Como Eric Clapton gravou “Unplugged”, o álbum ao vivo mais vendido da história

Ainda se recuperando da tragédia que lhe tirou seu filho, o guitarrista encerrou o processo de luto no palco

A série MTV Unplugged rendeu momentos históricos para a música – e um deles foi protagonizado por Eric Clapton. A apresentação desplugada feita em 16 de janeiro de 1992 resultou no álbum ao vivo mais vendido da história e em um recomeço para o guitarrista, que ainda se recuperava da perda recente de seu filho Conor, morto em 1991 com apenas 4 anos de idade.

Nos meses posteriores ao falecimento de Conor, Eric fez uma espécie de retiro onde “digeriu” a situação e compôs algumas músicas. Convidado pela MTV para fazer um show acústico, ele enfim pôde retomar sua carreira, mas não sem expressar seu luto através de sua arte – algo que representa alguns dos pontos mais altos de seu “Unplugged”.

- Advertisement -

Os poucos sortudos que presenciaram o show ganharam ingressos sorteados pela BBC Radio 1. O público não sabia ao certo o que era: informava-se no convite apenas a data (16 de janeiro de 1992) e um endereço onde estariam vans para levar todo mundo até um “local secreto”, que era o Bray Studios em Windsor, nas proximidades de Londres.

Eric Clapton unplugged

Na época da apresentação, Eric Clapton era acompanhado por Andy Fairweather Low (guitarra e bandolim), Nathan East (baixo), Steve Ferrone (bateria), Ray Cooper (percussão), Chuck Leavell (piano) e Katie Kissoon e Tessa Niles (backing vocals). O show histórico teve duração de duas horas e um repertório relativamente longo, pois algumas músicas tiveram de ser repetidas durante o processo.

Os trabalhos foram iniciados com “Signe”, instrumental com forte influência de samba e música brasileira. A partir daí, Clapton assumiu o microfone – e parecia feliz em rearranjar alguns clássicos para o formato acústico. O setlist executado foi o seguinte:

  1. Signe
  2. Before You Accuse Me
  3. Hey Hey
  4. Tears In Heaven
  5. Circus Left Town
  6. Lonely Stranger
  7. Nobody Knows You When You’re Down And Out
  8. Layla
  9. Signe – Take 2
  10. My Father’s Eyes
  11. Running On Faith
  12. Walking Blues
  13. Alberta
  14. San Francisco Bay Blues
  15. Malted Milk
  16. Signe – Take 3
  17. Tears In Heaven – Take 2
  18. My Father’s Eyes – Take 2
  19. Rollin’ And Tumblin’
  20. Running On Faith – Take 2
  21. Walking Blues – Take 2
  22. San Francisco Bay Blues – Take 2
  23. Malted Milk – Take 2
  24. Worried Life Blues
  25. Old Love
Leia também:  Por que Toto lançou tantas músicas com nomes de mulheres, segundo Steve Lukather

Desenvolto, Clapton interagiu bastante com o público. Estava tão à vontade que chegou a puxar uma versão improvisada de “Rollin’ and Tumblin’”, de Muddy Waters, que agradou bastante.

O guitarrista só não gostava de ter que lidar com a parte técnica de se gravar um show para a TV. Segundo relatos, irritou-se pelo menos uma vez quando precisou retocar a maquiagem – o que é totalmente compreensível.

As músicas novas

Entre as canções já conhecidas do público, a versão da clássica “Layla” foi um dos grandes destaques. Não à toa, foi divulgada como single para promover o álbum ao vivo.

Mas as novas músicas, feitas durante o já mencionado período de reclusão de Eric Clapton, são os pontos mais altos da performance. Fora a instrumental “Signe”, ele trouxe para o show “Circus Left Town”, “Lonely Stranger“, “My Father’s Eyes” e a famosa “Tears in Heaven” – que até havia sido lançada em gravação de estúdio para a trilha sonora do filme “Rush”, mas ganhou sua versão definitiva no “Unplugged”.

Todas elas vieram carregadas de significado e é visível a emoção de Clapton com a reação do público após cada uma delas. “Signe” foi a primeira música que ele compôs no processo de luto, enquanto “My Father’s Eyes” faz uma ponte entre a perda de Conor e a ausência do pai do próprio Eric em sua criação.

Algumas dessas faixas seriam tocadas pelo guitarrista ao vivo durante toda a década de 1990 antes de ganharem versões em estúdio, no álbum “Pilgrim” (1998). Com essas obras e o “Unplugged” em si, o artista parece ter concluído o processo de luto que enfrentou pela perda do filho.

Leia também:  David Ellefson alfineta Metallica e Megadeth ao elogiar Overkill

O sucesso

O show acústico de Eric Clapton foi transmitido pela MTV poucas semanas depois da gravação, com um setlist reduzido. Fez tanto sucesso que ganhou uma segunda parte, com músicas que não haviam entrado na primeira – e a quantidade de takes extras permitiu isso com folga. Algumas canções não chegaram a ser transmitidas na TV, nem lançadas nas edições em álbum e vídeo.

O disco propriamente dito só saiu em agosto daquele ano. Foi tão bem-recebido que indicou o renascimento de Clapton em termos de relevância. A partir dali, ele voltou a gravar e fazer turnês, retomando inclusive o blues que o tornou famoso em vez de seguir pelo lado mais pop de sua sonoridade.

A tracklist do álbum incluiu as faixas:

  1. Signe
  2. Before You Accuse Me
  3. Hey Hey
  4. Tears in Heaven
  5. Lonely Stranger
  6. Nobody Knows You When You’re Down and Out
  7. Layla
  8. Running on Faith
  9. Walkin’ Blues
  10. Alberta
  11. San Francisco Bay Blues
  12. Malted Milk
  13. Old Love
  14. Rollin’ and Tumblin’

Ao todo, “Unplugged” vendeu 26 milhões de cópias em todo o mundo, sendo 10 milhões apenas nos Estados Unidos, onde recebeu o disco de diamante. No Brasil, foram 700 mil unidades comercializadas, rendendo um disco de platina. Transformou-se, como já mencionado, no álbum ao vivo mais vendido da história.

Era o impulso que Eric Clapton precisava para voltar a fazer música depois de passar pelo período mais sombrio de sua vida.

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Facebook | YouTube.

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioCuriosidadesComo Eric Clapton gravou “Unplugged”, o álbum ao vivo mais vendido da...
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

2 COMENTÁRIOS

  1. Sempre considerei EC um deus da música mas, como pessoa, tem se mostrado um ser humano com todos os seus defeitos. Manifestou- se claramente racista em público e, agora como o pateta do Jokovich, um negacionista, batendo de frente com a ciência.
    Perdeu seu altar para mim. Ficou apenas um excelente músico, a aura se desfez.

  2. Por que My Father’s Eyes não entrou no CD? Entrou no DVD? Tive o CD mas nunca assisti a qualquer vídeo da gravação. Em tempo: o racismo e, agora, seu negacionismo tiram completamente a vontade de ouvi-lo.

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades