Só 5 não dava: 10 discos para conhecer Eric Clapton

Lista que abrange trabalhos solo e à frente de grupos inclui títulos míticos que ajudaram a definir o blues rock a partir dos anos 1960

Apesar das reivindicações entusiásticas nas pichações dos anos 1960, Eric Clapton nunca foi Deus. Contudo, fez mais do que a maioria para mostrar ao mundo a força do blues, acrescendo-o do viés comercial da música pop branca; um diferencial em relação a seus heróis americanos Muddy Waters e Buddy Guy.

Após cortar um dobrado em bandas de Londres como The Roosters e Casey Jones and the Engineers, o músico nascido em Surrey, Inglaterra, em 30 de março de 1945, se juntou aos Yardbirds em 1964, deixando o grupo quando o sucesso comercial o tirou do caminho mais blueseiro e assumindo as seis cordas nos Bluesbreakers de John Mayall.

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Em 1966, ele era o nome mais celebrado do Cream, power trio de curta duração com o baixista/vocalista Jack Bruce e o baterista Ginger Baker, e, posteriormente, do Blind Faith, criado em parceria com Steve Winwood, do Traffic.

Clapton então tentou se afastar um pouco dos holofotes, primeiro tocando na banda de apoio de Delaney & Bonnie nos Estados Unidos e depois liderando seu próprio grupo, sob o pseudônimo Derek and the Dominos.

Os anos 1970 quase lhe custaram a vida, mas ele não só se livrou do vício em heroína como emplacou grandes sucessos, tornando-se um dos maiores astros da música contemporânea.

Foto: Dave Kaplan

Veja abaixo não por quais cinco, mas por quais dez discos começar a desbravar sua extensa discografia.

Dez discos para conhecer Eric Clapton

The Yardbirds – “Five Live Yardbirds” (1964)

Algumas das primeiras gravações de Eric Clapton estão neste, que é o disco ao vivo de estreia dos Yardbirds. Registrado em março de 1964 no lendário clube de jazz Crawdaddy em Richmond, Londres, “Five Live Yardbirds” captura a energia e o virtuosismo de um dos principais grupos da chamada Invasão Britânica em seu início de carreira, destacando solos de guitarra impressionantes de Clapton.

No repertório, verdadeira mistura de blues, rock e R&B, em covers de artistas como Bo Diddley, Chuck Berry e Howlin’ Wolf — que afirmou que a versão da banda, à época completada por Keith Relf (vocais), Chris Dreja (guitarra base), Paul “Sam” Samwell-Smith (baixo) e Jim McCarty (bateria), para sua “Smokestack Lightning” tornara-se a versão definitiva da música.

John Mayall – “Bluesbreakers with Eric Clapton” (1966)

Quando os Yardbirds decidiram gravar “For Your Love”, Clapton soube que era o começo do fim para ele. “Senti que havíamos nos vendido por completo”, escreve em sua autobiografia (Planeta do Brasil, 2007).

Totalmente desiludido, naquele ponto ele estava pronto para largar de vez o mundo da música. Mas seu equilíbrio voltou em pouco tempo; mais precisamente quando John Mayall, músico de blues com uma reputação sólida e líder de sua própria banda, os Bluesbreakers, ligou e perguntou se Eric estaria interessado em se juntar a seu grupo.

Clapton entrou para Bluesbreakers como guitarrista solo em abril de 1965. Além dele e de Mayall, que cantava, tocava piano, órgão Hammond e guitarra base, o lineup contava com o baterista Hughie Flint, que faria com Tom McGuinness o McGuinness-Flint, e o baixista John McVie, que mais tarde formou o Fleetwood Mac com Mick Fleetwood.

Os quatro precisaram de apenas três dias para gravar o disco apelidado de “The Beano Album” — repare em Clapton lendo um exemplar da revista em quadrinhos na capa —cujo destaque é a versão de “Ramblin’ on My Mind”, de Robert Johnson, na qual John insistiu em que Eric fizesse os vocais.

Cream – “Disraeli Gears” (1967)

Embora estivesse feliz com os Bluesbreakers, Clapton também estava começando a ficar inquieto. Nutria em alguma parte dentro de si pensamentos sobre ser o líder de sua própria banda.

Assim, quando Ginger Baker, então baterista da Graham Bond Organisation, foi vê-lo e conversar a respeito de formar uma nova banda, ele sabia exatamente o que queria fazer. Eric disse que ia pensar, mas que só estaria interessado se Jack Bruce estivesse envolvido; ele tinha visto Bruce e Baker tocarem na banda de Alexis Korner e os achado perfeitos juntos.

