Como Axl Rose entrou para o AC/DC – e quais mudanças a banda fez por sugestão dele

Boa parte dos fãs de AC/DC vai se lembrar com carinho de Axl Rose. O vocalista conhecido pelo trabalho com o Guns N’ Roses substituiu temporariamente Brian Johnson, com problemas auditivos, durante parte da turnê do álbum “Rock or Bust”, em 2016.

A lembrança inicial era de tristeza. A notícia de que Brian Johnson seria afastado da tour devido às questões envolvendo sua audição pegou os fãs de surpresa. O carismático vocalista, que faz parte da banda desde 1980, poderia ficar surdo em definitivo se continuasse a fazer aquelas apresentações.

- Advertisement -

Em 2020, à Rolling Stone, Brian Johnson relembrou:

“Foi muito sério. Eu não conseguia ouvir o som das guitarras de forma alguma. Eu estava seguindo literalmente com base na memória muscular e leitura labial. Ficava muito mal com aquela situação nos shows. Não há nada pior do que ficar parado lá e não ter certeza do que está fazendo.”

Na época, o AC/DC já estava sem o baterista Phil Rudd, com problemas na Justiça, tendo sua vaga ocupada por Chris Slade. Perder Brian para o restante daquela tour foi um golpe duro para o guitarrista Angus Young e o baixista Cliff Williams, que já traziam um substituto para o saudoso Malcolm Young na guitarra base: Stevie Young, sobrinho dos próprios Angus e Malcolm.

Faltavam apenas 23 shows para concluir a turnê – dez nos Estados Unidos e 13 na Europa. Dessa forma, os músicos optaram por seguir em frente, cumprindo as datas, para evitar disputas jurídicas em torno de cancelamentos.

Mas quem iria assumir a vaga de Brian Johnson? O caminho antes de chegar ao nome de Axl Rose foi um pouco tumultuado.

Testes

Alguns vocalistas menos conhecidos foram considerados para assumir o microfone principal do AC/DC. Um deles foi o americano Lee Robinson, de uma banda-tributo chamada Thunderstruck.

Lee se recordou de sua audição com o AC/DC em entrevista ao podcast Beyond the Thunder. Ele disse que foi demitido de seu emprego “formal”, como técnico de sistemas de refrigeração, para tentar a sorte com a banda.

Citando ter feito o teste no dia 14 de março de 2016, ele declarou: “Eu pensei que valeria a pena perder meu emprego àquela altura do campeonato.”

Não deu para Lee Robinson, nem para outro candidato cogitado. A voz dos 23 shows seria Axl Rose.

Como Axl Rose se envolveu

Em entrevista ao podcast de Zane Lowe, Angus Young disse que a chegada de Axl Rose foi um “presente dos céus”.

O vocalista do Guns N’ Roses não estava sendo considerado, já que estava em plena turnê de reunião com o guitarrista Slash e o baixista Duff McKagan. Porém, ele ficou sabendo da situação de Brian Johnson e, como grande fã de AC/DC, se ofereceu para ajudar.

“Poderíamos apenas ter dito: ‘vamos cancelar e esperar’. Mas sabíamos que ainda haveria muitas questões relacionadas a seguros e questões legais relacionadas. Alguém sugeriu que a gente convidasse um cantor, fazendo alguns testes. Recebemos uma mensagem dizendo que Axl Rose poderia ajudar, se não interferisse em seus compromissos. Fizemos um ensaio e testamos, e ele se esforçou muito.”

Leia também:  The Edge (U2) é um cientista da guitarra, segundo Max Cavalera

Nem mesmo uma lesão no pé impediu Axl de honrar seus compromissos, pois ele se apresentou sentado em uma cadeira – não era a de Dave Grohl, vocalista e guitarrista do Foo Fighters que emprestou um verdadeiro trono para os shows do Guns N’ Roses.

O primeiro show

Em 7 de maio de 2016, rolou o primeiro show do AC/DC com Axl Rose, em Portugal, abrindo a etapa europeia da turnê.

Ainda em entrevista a Zane Lowe, Angus Young apontou que estava dando “tudo errado” naquele dia, mas a sorte da banda virou de repente.

“No primeiro show que fizemos, que acho que foi em Portugal, estávamos tendo um dia horrível e estava chovendo. Tudo estava dando errado. No último minuto antes do show, o céu clareou, a tempestade passou e subimos ao palco. Ele cantou sentado na cadeira, deu o melhor de si e superamos aquilo. Serei eternamente grato por ele ter nos ajudado com aqueles shows.”

Já naquela apresentação, deu para perceber algumas mudanças no repertório, com a entrada duas músicas da fase Bon Scott, vocalista que gravou os primeiros álbuns do AC/DC. São elas: “Rock ‘n’ Roll Damnation” (que não era tocada ao vivo desde 2003) e “Riff Raff” (ignorada nos palcos desde 1979).

AC/DC mudou com Axl Rose

Como grande fã de AC/DC, Axl Rose não deixaria passar a oportunidade de tocar algumas de suas músicas favoritas com a banda que tanto gosta. Ele é um fã declarado da “era Bon Scott”, então, sugeriu algumas canções que não vinham sendo tocadas com Brian Johnson.

