A história real do game Tetris, a ser contada em filme

Game foi criado na União Soviética nos anos 1980 e resultou em uma confusa briga por seus direitos autorais

Até mesmo quem não é um gamer de carteirinha jogou ou, pelo menos, já ouviu falar de Tetris. O famoso e viciante game das peças que caem aleatoriamente foi criado nos anos 1980 na União Soviética. Desde então, ficou famoso em todo o planeta.

Se você sempre teve curiosidade de saber como Tetris foi criado, poderá descobrir os principais detalhes no filme homônimo sobre a história do jogo. A produção do streaming Apple TV+ é estrelada pelo ator Taron Egerton (“Rocketman”, “Kingsman”) e estreia na próxima sexta-feira (31).

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Mas o que poucas pessoas devem saber é que a real história por trás da criação de Tetris envolve muitos detalhes e personagens. A política e os inúmeros problemas envolvendo seus direitos autorais transformaram a chegada do game em outros países numa verdadeira novela que parecia não ter fim.

A seguir, vamos explicar toda essa história real sobre Tetris. São muitos os detalhes e pessoas envolvidas, mas vamos abordar tudo da maneira mais clara e objetiva para você. As informações são da Wikipédia, Collider, The Hollywood Reporter e Screen Crush.

Alexey Pajitnov, o “pai” de Tetris

A história por trás da criação de Tetris começou em 1979, quando o programador soviético Alexey Pajitnov entrou para a Academia de Ciências Soviéticas. Inicialmente, ele foi contratado para testar novos tipos de hardware para computadores, mas sua real ambição era encontrar uma maneira de utilizar as máquinas para deixar as pessoas felizes.

Entrar para a academia significava muita coisa. Quem confirma isso é Armen Sarkissian, físico e cientista de computadores que, entre 2018 e 2022, foi o presidente da Armênia.

Em um texto escrito para o The Hollywood Reporter, Sarkissian – que também fez parte da academia – confirmou que poucas pessoas podiam fazer parte do instituto e que muitos também aproveitavam a oportunidade para criar jogos.

“Como cientistas que foram aprovados para ingressar na academia, éramos meio que uma elite nacional, porque tínhamos uma relativa autonomia e acesso constante a computadores. E desenvolver videogames surgiu como um hobby – um passatempo inteligente que compartilhamos com amigos e colegas.”

Em 1984, Pajitnov não pensou diferente e quis criar seu jogo para computadores. Para isso, lembrou da infância, época em que costumava brincar com pentaminós (peças compostas por cinco quadrados congruentes e conectados).

Neste game, a ideia era fazer esses pentaminós descerem aleatoriamente pela tela, com o intuito de preencher as linhas que estavam abaixo.

Não demorou muito para o programador notar que o jogo ficaria complicado com pentaminós. Então, decidiu transformá-los em tetraminós (com quatro quadrados ao invés de cinco). Foi a partir daí que Pajitnov também deu um nome para o jogo: Tetris – junção das palavras “tetra” (que significa “quatro”) e “tênis”, que era seu esporte favorito.

Pajitnov desenvolveu o game em um computador Electronika 60, que era vendido na União Soviética. Como a máquina não tinha interface gráfica, a primeira versão contava apenas com espaços e colchetes para recriar as formas.

Além de não ter pontuação e níveis, nesta primeira versão as linhas completas pelas peças não desapareciam e logo preenchiam toda a tela. Pajitnov percebeu que isso seria um problema e passou a deletá-las assim que eram devidamente preenchidas – criando, assim, o elemento mais importante de todo o jogo.

Pajitnov completou a primeira versão jogável de Tetris em 6 de junho de 1984 e o apresentou para alguns colegas de trabalho, que logo se viciaram nele. O game se espalhou rapidamente por toda a Academia de Ciências Soviéticas e até mesmo outros institutos semelhantes de Moscou.

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Com a ajuda do jovem programador Vadim Gerasimov, Pajitnov conseguiu adaptar Tetris para o computador pessoal da IBM, um desejo seu, já que ele era mais avançado que o Electronika 60. Foi Gerasimov, que tinha apenas 16 anos na época, o responsável por adicionar cores às peças e um placar com a pontuação.

