Os melhores discos de 2023 na opinião de Vagner Mastropaulo

Colaborador do site apresenta até mesmo a conta de quantos álbuns e EPs — além de trabalhos de covers, regravações e ao vivo — que ouviu no ano

Aceita uma confissão? O convite para contribuir com a lista dos melhores discos de 2022 foi um tanto inesperado e o texto precisou ser elaborado às pressas. Escaldado, este escriba passou este ano anotando todos os full-lengths escutados desde janeiro, já compilando dados e redigindo quando algo de qualidade saltava aos ouvidos!

Evidentemente, é impossível acompanhar TUDO que sai e, mesmo assim, chegamos a cento e dez álbuns, mais: quatorze replays deles; dois ao vivo; cinco EPs; três trabalhos de regravações; um de covers; e cento e cinquenta e sete de outros anos que não entram nesta seleção. O número de inéditos em si não impressiona, com média de um a cada pouco menos de três dias e meio… claro, adoraríamos ter engrossado o caldo se não fossem shows e suas resenhas, compromissos profissionais, afazeres caseiros e cuidados com a família, mas somando tudo que escutamos, deu quase um por dia… ainda pouco, não?

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Mesmo assim, é um escopo de respeito e temos consciência de que, no decorrer de 2024, nos depararemos com material que nos fará pensar: “Como isto não foi para a lista?” – sensação tenebrosa ao termos descoberto, apenas em maio último, o ótimo “Lessons Learned”, de Robert DeLeo, a ganhar vida em outubro de 2022… por fim, a impressão geral é de que foi mais simples apontar uma dezena de discaços no ano passado, com 2023 gerando um pouco mais de esforço… para você também? Enfim, divirta-se com as escolhas abaixo:

Os melhores discos de 2023 na opinião de Vagner Mastropaulo

10) Arielle – “’73” (blues rock)

Que tal um pouco de blues rock só para sair da mesmice? O resgate de Arielle ao passado já se dá na capa e certamente colecionadores de carros antigos babaram com a Kombi 1973 nos Estados Unidos (aqui ela só chegaria anos depois, pois, no ano, tínhamos apenas o modelo “Corujinha”) ali atrás dela. E quebrando paradigmas, ela se utiliza de uma intro ao vivo, “The Dulcet”, preparando terreno para “Somewhere Slow”, com um quê de ZZ Top repaginado na guitarra da americana originária de New Jersey, porém criada na Califórnia e no Havaí. Se “Goes Without Saying” e “The Way You Look At Me” metem o pé no freio, o ritmo volta a acelerar na puramente instrumental “Calypso”. Aos trinta e três anos e chegando ao quarto álbum (fora dois EPs), “’73” finalmente trouxe a exposição merecida a Arielle, mas anote com carinho o nome dela, pois mais está por vir.

9) The Inspector Cluzo – “Horizon” (blues rock)

Hoje em dia as informações chegam até nós e mal nos damos conta de como. Foi assim que este escriba se deparou com o duo The Inspector Cluzo, formado em 2008 em Mont-de-Marsan: um anúncio se destacou em alguma matéria num site especializado brasileiro e brotou o nome do grupo baseado no Inspetor Jacques Closeau, personagem eternizado por Peter Sellers. Com títulos variando de apenas um vocábulo, como “Shenanigans”, “Horizon” e “Rockophobia”, a sentenças completas, caso de “Running A Family Farm Is More Rock Than Playing Rock ‘N’ Roll Music”, o nono álbum (incluindo dois acústicos) dos franceses Laurent Lacrouts (vocal/guitarra) e Mathieu Jordain (bateria) imediatamente te fisga e te cativa como um todo, dificultando a tarefa de destacar apenas uma canção. Arrisque! Você não vai se arrepender! Curiosamente, eles tocaram em nosso Lollapalooza de 2019 e no Hellfest do ano passado!!! Você os viu?