A imprensa musical foi à loucura, descrevendo o Cream como o primeiro “supergrupo” da história. “Disraeli Gears”, seu segundo álbum, foi gravado no espaço de uma semana no começo de maio de 1967, em Nova York, com produção de Felix Pappalardi e engenharia de som de Tom Dowd, que viria a se tornar um amigo íntimo e peça fundamental em futuras empreitadas de Clapton.

No repertório do ocupante da 114ª posição no ranking de 500 melhores álbuns de todos os tempos organizado pela revista Rolling Stone, destacam-se “Strange Brew”, “Sunshine of Your Love” e “Tales of Brave Ulysses”.

Blind Faith – “Blind Faith” (1969)

Na primeira vez que o Cream ensaiou, Eric Clapton sentiu falta dos teclados com que havia se acostumado nos Bluesbreakers. Ele tinha alguém em mente desde o início: Steve Winwood, do Traffic. Mas ao tocar no assunto com Bruce e Baker, eles deixaram bem claro que não queriam mais ninguém na banda.

Quando o Cream se separou, porém, Clapton e Winwood, que havia deixado o Traffic, estreitaram os laços. Enquanto bebiam, fumavam e conversavam um monte, também compunham músicas.

Com Baker e o baixista Ric Grech, do Family, começaram a trabalhar dias a fio até tarde da noite. No produtor Jimmy Miller (Rolling Stones) os quatro encontraram a peça faltante para dar foco a músicas como “Presence of the Lord”, “Can’t Find My Way Home” e um cover de “Well, All Right”, de Buddy Holly, que supera a original.

Lançado em agosto de 1969, o LP homônimo de capa controversa foi um enorme sucesso, mas não o bastante para fazer o Blind Faith sobreviver a mais do que sua primeira e única turnê.

Derek and the Dominos – “Layla and Other Assorted Love Songs” (1970)

Uma história de amor persa, “Laila e Majnun”, inspirou o título do único álbum e da principal música do fugaz grupo Derek and the Dominos. Envolvido em um triângulo amoroso com George e Pattie Boyd Harrison, Clapton uniu forças com o baixista Carl Radle, o pianista Bobby Whitlock e o baterista Jim Gordon, músicos estelares que haviam tocado com ele em apoio ao duo Delaney & Bonnie, e elaborou o que a Rolling Stone definiu como “um álbum de blues torturado”, com contribuições significativas do guitarrista convidado Duane Allman, do The Allman Brothers Band.

Clapton escreveu em sua autobiografia:

“Eu havia me convencido de que, quando ouvisse o álbum concluído, com todas aquelas referências à nossa situação, Pattie ficaria tão dominada por meu lamento de amor que finalmente deixaria George e viria para mim para sempre. Ela ouviu, e acho que ficou profundamente comovida pelo fato de eu ter escrito todas aquelas canções sobre ela, mas ao mesmo tempo toda aquela intensidade provavelmente deixou-a morta de medo. Não é preciso dizer que não deu certo.”

Eric Clapton – “461 Ocean Boulevard” (1974)

Durante a fase dos Dominos, Clapton tinha ficado bastante íntimo de Radle. Com ele no baixo, Dick Sims nos teclados e Jamie Oldaker na bateria, Eric, que recém havia tido alta de uma clínica de reabilitação, mudou-se de mala e cuia para Miami — “estar emburacado no meio do nada na Inglaterra era um inferno para mim”, contou — e, com Tom Dowd fazendo a produção e a engenharia de som, gravou em um mês o que muitos consideram seu mais icônico disco solo.

Embora traga na tracklist músicas autorais como “Let It Grow”, “Get Ready” e “Give Me Strength”, foi o enorme sucesso de um cover que fez “461 Ocean Boulevard” estourar. Por mais que Clapton achasse que sua versão de “I Shot the Sheriff”, de Bob Marley, não devesse sequer ser incluída no álbum, não só foi como também a gravadora a escolheu como primeiro compacto, e a música foi direto para o número 1 das paradas.

Eric Clapton – “Slowhand” (1977)

Clapton foi apelidado de “slowhand” — termo utilizado para definir guitarristas que usam uma técnica suave e fluida para tocar — em meados dos anos 1960, quando tocava com os Bluesbreakers de John Mayall. Desde então, o apelido pegou e passou a ser usado para descrever seu estilo de tocar guitarra.

Primeiro disco que Eric fez com Glyn Johns (Eagles, The Rolling Stones) como produtor, “Slowhand” faz jus à definição. Os carros-chefes são “Cocaine” (a mais famosa entre as muitas composições de J. J. Cale incorporadas ao repertório de Clapton) e “Wonderful Tonight” (balada cuja letra fora escrita por ele enquanto esperava a esposa vestir-se para um jantar), dobradinha que está entre as cinco músicas mais executadas ao vivo por Eric em quase seis décadas de carreira. A abordagem “relax” foi tão revigorante que ele tentou replicá-la um ano depois com “Backless”. Em vão.