Tetris para o mundo

Alexey Pajitnov viu que sua criação fez bastante sucesso e tomou a decisão de exportar Tetris para outros países, mas não tinha o conhecimento de negócios necessário para isso. 

Também existia outro empecilho para esta tarefa: as leis de direitos autorais da União Soviética criavam um monopólio do estado sob as patentes e criadores não poderiam lucrar com suas invenções.

No entanto, Pajitnov não desanimou e pediu ao seu supervisor na academia, Victor Brjabrin, que tinha um conhecimento melhor do mundo, para ajudá-lo nesta tarefa que parecia impossível. Em 1986, o chefe do programador conseguiu enviar algumas cópias de Tetris para a desenvolvedora Novotrade, baseada na Hungria, e elas se espalharam pelo país de leste europeu.

Pouco tempo depois, quem descobriu Tetris foi o executivo de vendas Robert Stein, da empresa britânica Andromeda Software, após visitar justamente a Hungria. Stein gostou de Tetris e tentou entrar em contato com a Academia de Ciências Soviética para obter os direitos, mas não teve sucesso.

Stein, então, decidiu falar diretamente com Pajitnov e Brjabrin. As duas partes conversaram via fax e para o executivo (e a visão de mundo ocidental), esses documentos já eram o suficiente para valer como uma espécie de contrato.

Pouco tempo depois, Stein vendeu os direitos do jogo para duas empresas: Mirrorsoft e Spectrum HoloByte, que poderiam explorar Tetris na Europa e Estados Unidos, respectivamente. 

No entanto, Stein logo percebeu que poderia ter sérios problemas por conta do licenciamento: afinal, ele vendeu os direitos de um jogo que, no fundo, não pertencia a ele. 

Desta forma, o executivo voltou a entrar em contato com Pajitnov para formalizar a situação. No final das contas, teve de negociar mesmo com a Elektronorgtechnica (conhecida apenas como “Elorg”), a organização soviética responsável pela importação e exportação de computadores no páis.

Um acordo entre as duas partes foi firmado em fevereiro de 1988. Alexey Pajitnov, no fim das contas, não recebeu um centavo pelas vendas de seu jogo, mas se deu por satisfeito por ter alcançado o que tanto queria:

“O fato de tantas pessoas estarem aproveitando meu jogo é o suficiente para mim.”

Armen Sarkissian também confirmou que as leis de direitos autorais da União Soviética não permitiriam Pajitnov se beneficiar financeiramente de sua criação.

“O que deveria ser dele por direito foi confiscado pelo Estado Soviético, que detinha o monopólio sobre direitos autorais. Até onde eu sei, ele (Pajitnov) não recebeu um mísero centavo.”

Briga pelos direitos de Tetris

Como você já deve ter notado nesta altura do campeonato, Robert Stein – mesmo que sem querer – deu início a uma verdadeira briga confusa com relação aos direitos autorais de Tetris, que ganhava novos capítulos constantemente e parecia não ter fim

Lembra-se da Mirrorsoft e da Spectrum HoloByte, as duas empresas beneficiadas pelo acordo feito com Stein? Foram elas que deram o pontapé nesta história conturbada.

O motivo? As duas empresas também decidiram repassar os direitos de Tetris para companhias japonesas, já que o mercado de games do país asiático vivia um verdadeiro boom na época.

No caso da Spectrum HoloByte, ela fez a venda para a Bullet-Proof Software, que pertencia a um holandês chamado Henk Rogers, que queria justamente explorar o mercado japonês. Guarde bem o nome do empresário, pois ele é de extrema importância para o decorrer desta história.

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Quem também entrou na jogada – por conta do próprio Henk Rogers – foi a Nintendo. A empresa preparava o lançamento do Game Boy, o seu primeiro portátil. O executivo da Bullet-Proof Software viu aí uma oportunidade de obter os direitos do Tetris para portáteis e se aproveitou de sua proximidade com o então presidente da companhia japonesa, Hiroshi Yamauchi, para fazer o negócio andar.

Rogers tomou a iniciativa de ir até a sede da Elorg em Moscou sem marcar uma reunião. A ideia era convencer o presidente da organização soviética, Nikolai Belikov, a fechar negócio com ele.

