram sobre futebol e outras amenidades. assistiu ao show do Maiden em seguida. Posteriormente, foi anunciado que a banda cobriria os custos restantes da cirurgia de seu antigo integrante, o que concluiu uma vaquinha realizada online nos meses anteriores. Paul e Steve mantiveram contato esporádico, falando especialmente sobre futebol, a paixão de ambos.

Já no último dia 13 de julho, os fãs foram pegos de surpresa com imagens de Bruce Dickinson e Paul Di’Anno juntos. O vocalista dos primeiros discos do grupo e seu sucessor nunca haviam sido registrados em vídeo ou fotos juntos até então. O ambiente parecia de harmonia, com direito a troca de gentilezas.

Antes do ocorrido, Di’Anno concedeu entrevista ao site Misplaced Straws. Ciente de que o encontro em Zagreb, Croácia, aconteceria em breve, o cantor tratou de criar um clima propício. Sem a língua solta e ferina de outrora, declarou seu respeito pelo colega de profissão.

“Já nos encontramos antes. Vocês, pessoas da imprensa, continuam colocando as coisas, dizendo que há uma guerra entre Bruce e eu. Não há. Sim, somos dois cantores completamente diferentes. Tivemos algumas alfinetadas ao longo dos anos, como uma pequena brincadeira, mas nada espetacular. Vou ver Bruce no sábado. Dar um abraço nele, dizer olá. Ficar juntos por cerca de meia hora. E então farei uma sessão de autógrafos em um clube, além de tocar três músicas do Maiden com uma banda local.”

A turnê final de Paul Di’Anno pelo Brasil

Paul Di’Anno realizou mais de 30 shows pelo Brasil no início de 2023, tendo Noturnall e Electric Gypsy na abertura e músicos dos dois grupos brasileiros em sua banda de apoio. O primeiro compromisso, em Fortaleza, foi marcado por uma série de problemas. A situação foi resolvida ao longo da turnê, como percebido durante apresentações em GoiâniaRio de Janeiro e São Paulo, acompanhadas pelo site.

O ex-vocalista do Iron Maiden tem no Brasil aquele que provavelmente é o seu maior público e chegou a morar por aqui em um período. Ele até arranha o português e adotou o Corinthians como seu time do coração – sem se esquecer do West Ham, de Londres, é claro.

2023 também foi marcado por uma retomada do cantor a uma agenda de turnês mais intensa. O site Setlist.fm contabilizou mais de 75 apresentações ao longo do ano, com passagens por vários países da Europa e Reino Unido, além da América Latina. Em 2024, o ritmo foi reduzido, com 29 apresentações e um comunicado estabelecendo que ele realizaria menos excursões.

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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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Di’Anno gravou os álbuns “Iron Maiden” (1980) e “Killers” (1981), saindo para a entrada de Bruce Dickinson. Seu primeiro projeto após deixar a banda foi o Di’Anno, com sonoridade mais comercial. O nome foi reaproveitado na virada do século, com uma banda formada apenas por instrumentistas brasileiros.

A seguir fundou o Battlezone, com sonoridade mais pesada. O grupo existiu entre 1985 e 1989, retornando brevemente em 1998. Na sequência veio o Killers, que teve no álbum “Murder One” (1991) o trabalho mais elogiado do vocalista fora do Maiden.

Também gravou e excursionou com Gogmagog, Praying Mantis, Scelerata e Architects Of Chaoz, entre outros. Nos últimos anos, participou do Warhorse, com músicos croatas, aproveitando sua estadia no país para tratamento visando readquirir independência de locomoção.

Nos últimos anos, os fãs acompanharam os problemas de saúde de Paul Di’Anno. Uma mobilização mundial foi feita para que o cantor pudesse ter acesso a um tratamento para lidar com problemas em seus membros inferiores.

Paul Di’Anno e a entrada para o Iron Maiden

Nascido em 17 de maio de 1958 em Chingford, Londres, na Inglaterra, Paul Andrews tem cidadania inglesa e brasileira, devido a seu pai ter sido brasileiro. Chegou a morar no país, mais especificamente em São Paulo, e teve duas filhas por aqui.

