Crítica: “Better Call Saul” chega ao fim e marca sua história na TV

Após seis temporadas impecáveis, série é concluída com resultado mais do que correto e ritmo que permite apreciar cada detalhe

Há alguns anos, em uma mesa de bar, eu e um amigo tentávamos decidir a lista das 10 maiores séries de todos os tempos. Colocamos obras como “The Office”, “Game of Thrones” e “Família Soprano”, nomes muito debatidos com relação às suas posições ou mesmo entradas no ranking. Porém, um título em especial não precisou de qualquer argumento para ser colocado no topo do levantamento: “Breaking Bad”.

Entretanto, a lista nascida no boteco precisa passar por alterações. É fora de questão que, após seis temporadas, “Better Call Saul” não esteja nela.

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É verdade que o spin-off também criado por Vince Gilligan sobre o infame advogado pode não ter conseguido alcançar o patamar e a popularidade de sua obra de origem. A comparação é até injusta. Todavia, é uma obra que vai marcar para sempre a história da televisão como um todo.

Quem foi Jimmy McGill?

“Breaking Bad” é uma verdadeira obra de arte televisiva. Seja pela história, o desenvolvimento dos personagens, atuações, fotografias, diálogos… daria para ficar dias listando as perfeições deste seriado que bateu vários recordes e que, felizmente, não acabou quando terminou.

Em 2019, conhecemos o desfecho do personagem Jesse Pinkman (Aaron Paul) em “El Camino”. O filme é apenas um pouco acima da média, oferece um destino justo ao sofrido comparsa de Walter White (Bryan Cranston). talvez, de forma justa, entrega um destino merecido ao sofrido personagem. Mas foi em 8 de fevereiro de 2015 que Vince Gilligan iniciou, em “Better Call Saul”, sua jornada para nos contar sobre o passado, presente e futuro de outra importante figura da trama original: James Morgan “Jimmy” McGill. Ou melhor: Saul Goodman, interpretado por Bob Odenkirk.

Em seis temporadas, a série derivada apresentou duas linhas de tempo distintas. Uma, em preto e branco, traz um vislumbre da vida de Saul Goodman após os eventos de “Breaking Bad”. Com pequenas pinceladas, Gilligan nos preparou durante anos para adentrarmos nas cores mortas onde está o presente e o destino deste personagem após a metanfetamina azul surgir em sua vida. Já em cores vivas, voltamos a seis anos antes de toda a trama original para conhecermos a origem do advogado.

Em tempos de inquietude e imediatismo, boa parte do público não tem mais tempo ou paciência para acompanhar um desenvolvimento de história e personagens de forma lenta e detalhista. Parece que a todo momento o telespectador precisa de um dragão cuspindo fogo para se manter acordado. Por esse motivo, infelizmente, “Better Call Saul” deixou de atingir patamares maiores de popularidade e acumulou injustiças em sua trajetória.

A série é lenta e tem momentos muito bem selecionados para oferecer aquela sensação tão pulsante e angustiante que só o universo de Walter White poderia proporcionar. É um ritmo diferente do imaginado, mas é o que nos permite apreciar cada detalhe como se estivéssemos diante de uma das melhores safras de vinho de todos os tempos.

Também é importante destacar que “Better Call Saul” pode ser definida, antes de tudo, como um estudo sobre personagens. Jimmy McGill é complexo: quebrado, traumático, sujo e humano. Trata-se de um personagem que demanda seis temporadas calmas, pois nenhum detalhe pode ficar de lado.

Dar uma chance para esse andamento mais arrastado é quase como um exercício de evolução pessoal dentro da arte. Você aprende a ter uma nova visão do que é construir uma história, independentemente de firulas.

“Better Call Saul” para público, crítica e premiações

Apesar dos críticos serem quase unânimes quanto à qualidade, “Better Call Saul” não é o tipo de série que toma as mesas de bares ou rende prêmios. Dá até para pensar que houve o azar de se ter pego uma época complexa para se competir, mas “Breaking Bad” disputou (e se destacou) em tempos de “Game of Thrones”, “House of Cards” e “Mad Men”.

Além do ritmo lento, alguns olhares preconceituosos sobre determinados personagens impediram que o spin-off encontrasse seu lugar ao sol. No entanto, o ano final já rendeu alguns prêmios e pode oferecer outros à equipe. Talvez o fator “última temporada” permita a correção de algumas injustiças, pois o que é feito aqui por Bob Odenkirk, Rhea Seehorn (Kim Wexler), Jonathan Banks (Mike Ehrmantraut), Michael McKean (Charles McGill) e Giancarlo Esposito (Gustavo Fring) é digno de aplausos.

Vale ainda uma menção honrosa aos trabalhos de Patrick Fabian como Howard Hamlin, Michael Mando como Nacho Varga e o surpreendente ex-vilão de “Rebeldes” Tony Dalton como Eduardo “Lalo” Salamanca. Sim: quase 20 anos atrás, Dalton começou atuando na novela mexicana; hoje, brilha no universo “Breaking Bad” e ainda faz parte da Marvel como o espadachim em “Gavião Arqueiro”.

10 séries para ver antes de morrer

Não é nada fácil criar listas, já que elas podem mudar a qualquer momento. Infelizmente não será hoje que vocês terão o deleite de debater sobre a minha, mas saibam que “Breaking Bad” está em primeiro no ranking das minhas séries preferidas e “Better Call Saul”… em algum lugar entre os outros nove.

Todas as seis temporadas de “Better Call Saul” já estão disponíveis na Netflix. Vale o seu tempo, inclusive pelo final, que se dá de forma justa – não para Saul Goodman, mas a série não é sobre ele e sim sobre Jimmy McGill. Para McGill, o encerramento é pra lá de justo.

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Raphael Christensen
Raphael Christensenhttp://www.igormiranda.com.br
Ator, Diretor, Editor e Roteirista Formado após passagem pelo Teatro Escola Macunaíma e Escola de Atores Wolf Maya em SP. Formado em especialização de Teatro Russo com foco no autor Anton Tchekhov pelo Núcleo Experimental em SP. Há 10 anos na profissão, principalmente no teatro e internet com projetos próprios.

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