Rush: Geddy Lee admite ressentimento com Neil Peart por aposentadoria

Músico reconhece que conversa mais difícil da banda aconteceu quando o baterista decidiu parar

O último show do Rush aconteceu no dia 1º de agosto de 2015 em Los Angeles. O fim da banda aconteceu por conta de uma decisão do baterista Neil Peart, que não se via mais motivado a continuar na estrada.

Publicamente, os colegas deixaram implícito que compreendiam a decisão. Nos bastidores, no entanto, a coisa não foi bem assim.

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Durante evento em Chicago, promovendo a biografia “My Effin’ Life”, o baixista e vocalista Geddy Lee relembrou o momento prévio à derradeira turnê do trio canadense. E reconheceu que o processo de aceitação não foi dos mais simples. Conforme transcrição do Blabbermouth, ele declarou:

“Acho que a conversa mais difícil que já tivemos foi quando Neil tomou, em sua mente, a decisão de se aposentar. Alex (Lifeson, guitarrista) acabara de passar por uma cirurgia muito séria. Durante as últimas turnês, ele estava sofrendo de maneiras que não falava publicamente, é claro, mas tinha vários problemas intestinais e sua artrite era muito grave. Isso realmente estava afetando suas mãos e sua habilidade de tocar. Então ele estava procurando tratamento e acabou fazendo uma operação muito complicada. Isso foi em 2014. De repente, do nada, Neil disse: ‘Temos que ter uma reunião.’ E nós dissemos: ‘Tudo bem. Quando?’. Ele disse: ‘Bem, na próxima semana. Estou passando pela cidade’. Respondemos: ‘Bem, sim, mas Lerxst [apelido de Alex] acabou de fazer uma cirurgia’. Mas ele insistiu. Era uma reação diferente do seu habitual, então, eu sabia que algo estava em sua mente.”

O encontro, como imaginado, foi tenso, diferente do que o grupo costumava transmitir aos fãs.

“Fomos ao restaurante onde sempre jantávamos e nosso manager estava conosco. Neil basicamente disse que não queria mais fazer turnês: ‘Eu sei que vocês estão planejando uma turnê, mas acho que preciso cuidar da minha nova família em casa’. Porque ele passou por um inferno em 1997, quando perdeu a filha. 10 meses depois perdeu a esposa. Então vagou por aí, como todos sabem se leram o livro ‘Ghost Rider’. Passou pelo inferno. Ninguém deveria ter que passar por isso. Mas redescobriu seu amor por tocar e voltou para nós em 2002. Foi um parceiro fantástico durante esses anos e tocou muito bem. Reinventou todo o seu estilo de bateria. Tanta motivação foi bem-vinda de volta à sua vida. Mas aqui estava ele dizendo: ‘Acho que estou chegando ao fim’. E essa foi uma conversa difícil.”

Decisão final sem imposição

Mesmo assim, a decisão final não seria simplesmente imposta. Coube ao combalido terceiro elemento da conversa dar sua opinião.

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“Neil olhou para Alex e perguntou o que ele achava. Al estava sentado, tendo acabado de ser operado na semana anterior, não se sentindo muito confortável. Ele disse: ‘Bem, olhe, Neil, não sei quantas turnês me restam por causa dos meus problemas. Mas eu realmente gostaria de fazer mais uma’. Neil olhou para mim e disse: ‘F*ck’. Ele não tinha resposta para isso. Então confessou: ‘Uma coisa que eu disse a mim mesmo antes desta reunião foi que se Alex quisesse muito fazer esta turnê, diria que sim’. E foi o que fez. Mas não estava feliz. Voltou para o hotel e me disse por e-mail que havia me enviado um pouco mais tarde: ‘Acho que devo ter dito ‘f*ck’ seiscentas vezes no meu quarto’. Mas também escreveu: ‘Agora tenho uma perspectiva diferente. Em vez de me aposentar, estou resignado a fazer mais uma turnê e torná-la a melhor que poderíamos fazer’. E foi isso. Essa foi a última coisa que tivemos que discutir na carreira.”

Deste modo, não é de se espantar que os sentimentos em relação ao giro final sejam díspares.

“Quando a turnê chegou ao fim, nosso relacionamento estava tenso. A cada show Neil estava ficando mais feliz, enquanto Alex e eu estávamos ficando, bem, menos felizes. O último foi estranho. Nós tocamos com toda a força, com todo o coração em Los Angeles. Perguntei a ele: ‘Bem, você poderia vir à frente e fazer uma reverência? Talvez seja nosso último show.’ Ele disse: ‘Não, eu não faço isso. Não cruzo essa linha invisível.’ Mas ele o fez mesmo assim, porque não resistiu. Deu um abraço em nós e fizemos uma reverência juntos. Mas depois daquele show foi muito estranho, porque não conversamos sobre isso. Ele foi para o seu camarim, que estava entusiasmado e festivo, enquanto nós fomos ver todos os nossos amigos e fingimos que estávamos satisfeitos.”

Ressentimento por tempo limitado

Apesar de não ter declarado ao mundo, Geddy Lee reconhece que deixou a mágoa falar mais alto nos momentos seguintes à despedida.

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“Voltamos para casa com um estado de espírito muito triste e fiquei ressentido, para ser honesto. Adorei aquela turnê e queria levá-la ao redor do mundo, mas Neil só concordou com alguns shows e não cedeu. Apenas cerca de três meses depois voltamos a conversar por e-mail, porque tínhamos que terminar o álbum ao vivo que estávamos fazendo, o vídeo da turnê ‘R40’. Lembro de escrever e dizer: ‘Cara, acabei de ouvir seu solo de bateria. Foi incrível. Que noite você escolheu para isso?’. Só então as comportas se abriram e começamos a conversar. Ele disse: ‘Uau, não acredito que você está dizendo isso. Fiquei me perguntando durante toda a turnê se alguém estava gostando do meu solo de bateria’. Quero dizer, sério? Eu assistia ao solo de bateria todas as malditas noites. Como ele poderia imaginar que eu não o admirava todas as malditas noites? Mas ele começou a abrir seu coração, dizendo: ‘Estou tão feliz agora. Eu tenho uma nova vida’. E pensei comigo mesmo: que tipo de amigo sou eu para invejar isso depois de tudo que ele passou? Então foi curativo ter essa conversa. E eu segui em frente e estava meio que aceitando agora. E eu o entendi melhor.”

Como sabemos, tudo mudou quando Peart foi diagnosticado com o câncer cerebral que o levaria no início de 2020.

“E então, é claro, o destino pregou uma peça horrível nele. Recebi um e-mail naquele mês de setembro, enviado para mim, Alex e nosso empresário, dizendo que ele tinha um tumor cerebral. ‘Uau . E agora?’ Nada mais importava. E ele foi forte como um touro, lhe deram 18 meses e durou 3 anos e meio.”

Geddy Lee, Alex Lifeson e Rush

Atualmente, Lee e Lifeson discutem a possibilidade de voltar à estrada juntos, tendo outro baterista e tocando material do Rush. Porém, de acordo com os próprios, tudo está no patamar de especulações até o momento.

O frontman seguirá divulgando sua biografia pelos próximos meses. Discute-se a possibilidade de uma vinda ao Brasil em 2024.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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