8) Sleep Token – “Take Me Back to Eden” (metal progressivo / alternativo)

Referendado por ninguém mais, ninguém menos do que Mike Portnoy como um dos possíveis melhores álbuns do ano ainda em maio, “Take Me Back to Eden” possui uma gama de variações bem interessantes. Agora, se você jamais ouviu falar do Sleep Token, não se sinta mal. Na vertente de “bandas misteriosas”, o grupo britânico é uma colaboração anônima de músicos mascarados regidos pelo frontman autointitulado “Vessel”. Em seu terceiro trabalho, o conjunto começa a deixar a categoria de promessa para se tornar grata realidade e, para apontar um destaque e não passar em branco, que tal começar pela saideira, “Euclid”, com quê de balada?

7) Haken – “Fauna” (metal progressivo)

É fato, sua audição não é tão palatável… ajuda bastante se você for fã de prog metal, pois o Haken segue se superando! Após os excelentes “Vector” e “Virus”, “Fauna” mantém o sexteto inglês entre os grandes nomes do subgênero, embora seja praticamente impossível superar os mestres do Dream Theater. Se, por um lado, “The Alphabet Of Me” soa bem estranha, por outro, tente não bater cabeça na faixa-título ou não curtir “Sempiternal Beings” (que solo!). Há até espaço para a quase balada “Lovebite”, dentro dos parâmetros vigentes, é verdade. De quebra, os caras ainda regressaram a São Paulo em ótimo show no Carioca Club em 01/10 aberto com “Taurus”, além de terem tocado “Elephants Never Forget” e as duas últimas citadas acima.

6) Overkill – “Scorched” (thrash metal)

Top 10 de rock/metal que se preza tem que incluir pelo menos um álbum de thrash, certo? Se na lista de 2022, o Kreator representou o estilo com o portentoso “Hate Über Alles”, desta vez migramos da Alemanha diretamente para os Estados Unidos pousando no vigésimo play do Overkill. Sendo objetivo, nele há tudo que você já conhece, espera e adora: o vocal ardido de Bobby “Blitz” Ellsworth; o baixo cavalar de D. D. Verni; riffs alucinantes de Derek “The Skull” Tailer e Dave Links; e a bateria pulsante e incessante de Jason Bittner. E lembre-se: os caras são uma das tantas atrações confirmadas para o Summer Breeze em março/24 e só nos resta aguardar ansiosamente para conferir o potencial do material selecionado ao vivo! A faixa-título, “The Surgeon” e “Wicked Place” têm figurado em setlists recentes. Serão mantidas?

5) The Winery Dogs – “III” (hard rock / progressivo)

A esta altura do campeonato você já deve estar familiarizado com a química ímpar existente entre Richie Kotzen, Billy Sheehan e Mike Portnoy, mas se ainda não conhece The Winery Dogs, eis uma grande oportunidade. Fiel ao estilo hard rock com pitadas técnicas de prog, “III” possui suas pérolas e “Mad World” seria um bom exemplo. No geral, tente ficar parado durante a audição, pois é seria anormal você não mexer o esqueleto conforme o play avança. E a cereja do bolo foi testemunhá-los abrindo o repertório no Summer Breeze com “Gaslight” e “Xanadu”, além de “Stars”, esta mais para o meio. Ainda não convencido e à procura de outro destaque? “Rise” abre espaço para os três músicos brilharem, nesta ordem: baixo, guitarra e bateria. Agora é contigo conferir!

4) Steve Vai – “Vai/Gash” (hard rock)

Escolha polêmica e talvez caiba recurso, pois, na verdade, o conteúdo desta quarta posição data de… 1991! Fazer o que se foi guardado pelo guitarrista por todo este tempo? O fato é: cronologicamente, o material viria logo após “Passion And Warfare”, de 1990 (estranho, não?). Esclarecendo, o Gash em questão é John Sombrotto, motoqueiro do Queens apresentado ao famoso guitarrista por amigos em comum. Porém, o cara sabia cantar (e como!) e a dúvida persiste: o que mais ele teria gravado caso não tivesse falecido em 1998? Talvez nem lançasse mais nada… jamais saberemos e se você ouvir atentamente o trabalho, desprovido de preconceitos, perceberá seu talento em canções como “In The Wind”, “She Saved My Life Tonight” e “New Generation”. E com apenas oito músicas, sequer dá tempo de enjoar da pegada hard rock da dupla espalhada em menos de meia hora!

