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A entrevista de Roger Waters que teria provocado a ira de Polly Samson

Ao jornal alemão Berliner Zeitung, ex-integrante do Pink Floyd se disse mais aberto a ouvir o presidente russo Vladimir Putin, figura principal da invasão à Ucrânia

Polly Samson não poupou críticas a Roger Waters nas redes sociais. Na última segunda-feira (6), pelas redes sociais, a escritora e esposa de David Gilmour chamou o ex-Pink Floyd de “antissemita”, “apoiador de Putin”, “misógino”, “mentiroso”, entre outras ofensas.

Muitos fãs ficaram sem entender a origem do ataque. Ao que tudo indica, as declarações foram motivadas por uma entrevista concedida por Waters ao jornal alemão Berliner Zeitung.

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Por meio de seu site oficial, o músico postou o bate-papo em inglês. Ele rebateu as frequentes acusações de antissemitismo e reforçou sua posição de boicote a Israel. Além disso, agradeceu aos fãs europeus e afirmou que “a verdade nos libertará”:

“Tendo como pano de fundo a desprezível campanha de difamação por Israel para me denunciar como antissemita, o que eu não sou, nunca fui e nunca serei, contra o fato de tentarem me silenciar porque empresto minha voz à luta de 75 anos por direitos humanos iguais para todos os meus irmãos e irmãs na Palestina/Israel e contra o fato de tentarem cancelar minha série de shows quase esgotados na Alemanha, o jornal Berliner Zeitung publicou, corajosamente, uma entrevista em profundidade comigo.”

A entrevista de Roger Waters

Na extensa conversa em questão, Roger Waters comentou logo no início suas opiniões a respeito de Vladimir Putin, presidente da Rússia. Em março do ano passado, ele escreveu uma carta ao líder político, o chamando de “gângster capitalista neoliberal”, fato trazido à tona.

“Posso ter mudado um pouco de ideia em relação ao ano passado. Tem um podcast do Chipre chamado ‘The Duran’. Os apresentadores falam russo e conseguem ler os discursos originais de Putin. Seus comentários sobre isso fazem sentido para mim. A razão mais importante para o fornecimento de armas à Ucrânia é certamente o lucro para a indústria de armas. E eu me pergunto: Putin é um gângster maior do que Joe Biden e todos os políticos americanos desde a Segunda Guerra Mundial? Eu não tenho tanta certeza. Putin invadiu o Vietnã ou o Iraque?”

Em seguida, ele explicou que está “mais aberto” a ouvir as opiniões do mandatário russo e valorizou algumas de suas atitudes.

“Talvez eu não devesse, mas agora estou mais aberto para ouvir o que Putin realmente tem a dizer. De acordo com profissionais independentes que ouço, ele governa com cuidado, tomando decisões com base no consenso do governo da Federação Russa. (…) Putin sempre enfatizou que não tem interesse em dominar a Ucrânia ocidental, ou invadir a Polônia ou qualquer outro país do outro lado da fronteira.”

Quando perguntado sobre o ataque da Rússia à Ucrânia, Waters fugiu da questão e criticou novamente os Estados Unidos e Joe Biden. Em sua opinião, o presidente americano quer convencer a sociedade de que Putin é “o novo Hitler”.

“Como posso ter certeza de que os Estados Unidos não iniciarão uma guerra nuclear com a China? Eles já estão provocando os chineses ao interferir em Taiwan, eles adorariam destruir a Rússia primeiro. Qualquer um com um pouco de QI entende isso quando lê as notícias e os americanos admitem isso. (…) Acho que se os EUA puderem convencer seus próprios cidadãos e outras pessoas de que a Rússia é o verdadeiro inimigo e de que Putin é o novo Hitler, eles terão mais facilidade em roubar as coisas dos pobres para dar aos ricos e também para promover mais guerras, como essa guerra por procuração na Ucrânia.”

“Lavagem cerebral” no Ocidente

Entrando na questão dos shows, Waters garantiu que não realiza apresentações na Rússia por não ser possível no momento e não por qualquer razão política. Mais uma vez, citou os Estados Unidos.

“Não estou boicotando a Rússia, isso seria ridículo. Eu faço 38 shows nos Estados Unidos. Se eu fosse boicotar qualquer país por motivos políticos, seria os Estados Unidos. Eles são os principais agressores.”

Diante da resposta, o entrevistador Max Kühlem opinou que, ao olhar as situações de forma neutra, Putin seria o verdadeiro agressor. Waters rebateu, mencionando uma “lavagem cerebral” feita pela mídia ocidental.