À Rolling Stone, Angus confirmou que Axl era o responsável por indicar as músicas:

“Ele sempre me lembrava das músicas. Na época, eu dizia: ‘sim, acho que tocamos essa daí em algum lugar’. O problema era que ele geralmente dizia isso no dia do show. Ele perguntava: ‘podemos tocar essa?’. E eu falava: ‘oh, tudo bem, vou tentar’. Tive sorte de dar certo. Tenho um técnico de guitarra que tocava em uma banda cover. Eu falava: ‘me diga o primeiro acorde e então eu pego o restante’. Era divertido. Isso também estava nos mantendo atentos.”

Além de “Rock ‘n’ Roll Damnation” e “Riff Raff”, os shows passaram a trazer músicas como “Live Wire”, “If You Want Blood (You’ve Got It)”, “Touch Too Much” e “Dog Eat Dog”. Todas elas gravadas originalmente com Bon Scott.

Vale destacar que as faixas não entraram todas de uma vez. Para não comprometer a divulgação do álbum “Rock or Bust”, excluir grandes hits ou atrapalhar a mecânica de ensaios prévios do grupo, essas canções foram integradas ao repertório gradativamente e não eram todas tocadas em um mesmo show.

Outra mudança que rolou com Axl nos vocais foi a duração dos shows. Conforme levantamento feito pelo Ultimate Classic Rock, o Axl/DC passou a fazer apresentações mais longas, com repertório de 24 músicas que percorriam, em média, 2h30min. Com Brian, eram sempre 20 faixas, chegando à marca de 2h10.

Leia também:  O detalhe incrível que fazia Jimi Hendrix superar outros guitarristas, segundo Eddie Kramer

Compare, a seguir, os repertórios da turnê “Rock or Bust” com Brian Johnson e com Axl Rose.

Brian Johnson (geral):

  1. “Rock or Bust”
  2. “Shoot to Thrill”
  3. “Hell Ain’t a Bad Place to Be”
  4. “Back in Black”
  5. “Play Ball” (até dezembro de 2015) / “Got Some Rock & Roll Thunder” (a partir de fevereiro de 2016)
  6. “Dirty Deeds Done Dirt Cheap”
  7. “Thunderstruck”
  8. “High Voltage”
  9. “Rock ‘n’ Roll Train”
  10. “Hells Bells”
  11. “Baptism by Fire” (até dezembro de 2015) / “Given the Dog a Bone” (a partir de fevereiro de 2016)
  12. “Sin City”
  13. “You Shook Me All Night Long”
  14. “Shot Down in Flames”
  15. “Have a Drink on Me”
  16. “T.N.T.”
  17. “Whole Lotta Rosie”
  18. “Let There Be Rock”
  19. “Highway to Hell”
  20. “For Those About to Rock (We Salute You)”

Axl Rose (show do dia 6 de setembro):

  1. “Rock or Bust”
  2. “Shoot to Thrill”
  3. “Hell Ain’t a Bad Place to Be”
  4. “Back in Black”
  5. “Got Some Rock & Roll Thunder”
  6. “Dirty Deeds Done Dirt Cheap”
  7. “Rock and Roll Damnation” (música nova)
  8. “Thunderstruck”
  9. “High Voltage”
  10. “Rock ‘n’ Roll Train”
  11. “Hells Bells”
  12. “Given the Dog a Bone”
  13. “If You Want Blood (You’ve Got It)” (música nova)
  14. “Live Wire” (música nova)
  15. “Sin City”
  16. “You Shook Me All Night Long”
  17. “Shot Down in Flames”
  18. “Have a Drink on Me”
  19. “T.N.T.”
  20. “Whole Lotta Rosie”
  21. “Let There Be Rock”
  22. “Highway to Hell”
  23. “Riff Raff” (música nova)
  24. “For Those About to Rock (We Salute You)”

O retorno de Brian Johnson

Foto: divulgação

A surdez de Brian Johnson acabou revertida, o que garantiu seu retorno ao AC/DC. O vocalista gravou o álbum mais recente da banda, “Power Up“, que também marcou o retorno de Phil Rudd.

Em entrevista à Rolling Stone, Johnson falou um pouco sobre o método que o fez recuperar sua audição:

“Um expert em audição trouxe uma coisa que parecia uma bateria de carro. Falou que iriam transformar aquilo em miniatura. Levou dois anos e meio. Ele vinha todo mês. Era chato demais ficar com aqueles fios, telas de computador, barulhos. Mas valeu a pena. Ele usou a estrutura óssea do crânio como receptor de som. É tudo o que posso te dizer.”

À Total Guitar, Angus Young confidenciou que nunca pensou em seguir com Axl Rose no AC/DC. O motivo? Ele já tem bastante trabalho com o Guns N’ Roses.

“Essa ideia nunca surgiu. Axl foi muito generoso e nos ajudou a terminar a turnê em uma posição difícil. Ele entrou em contato e disse que poderia ajudar se não interferisse nos compromissos dele. Ele quis aparecer para tentar algumas músicas que ele curtia. Sugeriu músicas que eu não tocava há um bom tempo. Sou muito grato por ele ter se oferecido e nos ajudado, mas ele tinha sua própria vida.”

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioCuriosidadesComo Axl Rose entrou para o AC/DC - e quais mudanças a...
Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Últimas notícias

Curiosidades