Na adolescência, cantou em diversas bandas e trabalhou como açougueiro e cozinheiro. Entrou para o Iron Maiden em 1978. Antes dele, dois outros cantores ocuparam o posto: Paul Mario Day – que posteriormente cantaria no Sweet – e Dennis Wilcock – responsável por incorporar alguns dos elementos dramáticos e de efeitos especiais que fazem parte dos shows do grupo até hoje.

Só então, coube a Paul Andrews (seu nome de batismo) empunhar o microfone e participar da ascensão da Donzela de Ferro rumo ao posto de uma das atrações mais bem-sucedidas do heavy metal britânico. Em entrevista ao Misplaced Straws, o próprio contou como tudo teve início.

Ele disse, mencionando o baixista e líder do grupo:

“Bem, Steve Harris estudou na mesma escola que eu. Ele é alguns anos mais velho e estava procurando um cantor. A banda teve outros dois antes, Paul Day e Dennis Wilcock. Eu conhecia Paul Day, todos nós meio que morávamos na mesma área. Um amigo em comum, Trevor Soll, disse que o Maiden estava procurando vocalista e perguntou se eu gostaria de tentar.”

Inicialmente, Paul Di’Anno confessou não ter se entusiasmado, especialmente por conta do background musical diferente. Ele disse:

“Eu estava mais interessado em música punk, para ser honesto com você. Mas fui para o teste mesmo assim. Inventei a letras para um cover de uma música chamada ‘Dealer’, do Deep Purple. Após a audição, Steve foi até minha casa tarde da noite e perguntou: ‘Paul, você quer a vaga?’ Respondi que sim.”

Ainda assim, Paul reconhece que não sentiu como se tivesse encontrado algo tão importante quanto pode parecer hoje. O cantor afirma:

“Eu não estava tão entusiasmado, para ser honesto com você. Só quando fui à casa de Steve algumas semanas depois e ele tocou para mim o material que estaria no primeiro álbum do Iron Maiden, que pensei: ‘Uau, isso é fantástico’.”

A demissão

Após dois álbuns gravados, Paul Di’Anno foi demitido em 1981, dando lugar a Bruce Dickinson, que transformou a banda e acabou se mostrando o ingrediente que faltava para que o grupo realmente despontasse para o sucesso.

Em entrevistas nos últimos anos, Di’Anno falou de forma mais aberta sobre a demissão do Iron Maiden. Ao Eon Music, ele declarou, por exemplo, que saiu não só por conta do vício em drogas, como, também, pelos problemas com o baixista e líder Steve Harris.

“Gostei muito do segundo álbum (‘Killers’), mas não me impactou tanto quanto o primeiro. Não pude dar 100% de mim, o que não era justo com a banda, os fãs ou comigo. E, sim, eu estava tentando achar outras formas de fazer aquilo ser empolgante na estrada e, sim, tive problemas com cocaína.”

O cantor destacou que sua situação com drogas “não foi tão ruim como muitas pessoas dizem”.

“Mas no fim das contas, quando se tem uma máquina como o Iron Maiden, se uma parte da engrenagem dá errado, tudo acaba caindo por terra. E eu não estava preparado para o Maiden passar por aquilo, nem estava preparando para eu mesmo passar por aquilo. Citei que não estava feliz, conversamos e foi isso. Rompemos de forma amigável.”

Paul Di’Anno também revelou que chegou a ir ao primeiro show do Iron Maiden com Bruce Dickinson no vocal.

“Levei a minha mãe comigo. Tivemos que ir embora antes da hora, porque as pessoas ficavam gritando por mim. Então, fomos embora.”

Em entrevista à revista Metal Hammer, Di’Anno se recordou de sua demissão. O cantor disse que não culpa os demais integrantes do Iron Maiden pela dispensa, mas que gostaria de ter oferecido mais à banda.