“O que todos no Ocidente estão ouvindo é a narrativa de uma ‘invasão não justificada’. Qualquer pessoa com metade de cérebro pode ver que o conflito na Ucrânia teve justificativa.”

Por fim, o cantor disse que se considera um “humanista, um cidadão do mundo” e reprovou o governo de Israel. Waters não se apresenta no local e sempre pede para que outros artistas façam o mesmo.

“Na minha opinião, Israel tem o direito de existir desde que seja uma verdadeira democracia, desde que nenhum grupo, religioso ou étnico, tenha mais direitos humanos do que qualquer outro. Mas, infelizmente, é exatamente isso que acontece em Israel e na Palestina. O governo diz que apenas os judeus devem ter certos direitos. Portanto, isso não pode ser descrito como democrático.”

O tweet de Polly Samson

De enorme repercussão nas redes, a mensagem de Polly Samson a Roger Waters diz:

“Tristemente @rogerwaters você é antissemita até o seu núcleo podre. Também um apologista de Putin e um mentiroso, ladrão, hipócrita, sonegador de impostos, dublador de playback, misógino, doente de inveja, megalomaníaco. Chega de suas bobagens.”

Como já mencionado, Waters chegou a se pronunciar com ênfase no início da invasão, se referindo a Vladimir Putin como “gângster capitalista neoliberal”.

Explanou Waters:

“Descobri algo após rolar na cama a noite toda. Nós, da esquerda, muitas vezes cometemos o erro de ainda olhar para a Rússia como uma iniciativa um tanto socialista. Claramente não é. A União Soviética acabou em 1991. A Rússia é o paraíso de um gângster capitalista neoliberal não adulterado, modelado durante o tempo de sua horrível reestruturação sob Boris Yeltsin (1991-1999) nos Estados Unidos da América.

Não deve surpreender que seu líder autocrático e possivelmente desequilibrado, Vladimir Putin, não tenha mais respeito pela Carta da ONU e pelo direito internacional do que os presidentes recentes dos Estados Unidos ou primeiros-ministros da Inglaterra tiveram (por exemplo, lembre-se de George W. Bush e Tony Blair durante a invasão do Iraque).”

Posteriormente, Waters ainda publicou uma carta aberta ao líder russo pedindo que uma solução para o confronto fosse encontrada. Porém, também é verdade que o músico tem sido bem menos combativo em comparação a outros conflitos históricos nos quais se envolveu enquanto voz de ressonância mundial. Antes de se posicionar, chegou a ser cobrado pelos fãs para dar sua opinião a respeito do tema. Mesmo após falar sobre a situação, também se manifestou de forma crítica à Ucrânia e especialmente aos Estados Unidos. Por tudo isso, teve shows cancelados na Polônia durante sua recente turnê da Europa.

Já David Gilmour, cuja nora é ucraniana, teve como principal manifestação a música “Hey Hey Rise Up”, onde se reuniu ao baterista Nick Mason. A primeira composição do Pink Floyd em quase trinta anos teve sua arrecadação totalmente revertida a entidades que prestam ajuda humanitária aos ucranianos.

Em março do ano passado, antes de divulgar a faixa, Gilmour declarou pelas redes sociais:

“Soldados russos, parem de matar seus irmãos. Ninguém sairá vitorioso dessa guerra. Putin deve deixar seu cargo. Minha nora é ucraniana. Minhas netas querem visitar e conhecer seu lindo país. Parem com isso antes que tudo seja destruído.”

David Gilmour, Roger Waters e Pink Floyd

Nos últimos tempos, as brigas entre Roger Waters e David Gilmour não têm sido tão constantes. Em 2018, os dois (e o baterista Nick Mason) chegaram a publicar uma carta de apoio à Palestina, assinada como Pink Floyd. Politicamente falando, a dupla se posiciona à esquerda, com David sendo apoiador público do Partido Trabalhista britânico.

Uma exceção recente foi a discordância de ambos em relação ao encarte do relançamento celebrando 45 anos do álbum “Animals”. O guitarrista desaprovou os textos escritos por um jornalista a pedido do baixista e vocalista. A situação gerou um conflito de versões através da imprensa especializada.

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Maria Eloisa Barbosa
Maria Eloisa Barbosahttps://igormiranda.com.br/
Maria Eloisa Barbosa é jornalista, 22 anos, formada pela Faculdade Cásper Líbero. Colabora com o site Keeping Track e trabalha como assistente de conteúdo na Rádio Alpha Fm, em São Paulo.

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