10 curiosidades sobre “Physical Graffiti”, o auge do Led Zeppelin

Ambicioso álbum duplo busca inspiração na música árabe e inclui participação de um Rolling Stone

“O auge do Led Zeppelin e é, até hoje, um álbum estonteante”, escreveu Stevie Chick, em texto publicado no compêndio “1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer” (Editora Sextante, 2007), sobre “Physical Graffiti”. Lançado em 24 de fevereiro de 1975 — quase dois anos após seu predecessor —, o sexto álbum do conjunto formado por Robert Plant (voz), Jimmy Page (guitarra), John Paul Jones (baixo) e John Bonham (bateria) confirmou de modo final que aquela banda era mais do que um velho supergrupo.

Estão listadas abaixo dez curiosidades sobre este colosso do rock.

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10 curiosidades sobre “Physical Graffiti”, do Led Zeppelin

Um selo para chamar de seu

O trabalho foi o primeiro a sair pelo seu próprio selo, Swan Song. Subsidiária da Atlantic Records, a gravadora criado em janeiro de 1974 e inaugurado oficialmente quatro meses depois. Ao ser perguntado do porquê do nome, que em português significa “O Canto do Cisne”, Jimmy Page explicou:

“Dizem que, ao morrer, o cisne emite o som mais bonito.”

Ao contrário da Rolling Stones Records, fundada pelos Rolling Stones em 1970, a Swan Song, segundo Robert Plant, “não é uma coisa de ego”.

“Vamos desenvolver e contratar outros grupos. Não começamos o selo para ter mais grana. Quer dizer, o que faríamos com ainda mais grana?”

A primeira providência foi a contratação do Bad Company, do cantor Paul Rodgers, cujo álbum de estreia alcançaria o primeiro lugar nas paradas americanas.

Festa estranha com gente esquisita

A capa inovadora, composta de janelas recortadas que revelavam uma imagem impressa na parte interna, foi projetada para literalmente convidar o ouvinte a participar de uma “festa estranha com gente esquisita”. Os “convidados” incluíam Flash Gordon, King Kong, a atriz Elizabeth Taylor e a Virgem Maria.

A capa de “Physical Graffiti”, do Led Zeppelin
A parte interna de “Physical Graffiti”

Pensada como uma brincadeira bem elaborada, a capa assinada por Peter Corriston também tinha a intenção de espelhar a vida real cada vez mais bizarra de uma banda de rock. O local retratado existe de fato: trata-se de um edifício localizado em St. Mark’s Place, Nova York.

Sinal de status

Com “Physical Graffiti”, Jimmy Page conseguiu o álbum duplo que sempre desejara. A impressionante quantidade de material disponível foi o principal motivo para que a banda decidisse que aquela era a hora certa, mas não há como negar que álbuns duplos eram sinal de status.

Os exemplos eram diversos: no caso dos significativos “Blonde on Blonde” (Bob Dylan, 1966), “Electric Ladyland” (Jimi Hendrix Experience, 1968) e “Tommy” (The Who, 1969), esses trabalhos consistiam em verdadeiros divisores de água na carreira de seus artistas.

Repertório recauchutado

Das quinze faixas que compõem “Physical Graffiti”, sete estavam prontas desde antes:

  • “The Rover”, “Houses of the Holy” — com referências a Satã e à obra do satanista Aleister Crowley — e “Black Country Woman” foram gravadas nas várias sessões de “Houses of the Holy” (1973);
  • “Down by the Seaside” (dezembro de 1970), “Night Flight” e “Boogie with Stu” (janeiro de 1971) datam da pré-produção de “Led Zeppelin IV” (1971);
  • “Bron-Yr-Aur” remonta aos tempos de “Led Zeppelin III” (1970).
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As oito demais — “Custard Pie”, “In My Time of Dying”, “Trampled Underfoot”, “Kashmir”, “In the Light”, “Ten Years Gone”, “The Wanton Song” e “Sick Again” — foram concluídas rapidamente durante a primavera de 1974.

A peça central…

“Kashmir” foi a primeira música que Page escreveu para o álbum e a que mudou mais vezes até chegar à versão final. Originalmente intitulado “Driving to Kashmir”, o épico de 8min30seg narrou uma viagem que Page e Plant fizeram não à Caxemira — na fronteira da Índia com a China —, mas ao Marrocos, no nordeste da África, em 1973. Como lembra Plant:

“Toda a inspiração veio do fato de que a estrada não ia — ela ia, ia, ia. Era uma rota única que cortava perfeitamente o deserto, e a 3 km tanto a leste quanto a oeste havia montes de pedra arenosa. Parecia que estávamos dirigindo num canal, uma estrada dilapidada sem fim aparente.”

Em entrevista à Guitar World, Page conta de quem foi a ideia de explorar o Marrocos:

“No começo dos anos 1970, concedi uma entrevista ao [escritor] William S. Burroughs, para a revista Crawdaddy!, e discutimos por horas sobre o poder hipnótico do rock e sobre como isso tem a ver com a música dos países árabes. Foi uma observação que Burroughs fez depois de ouvir ‘Black Mountain Side’, do nosso primeiro disco. Ele então me incentivou ao ir ao Marrocos e investigar a música in loco, o que Robert e eu de fato fizemos.”

Até a época do lançamento do álbum, nenhum dos integrantes da banda havia posto os pés na região da Caxemira.

…e também a queridinha

À revista Q, Plant contou que “Kashmir” era sua música favorita do Led.

