Por que “There is Nothing Left to Lose” é o melhor álbum do Foo Fighters para Dave Grohl

Disco marcou época de mudanças positivas e estabilidade para a banda, agora com estúdio próprio e disposição para experimentar

O Foo Fighters subiu consideravelmente de status ao longo das últimas duas décadas, mas para Dave Grohl, o melhor trabalho da banda foi feito ainda nos primórdios. “There is Nothing Left to Lose”, terceiro álbum do grupo, marca o início de uma nova fase para o grupo e traz boas lembranças a seu líder até os dias de hoje.

Com o fim do Nirvana, Grohl deu início a um projeto que surgiu despretensiosamente. Ele mesmo gravou todos os instrumentos do trabalho, que seria lançado como o disco “Foo Fighters” (1995), antes de reunir uma banda. A formação mudou logo antes de ser gravado o segundo álbum, “The Colour and the Shape” (1997), e voltaria a ser alterada no início do período de produção de “There is Nothing Left to Lose”.

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Nada a perder para Dave Grohl

Àquela altura, o Foo Fighters não tinha um segundo guitarrista. Pat Smear, colega de Dave Grohl no Nirvana e responsável por “The Colour and the Shape”, havia saído da banda. Seu substituto, Franz Stahl, foi dispensado pouco antes do início das gravações – para a tristeza de Dave, que era amigo de infância do cara.

A boa notícia é que agora o grupo tinha um baterista: Taylor Hawkins, liberando Grohl para as funções de frontman. O baixista Nate Mendel completava o time.

No entanto, além da baixa na formação, os Foos acabavam de encerrar seu contrato com a Capitol Records. O acordo de distribuição só seria válido se Gary Gersh continuasse como presidente da gravadora, mas ele saiu em 1996.

Dessa forma, Dave e seus parceiros estavam livres – para o bem e para o mal. Nessa pegada, o líder do grupo tomou uma decisão que mudaria os rumos do projeto: após 3 anos praticamente morando em seu carro, em Hollywood, ele se mudou para a cidade de Alexandria, no estado americano da Virgínia, sua terra natal.

Ali, o vocalista e guitarrista começou a montar aquele que seria o novo QG do Foo Fighters.

606

Dave Grohl comprou uma casa perto da escola onde estudou e construiu um estúdio, o 606, com a ajuda do produtor Adam Kasper, que já havia trabalhado com o Nirvana e assinaria a gravação de “There is Nothing Left to Lose”. Com o fim da obra, o frontman começou a gravar junto de Taylor Hawkins e Nate Mendel.

Em entrevista à Kerrang!, no ano de 2006, Grohl relembrou o período de felicidade que vivenciou enquanto fazia “There is Nothing Left to Lose”.

“(O 606) Era aquele lugar onde você pode sentar e relaxar porque houve tanta loucura nos últimos três anos. E naquele ponto era eu, Taylor e Nate e éramos melhores amigos. Foi uma das épocas mais relaxantes de toda a minha vida. Tudo o que fazíamos era comer chili, beber cerveja e uísque e gravar sempre que queríamos.

Quando ouço ‘There is Nothing Left to Lose’, volto totalmente para aquele porão. Lembro de como cheirava e como era na primavera, com as janelas abertas. Fazíamos os vocais até que você pudesse ouvir os pássaros no microfone.”

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O som de There is Nothing Left to Lose

De fato, “There is Nothing Left to Lose” é um dos melhores trabalhos do Foo Fighters. Com a presença de Taylor Hawkins, que é um baterista de mão cheia, Dave Grohl pôde se concentrar mais nos vocais e guitarras. Deu certo.

A falta de um contrato com gravadora também ajudou. Livre de pressões e amarras, a banda entregou um álbum mais experimental e não precisou se preocupar tanto com prazos ou objetivos. Eles acabaram assinando um acordo de distribuição com a RCA (o lançamento é do selo próprio do grupo, Roswell), mas só depois que o trabalho já havia sido concluído.