Neste meio tempo, Belikov também tomou ciência de como a situação envolvendo os direitos autorais de Tetris estava confusa e saindo do controle. Desta forma, decidiu rever os contratos firmados com Robert Stein para conseguir acordos que fossem comercialmente melhores para a Elorg.

Neste intervalo de tempo, Henk Rogers ainda deu outra cartada de mestre: se aproximou do próprio Alexey Pajitnov, que se tornou seu amigo e passou a defendê-lo nessa “guerra”.

Afinal, além do próprio Henk Rogers, Robert Stein e Kevin Maxwell, executivo da Mirrorsoft, também mantinham conversas com a Elorg pelos direitos do jogo.

Após analisar toda a situação, Nikolai Belikov bateu o martelo e procurou Henk Rogers para anunciar que “cancelaria” o acordo firmado com Stein e que a Nintendo passaria a ter os direitos de Tetris para portáteis e consoles. 

Para fazer isso, a Elorg enviou um contrato atualizado e revisado a Stein, que o assinou sem notar a seguinte brecha: uma cláusula afirmou que computadores deveriam ter, obrigatoriamente, uma tela e um teclado para o novo acordo valer. Desta forma, o executivo de vendas perdeu os direitos de Tetris para consoles sem querer e teve de se contentar em tê-los apenas para computadores pessoais. 

Briga na Justiça

Se você achou que o impasse tinha acabado aqui, se enganou completamente: a decisão da Elorg em vender os direitos de Tetris para a Nintendo resultou em mais uma briga que foi parar na Justiça.

Este novo capítulo da história começou em março de 1989, quando a Nintendo solicitou à Atari que parasse a produção da sua versão de Tetris para consoles. No entanto, a concorrente e a Mirrorsoft (que havia vendido os direitos do jogo para a Atari no Japão) alegavam que ainda poderiam explorar o game.

Não deu outra: meses depois, o caso foi parar na Justiça americana. A Atari alegou que o console NES, da Nintendo, seria um computador, já que no Japão ele se chamava “Famicom” (abreviação de “Family Computer”). Assim, ainda poderia continuar a explorar o game.

Mas não adiantou: o juiz do caso declarou que a Mirrorsoft e a Spectrum HoloByte nunca receberam uma autorização explícita de que poderiam explorar Tetris em consoles – apenas para computadores – e a Nintendo ganhou o caso.

A nova vida de Alexey Pajitnov

Com todo esse imbróglio resolvido, Tetris, enfim, estava devidamente licenciado para a Nintendo e ficou ainda mais popular em todo o planeta – muito por conta do Game Boy, que também fez grande sucesso. Por consequência, o próprio Alexey Pajitnov se tornou uma celebridade e passou a ser bastante requisitado para entrevistas após passar um tempo nos Estados Unidos.

Em 1991, Pajitnov decidiu se mudar definitivamente para os Estados Unidos e passou a trabalhar na Spectrum HoloByte. E em 1996, os direitos de sua criação retornaram para as mãos do programador, com o fim do acordo que havia feito com a Academia de Ciências Soviéticas e o novo firmado junto a Henk Rogers.

Os dois, inclusive, decidiram fundar a Tetris Company, empresa criada justamente para poder gerenciar os direitos do jogo para companhias interessadas em explorá-lo – e, com certeza, para evitar uma dor de cabeça igual à essa que tiveram no passado. 

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Augusto Ikedahttp://www.igormiranda.com.br
Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atua no mercado desde 2013 e já realizou trabalhos como assessor de imprensa, redator, repórter web e analista de marketing. É fã de esportes, tecnologia, música e cultura pop, mas sempre aberto a adquirir qualquer tipo de conhecimento.

1 COMENTÁRIO

  1. o game Pong, Tetris, Pac Man e o próprio video game Atari…marcaram muito, foram a base dos jogos atuais, essa é a verdade!!!! Joguei muito Tetris, lembro de uma versão Nintendo DS!!!! Já tinha lido algo sobre o criador do jogo, mesmo assim foi boa essa atualização, valeu!!!!

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