3) Foo Fighters – “But We Are Here” (rock alternativo)

Possivelmente o lançamento sob maior expectativa em 2023, “But We Are Here” trouxe Dave Grohl e companhia experimentando o luto já desde a primeira estrofe da faixa inaugural, “Rescued”: “It came in a flash / It came out of nowhere / It happened so fast / And then it was over”. Se, por um lado, os versos são um tremendo tapa na cara relatando a dificuldade em superar a perda de Taylor Hawkins (citado uma única vez durante a apresentação no The Town em 09/09 antes de “Aurora”, a favorita do baterista para tocar, segundo o próprio líder do grupo), por outro, o trabalho não se afunda na tristeza e inaugura a faceta madura do conjunto. A sugestão seria a de repetidas audições para assimilação gradativa, mas “The Glass”, também tocada no festival, é outro ponto alto, bem como o astral para cima de “Under You”.

2) Soen – “Memorial” (metal progressivo)

Sendo sincero: o disco supera “Imperial”? Não! Tampouco decepciona e, se não há uma composição como a maravilhosa “Lumerian”, de seu antecessor de 2021, por exemplo, nenhuma das dez faixas é ruim, lembrando que, entre ambos, os caras ainda se saíram com “Atlantis”, play com treze regravações de material próprio e um cover de “Snuff”, do Slipknot, em versões orquestradas e refinadas registradas ao vivo em dezembro/21 para ganharem vida no ano seguinte. De “Memorial”, “Sincere” traz pitadas iniciais que lembram Tool e ficarão em sua memória (com o perdão do trocadilho), por tempo considerável, bem como as marteladas de “Unbreakable”. Outro grande ponto? A própria “Memorial”! Curiosamente, uma coincidência marca o grupo sueco e o da entrada acima quando o assunto é Brasil: foi devido ao falecimento do baterista e o posterior cancelamento do show que o Foo Fighters faria no Lollapalooza de 2022 em Interlagos que alguns fãs puderam ir ao Carioca Club a fim de conferir a estreia do Soen no país na mesma data. Ah, eles voltam em abril.

1) City and Colour – “The Love Still Held Me Near” (folk / rock alternativo)

Seria vergonhoso em demasia admitir que, por parte deste redator, a descoberta do City and Colour só ocorreu assistindo a um episódio de “Live at Guitar Center Sessions” no Canal Bis em plena pandemia? Subitamente, o início cativante de “Sorrowing Man” foi caminho sem volta e consumir a discografia inteira do projeto de Dallas Green, guitarrista/vocalista do Alexisonfire, tornou-se vital! Em seu sétimo disco, a fórmula intimista e arrastada se mantém e o cara abre o coração e desnuda alma a tal ponto que é certo cravar: haverá identificação do ouvinte com algum dos temas. Carro-chefe e primeiro single, “Meant to Be” talvez seja a grande música, mas o ideal é ouvir tudo na ordem gravada, com vagar, bastante vagar mesmo, lendo as letras, de preferência, pois algo te atingirá em cheio!

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2 COMENTÁRIOS

  1. Vagner meu amigo: a coisa mais rara neste ano é ver o álbum Fauna do Haken em uma lista dos melhores do ano. Só por isso já respeito sua lista e dá para ver que tem ótimo gosto. Pois na minha opinião foi o melhor álbum do ano.
    Vou ouvir de perto o que entrou na sua lista e eu ainda não conheço.

  2. Vagner, finalmente uma lista que trás dois albuns que também estão na minha: Os novos do Haken e do Soen são dois petardos absurdos, e merecem muito mais amor do que receberam esse ano.

    Confesso que não gostei muito do novo do Foo Fighters, mas entendo que tem seus atrativos.

    Agora vou correr e ouvir os que você trouxe aqui e ainda não tive a oportunidade. Quem sabe não atualizo a minha lista aos 45 do segundo tempo? (O que eu já fiz ao ser apresentado ao Altin Gün na lista do Guilherme :D)

    Grande abraço e um feliz ano novo!!!

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