“Não os culpo por se livrarem de mim. Obviamente, a banda era o bebê de Steve. Porém, gostaria de ter contribuído mais. Após algum tempo, isso me deixou triste. No fim, não pude mais oferecer 100% ao Maiden e isso não era justo para os fãs, para a banda ou para mim mesmo.”

Apesar disso, Paul Di’Anno destacou sua visão positiva a respeito de seu trabalho com o Iron Maiden.

“Os dois álbuns que fiz com a banda foram fundamentais para o estilo. Mais tarde, quando conheci Metallica, Pantera e Sepultura e eles falaram que esses discos os colocaram na música, fiquei incrivelmente orgulhoso.”

No livro “Run To The Hills”, biografia autorizada do Iron Maiden escrita por Mick Wall, Paul Di’Anno admitiu que o vício em drogas saiu do controle.

“Não era só uma cheiradinha em cocaína. Eu estava fazendo isso sem parar, 24 horas por dia, todos os dias. A banda tinha compromissos acumulados que duravam meses, até anos, e eu não conseguia enxergar o caminho até o fim. Eu sabia que não duraria até o fim da turnê.”

Leia também:  Como o punk Paul Di’Anno entrou para o Iron Maiden

Problemas de saúde

A saúde de Paul Di’Anno preocupava fãs e até pessoas que trabalham com ele nos últimos anos. O ex-vocalista do Iron Maiden esteve numa cadeira de rodas por quase uma década em função de problemas nos joelhos. Cirurgias foram realizadas, mas não tiveram o efeito desejado.

Após a situação de um de seus joelhos ter piorado nos últimos anos, a ponto de ter deixado sua perna extremamente inchada, Di’Anno fez em setembro de 2022 uma cirurgia após mobilização (inclusive financeira) de fãs e pessoas envolvidas com sua trajetória, incluindo músicos do Iron Maiden. Nos tempos seguintes, seguiu em um longo processo de recuperação marcada também pelos compromissos profissionais, a exemplo de uma extensa turnê pelo Brasil no início de 2023. Esperava-se que ele recuperaria a capacidade de caminhar, o que não ocorreu.

Em entrevista ao The Metal Voice (via Blabbermouth), o cantor contou que vivia bastante isolado quando não estava em turnê e que ficou muito doente nos últimos meses, já que seu sistema imunológico não está tão forte quanto deveria. Ele disse:

“Sim, eu passo muito tempo em isolamento, especialmente onde eu vivo, porque moro no interior e não recebo muitas visitas. E estive muito doente nos últimos dois meses, com infecção após infecção após infecção, porque peguei pneumonia ano passado no México. Eu estava lá fazendo fisioterapia depois de terminar uma turnê.”

Segundo o artista, o quadro de sepse que ele teve em 2015, na Argentina, tornou seu sistema imunológico mais fraco. Dessa forma, ele ficava doente com muita facilidade.

Sobre as turnês, Di’Anno explicou que eram um problema para sua saúde física, mas ajudavam seu psicológico. O vocalista afirmou:

“É ruim para minha saúde. Não é bom para mim, porque eu não faço a fisioterapia ou a drenagem linfática que preciso. Às vezes você consegue, mas não sempre. É muito difícil. E obviamente, transferência de A para B, de aviões para ônibus e tudo isso. Mas tocar ao vivo faz muito bem mentalmente.”

Seja no Reino Unido ou na Croácia, onde realizou a maior parte de seu tratamento, Paul Di’Anno passava a maior parte do tempo sozinho e isso preocupa fãs e pessoas próximas. Seu empresário, Stjepan Juras, responsável por leva-lo à Croácia e pelos shows mais recentes do cantor, falou sobre o assunto em uma publicação em seu Facebook, em março deste ano. Ele contou:

“Embora Paul precise de apenas alguns meses de trabalho para voltar a caminhar totalmente, não é tão fácil. Existem inúmeros obstáculos e forças mentais, TEPT (transtorno de estresse pós-traumático), depressão, etc além de um estilo de vida não tão saudável. Todas essas coisas são doenças e não há brincadeira sobre isso.”

