O Foo Fighters lançou seu 10° álbum de estúdio nesta sexta-feira (5). Intitulado “Medicine at Midnight”, o trabalho chega a público por meio da RCA / Sony Music.
Produzido por Greg Kurstin em parceria com o próprio Foo Fighters, “Medicine at Midnight” apresenta ao todo nove faixas, totalizando, 37 minutos de duração. O novo álbum sucede “Concrete & Gold”, que saiu em 2017 e também teve suas gravações conduzidas por Kurstin.
A formação da banda é composta por Dave Grohl no vocal e guitarra, Taylor Hawkins na bateria, Chris Shiflett e Pat Smear nas guitarras, Nate Mendel no baixo e Rami Jaffee nos teclados e piano. Há músicos adicionais nos backing vocals e instrumentos extra, mas a ficha técnica completa ainda não foi divulgada – sabe-se apenas que Violet, filha de Dave, participa com vocais de apoio.
Conceito
Em entrevistas recentes, Dave Grohl revelou à rádio Alt 98.7 que “Medicine at Midnight” apostará no groove e será como o “Let’s Dance” (1983), de David Bowie, da carreira deles. O álbum em questão aproximou o Camaleão do Rock a estilos como new wave e pop, sendo chamado de “post-disco music”.
“Ele tem essas músicas na pegada de hinos, grandiosas, para cantar junto. É estranho, pois é quase um álbum de música dance de um jeito estranho – não EDM (electronic dance music), discoteca ou dance moderno. É pelo groove. Para mim, é como o nosso ‘Let’s Dance’, de David Bowie. É o que queríamos fazer, pois o pensamento era: ‘vamos fazer um disco pra cima e divertido’.”
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Sobrenatural
O líder do Foo Fighters ainda contou, em bate-papo com a “Mojo”, que as gravações do disco teriam sido atrapalhadas por forças sobrenaturais. As músicas foram produzidas em uma casa da década de 1940 em Encino, na Califórnia, cujo endereço não foi revelado devido a um acordo de confidencialidade – o dono tenta vender o imóvel.
Grohl comenta:
“No dia seguinte ao início das gravações, todas as guitarras estavam desafinadas. A configuração da mesa de som estava toda desregulada. Algumas gravações estavam faltando e outras que não havíamos feito estavam lá. Eram apenas ruídos estranhos de microfone aberto. Ninguém tocando instrumento, apenas um microfone aberto gravando a sala.”
A banda acabou instalando câmeras para tentar descobrir o que estava acontecendo. E quem procura, acha.
“No começo, nada. Quando estávamos achando que éramos malucos, começamos a ver coisas na câmera que não podemos explicar. Então, descobrimos a história da casa e eu tive que assinar um acordo de confidencialidade com o proprietário, pois ele está tentando vender o lugar. Então, não posso contar, mas essas situações fizeram com que a gente concluísse o álbum rapidamente.”
Ouça “Medicine at Midnight” abaixo, via Spotify ou YouTube. Em seguida, confira resenha sobre o álbum.
Resenha: Foo Fighters se reencontra e aposta no groove em “Medicine at Midnight”
Desde que lançou o histórico álbum “Wasting Light” (2011), um dos melhores álbuns de rock do século 21, o Foo Fighters parecia não se encontrar. Dispostos a não repetir a mesma fórmula daquele disco, os músicos se arriscaram em projetos que não foram tão recebidos pelos fãs.
“Sonic Highways” (2014), o sucessor direto de “Wasting Light”, trouxe uma dinâmica regida pelo documentário de mesmo título que eles produziram. Cada faixa do disco foi gravada em uma cidade diferente nos Estados Unidos, buscando refletir a sonoridade típica daquele local. Eu gostei, mas muitos não curtiram – e eu entendo as razões.
“Concrete and Gold”, por sua vez, aproximou-se de vertentes mais contemporâneas do rock. Enquanto Dave Grohl definiu esse trabalho como “o ‘Sgt. Peppers’ do Motörhead”, muitos preferiram vê-lo como “a versão Imagine Dragons do Foo Fighters” – o que não é um elogio.
Fato é que “Wasting Light” já era um ponto fora da curva na discografia do Foo Fighters, que abandonou sua veia garage rock ainda na metade da década de 2000 para apostar em um som de paletas mais radiofônicas. O pouco elogiado “Concrete and Gold” era apenas uma continuação do projeto iniciado lá atrás, com “In Your Honor” (2005).
Dave Grohl e seus parceiros precisavam de outra tática. Já que eles não querem se repetir, deveriam recorrer a algo que está em falta no rock. E o que não temos no estilo hoje em dia? Isso mesmo: groove. Malemolência. Ritmo.
Hoje em dia, as bandas de rock produzem canções para serem ouvidas em casa ou, no máximo, em um show para bater cabeça e analisar a técnica dos músicos. Não dá para imaginar uma boate tocando uma composição contemporânea do estilo.
Esse foi o ponto de “ataque” do Foo Fighters em “Medicine at Midnight”. Os músicos, de fato, conseguiram construir um material dançante – ao mesmo tempo, não se distanciaram tanto da sonoridade típica da banda. Ao ouvir o disco, dá para notar que há algo diferente, mas também é possível perceber quem está tocando. São aqueles caras de sempre.