“É tão certa, não tem nada estourado, nenhum vocal histérico. É perfeita.”

Robert Plant

É também a preferida de Ian Hunter, do Mott the Hoople, que declarou:

“Tem um riff imbatível. Sempre respeitei Robert Plant como cantor. Ele é único.”

Eleita a 148ª maior música de todos os tempos pela revista Rolling Stone, “Kashmir” foi definida como “o mais ambicioso experimento do Led Zeppelin”. A publicação ainda afirmou que “o arranjo de cordas de John Paul Jones foi a cereja do bolo, desabrochando a grandeza da canção.”

Os habituais “empréstimos”

Desde o seu primeiro álbum, em 1969, o Led Zeppelin pega emprestados letras e arranjos de blues das antigas os quais retrabalha e anaboliza a fim de obter rocks de estrutura elementar e temática levemente sacana. Em seu sexto disco não foi diferente.

Creditada a Page e Plant, “Custard Pie”, faixa que abre “Physical Graffiti” é baseada em vários blues, incluindo “I Want Some of Your Pie” (1939), de Blind Boy Fuller, e “Custard Pie Blues” (1947), de Brown McGhee. Na letra, é nítida a associação da torta (“Pie”) ao órgão sexual feminino; recurso semelhante a “Wild Honey Pie”, dos Beatles, e “Cherry Pie”, do Warrant.

Já “In My Time of Dying”, creditada a Page, Plant, o baixista John Paul Jones e o baterista John Bonham, utiliza trechos de “Jesus Make Up My Dying Bed” (1928), música de Blind Willie Johnson que Bob Dylan e até o próprio Plant em empreitadas anteriores ao Led costumavam tocar em suas apresentações. Com 11min06seg, a faixa 3 de “Physical Grafitti” é a mais longa em duração do cânone Zeppeliano.

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Por fim, “Boogie with Stu” nada mais é do que uma versão de “Ooh My Head” do cantor Richie Valens — que, por sua vez, é “Ooh My Soul”, de Little Richard, retrabalhada.

Mas quem diabos é Stu?

Nascido Ian Andrew Robert Stewart em 18 de julho de 1938 em Pittenweem, Escócia, Stu era considerado o sexto Rolling Stone. Mesmo após ser decidido que sob nenhuma circunstância ele deveria aparecer em fotografias da banda ou subir ao palco com ela, continuou fazendo parte do time, tocando piano, órgão, piano elétrico e percussão em todos os álbuns dos Stones lançados entre 1964 e 1986, exceto “Their Satanic Majesties Request” (1967), “Beggars Banquet” (1968) e “Some Girls” (1978).

Além de “Boogie with Stu”, Ian Stewart tocou piano na clássica “Rock and Roll” (de “Led Zeppelin IV”). Morreu em decorrência de um infarto fulminante aos 47 anos em 12 de dezembro de 1985.

Sucesso comercial imediato

Primeiro álbum a ganhar disco de platina somente na pré-venda, “Physical Graffiti” foi o único do Led Zeppelin a ir direto para o topo das paradas, duas semanas depois de seu lançamento. Logo na sequência, levou todos os cinco álbuns anteriores da banda com ele, colocando-os de volta na parada da Billboard e tornando o Led a primeira banda a ter seis álbuns no top 200 simultaneamente.

Hoje em dia, com mais de 8 milhões de cópias vendidas só nos Estados Unidos, “Physical Graffiti” é detentor de oito discos de platina duplos pela Recording Industry Association of America (RIAA).

Turnê curta, porém memorável

“Physical Graffiti” manteve o Led Zeppelin na estrada de 1º de janeiro de 1975 a 27 de março daquele ano. Exceto por um show na Holanda e outro na Bélgica, todos as 38 datas foram realizadas em solo americano, incluindo performances hoje em dia guardadas como históricas no Nassau Coliseum de Nova York (dias 13 e 14 de fevereiro) e no The Forum de Los Angeles (24, 25 e 27 de março).

Embora não seja considerada parte da turnê de “Physical Graffiti”, a temporada de cinco shows diante de 85 mil fãs, no Earls Court, em Londres, é amplamente aceita como o registro oficial daquela época. Trechos das apresentações, que incluíam uma seção acústica na qual Page, Plant e Jones resgatavam músicas como “That’s the Way” (de “Led Zeppelin III”) e “Going to California” (de “Led Zeppelin IV”), podem ser assistidos no disco 2 do DVD “Led Zeppelin” (2003).

Led Zeppelin — “Physical Graffiti”

Lançado em 24 de fevereiro de 1975.

  1. Custard Pie
  2. The Rover
  3. In My Time of Dying
  4. Houses of the Holy
  5. Trampled Under Foot
  6. Kashmir
  7. In the Light
  8. Bron-Yr-Aur
  9. Down by the Seaside
  10. Ten Years Gone
  11. Night Flight
  12. The Wanton Song
  13. Boogie with Stu
  14. Black Country Woman
  15. Sick Again

Músicos

  • Robert Plant (vocal, gaita)
  • Jimmy Page (guitarra, violão, lap steel, slide guitar)
  • John Paul Jones (baixo, bandolim, violão, teclados)
  • John Bonham (bateria, percussão)

Músico adicional:

  • Ian Stewart (piano em “Boogie with Stu”)

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

1 COMENTÁRIO

  1. Cara!!! Que matéria fantástica!! Eu diria estupenda!!! Estou com 59 anos, Zeppeliano desde os 14 e Nunca tinha lido uma matéria tão bela e completa!! Parabéns!!

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