Eric Clapton – “Journeyman” (1989)

Em “Clapton: A Autobiografia”, Eric aponta seu décimo primeiro álbum solo como um de seus favoritos. Produzido por Russ Titleman, “Journeyman” mistura covers e originais, além de contar com convidados de peso, como George Harrison (autoria, guitarra e vocais em “Run So Far”), Cecil e Linda Womack (que tocam e cantam na sua “Lead Me On”) e Robert Cray, que coescreve “Old Love” e divide os encargos “guitarrísticos” com Clapton nesta e na derradeira “Before You Accuse Me”.

Por insistência de Titleman, talvez antecipando uma nova “I Shot the Sheriff”, Clapton fez versões de “Hound Dog” (Leiber and Stoller) e “Hard Times” (Ray Charles), mas nenhuma delas chegou perto do reconhecimento a longo prazo alcançado por “Bad Love” (parceria de Eric com o guitarrista do Foreigner, Mick Jones), “Pretending” e “No Alibis”, de Jerry Lynn Williams (1948-2005), hitmaker estadunidense cuja folha corrida inclui canções do repertório de B.B. King, Robert Plant e Stevie Ray Vaughan.

Eric Clapton – “Rush: Music from the Motion Picture Soundtrack” (1991)

Em 20 de março de 1991, Conor Clapton, de 4 anos, morreu ao cair da janela do 53º andar de um prédio em Nova York. Seu pai, então, tomou emprestada a progressão de acordes de “Many Rivers to Cross”, de Jimmy Cliff, e compôs a desoladora “Tears in Heaven” para o filho.

Originalmente, a canção jamais se destinou à publicação ou ao consumo público. Sua criação e desenvolvimento mantiveram Clapton vivo através do período mais sombrio de sua vida.

Essa resolução mudou quando Lili Zanuck convidou Eric para fazer a trilha sonora de “Rush: Uma Viagem Ao Inferno”, filme que conta a história de dois agentes da divisão antidrogas da polícia que se tornam viciados. A diretora insistiu para que a música fosse colocada no longa sob o argumento de que ela poderia de alguma forma ajudar pessoas em situação semelhante de luto.

Estrelado por Jason Patric e Jennifer Jason Leigh, “Rush” tornou-se uma espécie de clássico cult. Porém, “Tears in Heaven” foi um tremendo sucesso: a única canção escrita por Clapton a chegar ao número 1 das paradas.

Eric Clapton – “From the Cradle” (1994)

Na sequência de seu retorno aos holofotes com “Tears in Heaven” e “Unplugged” (1992) — vencedor de três Grammys em 1993 e que se tornou o álbum ao vivo mais vendido de todos os tempos, tendo 26 milhões de cópias comercializadas em todo o mundo —, Clapton passaria a maior parte das duas décadas seguintes prestando homenagem aos artistas que lhe influenciaram.

A primeira dessas empreitadas foi “From the Cradle”. Aqui, ele presta tributo a bluesmen como Muddy Waters e Elmore James em versões, segundo consta do encarte do CD, gravadas 100% ao vivo em estúdio.

A recepção não poderia ter sido mais entusiasmada: o disco, lançado em 13 de setembro de 1994, tornou-se seu primeiro álbum de estúdio a chegar ao número 1 desde “461 Ocean Boulevard”, 20 anos antes. Também rendeu a Clapton mais um Grammy, o de Melhor Álbum Tradicional de Blues, em 1995.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

1 COMENTÁRIO

  1. ¨Clapton foi apelidado de “slowhand” — termo utilizado para definir guitarristas que usam uma técnica suave e fluida para tocar — em meados dos anos 1960, quando tocava com os Bluesbreakers de John Mayall. Desde então, o apelido pegou e passou a ser usado para descrever seu estilo de tocar guitarra.¨!!!!! Muito Bom!!!!
    Vendo o clipe Pretending, a introdução engana um pouco…dá a impressão de que Eric Clapton vai dar uma de Yngwie Malmsteen ou seja: chute para cima e aquela rodadinha clássica com a guitarra, sendo que a música em si tem uma pegada um pouco Hard rock, um apitada de Country music e o Blues que é influência dos caras…gosto desse clipe!!!! Eric sofreu por amor, era reservado e estava desenvolvendo o seu estilo de tocar…alé de curtir ser ¨herói¨em algum tempo de sua vida!!!! Entre Eric e Jimmy Page, fico com Eric…muitos vão questionar sobre isso, considero um dos melhores guitarristas da atualidade!!!! Valeu!!!!

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