Para chegar a esse propósito, houve uma mudança de abordagem nas composições, que estão mais diretas e, claro, focadas no groove. A bateria de Taylor Hawkins, em especial, soa peculiar. O músico se destaca, mas de um jeito diferente – notável por suas linhas e viradas criativas, Hawkins adotou uma postura bem mais econômica, mas focada no ritmo.
Vale destacar que o Foo Fighters soa cada vez mais como o projeto solo de Dave Grohl, que dá as cartas e parece suprimir, ainda que sem intenção, outros destaques individuais. Desta vez, porém, todo o trabalho instrumental parece passar pela bateria de Taylor Hawkins para, a partir daí, direcionar a atuação dos outros músicos e chegar aos bons ganchos melódicos que Grohl nos ofereceu desta vez.
A faixa de abertura, “Making a Fire“, reflete tudo isso – não à toa, é uma das melhores do álbum. Tem refrães grudentos, groove irresistível e backing vocals com pitada gospel. Deveria ter sido lançada como o primeiro single – função exercida por “Shame Shame”, que não me convenceu nas audições iniciais, mas conquistou minha atenção com o tempo. Mais melancólica e centrada no ritmo, traz uma interpretação diferenciada de Dave Grohl. Talvez só poderia ser um pouco mais curta, já que tem poucas variações em arranjos.
Em seguida, há “Cloudspotter“, que até traz alguns elementos do álbum anterior, “Concrete and Gold”, mas com uma pegada mais interessante. Apesar do bom riff nos versos, a faixa só cresce mesmo no refrão – que é quando Grohl arma o berreiro. Balada de caráter pessoal, “Waiting on a War” apresenta um Dave Grohl reflexivo, expressando seu receio de estarmos próximos de uma guerra, causada pelo fato de vivermos tempos cada vez mais divididos. A boa canção é conduzida por violões e com discreta, porém efetiva inserção de instrumentos de orquestra ao fundo.
A faixa-título “Medicine at Midnight” é, talvez, a que mais se enquadre na definição de ser o “Let’s Dance” (David Bowie) da carreira do Foo Fighters. O ritmo dance oitentista/post-disco dos versos convence de primeira. Os backing vocals, muito presentes em todo o álbum, dão outra cara ao refrão. Talvez a gravação pedisse alguns arranjos mais elaborados, mas o raro solo de guitarra lá no miolo parece suprir essa necessidade.
As duas músicas a seguir trazem o que há de mais próximo do Foo Fighters que todos conhecem. “No Son of Mine“, já conhecida do público, é um rock típico dos primórdios da banda, com veia despojada e guitarras na linha de frente. “Holding Poison“, por sua vez, até traz alguns grooves diferentes, mas a estrutura geral, os riffs e a vocalização de Grohl lembram muito o som dos Foos da década de 90.
Penúltima da tracklist, “Chasing Birds” é a segunda e última balada do álbum. De tom mais existencial, traz uma pitada psicodélica em sua construção. Não é tão formatada para rádios, o que é ótimo – em um álbum de conceito tão lapidado, é bom poder ouvir uma faixa diferente dessa ideia inicial.
O encerramento com “Love Dies Young“, outro grande destaque da tracklist, transborda referências ao indie contemporâneo, o subgênero do rock que mais tem composições dançantes nos dias de hoje. Bem completa em sua produção, a faixa traz o que pode ter faltado em alguns outros momentos da audição: arranjos de guitarra grandiosos, que se entrelaçam muito bem com os grooves, e destaque um pouco maior ao baixo.
Ainda não dá para dizer que o Foo Fighters superou o que havia apresentado uma década atrás, em “Wasting Light”. Entretanto, a banda fez o álbum que precisava ser feito neste momento.
Como já apontado, Dave Grohl e companhia atacaram justamente no groove, um ponto que está em falta no rock atual. Lançaram um disco que pode – e deve – ser ouvido em outros ambientes fora do quarto do roqueiro purista.
Claro, nem tudo aqui é perfeito: o assertivo cuidado com os backing vocals também poderia ter se refletido nas linhas de guitarra. Nos parágrafos anteriores, destaquei algumas músicas que pediam arranjos mais pulsantes. Além disso, em certos momentos, a ausência de uma sonoridade presente do baixo do sempre discreto Nate Mendel fez com que o groove ficasse em segundo plano.
Por sorte, esses momentos são raros. E até por ser relativamente curto, “Medicine at Midnight” não tem música ruim. As nove faixas foram bem selecionadas e devidamente trabalhadas. A audição “desce redonda”. Soa como um álbum deveria soar.
Foo Fighters – “Medicine at Midnight”
Dave Grohl (vocal e guitarra)
Taylor Hawkins (bateria)
Chris Shiflett (guitarra)
Pat Smear (guitarra)
Nate Mendel (baixo)
Rami Jaffee (teclados e piano)
01. Making a Fire
02. Shame Shame
03. Cloudspotter
04. Waiting on a War
05. Medicine at Midnight
06. No Son of Mine
07. Holding Poison
08. Chasing Birds
09. Love Dies Young
“Medicine at Midnight” está representado em minha playlist de lançamentos, atualizada semanalmente. Siga e dê o play:
Que baita resenha. Parabéns pela escrita, por mim ficaria o dia todo lendo o que tens a dizer.
Extremamente feliz com seu comentário. Obrigado!