A respeito das turnês, que ajudam por um lado, mas atrapalham em outro, Juras parecia enxergar mais o lado positivo. Para o empresário, a situação de Paul era melhor quando ele podia ser acompanhado por mais pessoas, incluindo profissionais de saúde. Stjepan disse:

“Na turnê, se as viagens de avião forem cansativas e tudo o mais, alguém pode ajudar o Paul todos os dias a ir para a cama, a ir ao banheiro e a tomar banho. Um enfermeiro pode visitá-lo sempre que necessário. E na próxima turnê pelo Brasil ele terá um cuidador pessoal, enfermeiros e fisioterapeutas 24 horas por dia, 7 dias por semana.”

Uma turnê brasileira do vocalista prevista para 2024 foi adiada duas vezes por motivos de saúde. A longa sequência de datas deveria ter acontecido no início do ano, mas foi postergada para o período entre maio e julho, também não ocorrendo.

Paz com ex-colegas do Iron Maiden

Em maio de 2022, enquanto se preparava para ser operado em Zagreb, na Croácia, Paul Di’Anno esteve em um show do Iron Maiden e teve a oportunidade de rever o ex-colega e líder da banda, o baixista Steve Harris. Em um momento raro, os dois conversaram sobre futebol e outras amenidades. assistiu ao show do Maiden em seguida. Posteriormente, foi anunciado que a banda cobriria os custos restantes da cirurgia de seu antigo integrante, o que concluiu uma vaquinha realizada online nos meses anteriores. Paul e Steve mantiveram contato esporádico, falando especialmente sobre futebol, a paixão de ambos.

Já no último dia 13 de julho, os fãs foram pegos de surpresa com imagens de Bruce Dickinson e Paul Di’Anno juntos. O vocalista dos primeiros discos do grupo e seu sucessor nunca haviam sido registrados em vídeo ou fotos juntos até então. O ambiente parecia de harmonia, com direito a troca de gentilezas.

Antes do ocorrido, Di’Anno concedeu entrevista ao site Misplaced Straws. Ciente de que o encontro em Zagreb, Croácia, aconteceria em breve, o cantor tratou de criar um clima propício. Sem a língua solta e ferina de outrora, declarou seu respeito pelo colega de profissão.

“Já nos encontramos antes. Vocês, pessoas da imprensa, continuam colocando as coisas, dizendo que há uma guerra entre Bruce e eu. Não há. Sim, somos dois cantores completamente diferentes. Tivemos algumas alfinetadas ao longo dos anos, como uma pequena brincadeira, mas nada espetacular. Vou ver Bruce no sábado. Dar um abraço nele, dizer olá. Ficar juntos por cerca de meia hora. E então farei uma sessão de autógrafos em um clube, além de tocar três músicas do Maiden com uma banda local.”

A turnê final de Paul Di’Anno pelo Brasil

Paul Di’Anno realizou mais de 30 shows pelo Brasil no início de 2023, tendo Noturnall e Electric Gypsy na abertura e músicos dos dois grupos brasileiros em sua banda de apoio. O primeiro compromisso, em Fortaleza, foi marcado por uma série de problemas. A situação foi resolvida ao longo da turnê, como percebido durante apresentações em GoiâniaRio de Janeiro e São Paulo, acompanhadas pelo site.

O ex-vocalista do Iron Maiden tem no Brasil aquele que provavelmente é o seu maior público e chegou a morar por aqui em um período. Ele até arranha o português e adotou o Corinthians como seu time do coração – sem se esquecer do West Ham, de Londres, é claro.

2023 também foi marcado por uma retomada do cantor a uma agenda de turnês mais intensa. O site Setlist.fm contabilizou mais de 75 apresentações ao longo do ano, com passagens por vários países da Europa e Reino Unido, além da América Latina. Em 2024, o ritmo foi reduzido, com 29 apresentações e um comunicado estabelecendo que ele realizaria menos excursões.

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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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