Dos cinco singles lançados desse disco, certamente “Learn to Fly” é o mais famoso deles. Curiosamente, não é uma das faixas favoritas de Grohl, conforme ele revelou ao The Guardian em 1999. Já recentemente, em entrevista ao programa de Kelly Clarkson, ele revelou que a letra aborda simplesmente seu desejo de aprender a pilotar avião – ou seja, nada de significados ocultos.

“Não quero cortar seu barato, mas na época eu queria me tornar um piloto! Eu queria aprender a voar! É isso. Sinto muito. É disso que estou falando. Descobri que havia matemática envolvida e desisti. A letra é porque quero aprender a ser um piloto, mas você está cantando porque tipo: ‘sinto-me tão inspirada pela vida’ e tudo o mais. Entende?”

Outro destaque é a faixa de abertura e também single “Stacked Actors”, uma crítica ao estilo de vida de Hollywood. Alguns versos são claras alfinetadas a um grande desafeto: Courtney Love, vocalista do Hole e viúva de Kurt Cobain com quem Dave se desentendeu ao longo dos anos.

Os outros singles do álbum foram “Breakout” (que entrou para a trilha do filme “Eu, Eu Mesmo e Irene” e ganhou um clipe sensacional), “Next Year” e “Generator” (esta, promovida apenas na Europa). Há, ainda, faixas de destaque como “Aurora” e sua atmosfera envolvente, “Gimme Stitches” e sua pegada que coloca o baixo de Nate Mendel como destaque, “Headwires” e seu groove caprichado… e por aí vai.

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O primeiro Grammy

Hoje em dia, o Foo Fighters não é tão alheio assim ao Grammy, maior premiação da música: os caras já levaram 12 gramofones para casa, incluindo 4 de Melhor Álbum de Rock. Entretanto, o primeiro deles foi com “There is Nothing Left to Lose” – e logo em dose dupla, como Melhor Álbum de Rock e Melhor Clipe (com “Learn to Fly”).

Em 2012, falando ao Boston.com, Dave Grohl relembrou da felicidade que sentiu ao vencer o Grammy pela primeira vez. O sentimento do vocalista resume bem o que o álbum representa para o Foo Fighters.

“Quando vencemos como Melhor Álbum de Rock, com o que fizemos no porão, fiquei tão orgulhoso – porque o fizemos no meu porão, com um estúdio caseiro ruim que montamos nós mesmos. Fiquei lá olhando para todo mundo em seus fraques e diamantes e casacos de pele, e pensei que provavelmente éramos a única banda que ganhou um Grammy aquele ano por um álbum feito de graça em um porão.”

Comercialmente, o álbum também foi um sucesso, com 1 milhão de cópias vendidas nos Estados Unidos e um 10º lugar na Billboard 200. As melhores posições nas paradas foram o 4º lugar no Canadá e o 5º na Austrália. O disco também foi bem na Nova Zelândia, Reino Unido, Noruega e Suécia.

“Learn to Fly”, como já mencionado, tornou-se o grande destaque do trabalho. Foi a primeira música da banda a entrar nas paradas americanas – e logo em 19º lugar, segunda posição mais alta que o grupo conquistou em toda a carreira. Além disso, virou figurinha carimbada em praticamente todo show da banda.

Dali em diante, o Foo Fighters elevou seu status como banda a cada álbum e parece ter se encaixado. Chris Shiflett entrou como guitarrista para a turnê daquele disco e permaneceu. Pat Smear retornou anos depois e os Foos passaram a ter três guitarristas. Mais recentemente, adicionaram ainda um tecladista, Rami Jaffee.

Virou uma superbanda, com álbuns e shows superproduzidos. Certamente, um dos maiores nomes do rock na atualidade. E tudo começou a se encaixar em “There is Nothing Left to Lose”, dos churrascos aos passarinhos.

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição de Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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