A história de “Contraband”, a pulsante estreia do Velvet Revolver

Explosiva banda de hard rock reuniu três então ex-integrantes do Guns N' Roses ao vocalista Scott Weiland, do Stone Temple Pilots, além do guitarrista Dave Kushner

O Velvet Revolver não foi feito para passar batido – nem mesmo no contexto de seus integrantes. O baterista Matt Sorum, por exemplo, diz que a banda foi “o auge” da vida dele. Já o guitarrista Slash afirma que não tem “nada positivo” para falar do grupo, com exceção do fato de que “algumas coisas boas” foram compostas na época. Sem dúvidas, o projeto causou reações.

Fato é que o Velvet Revolver viveu de seus extremos, dentro e fora do ambiente musical. A banda foi formada em 2002 por três, até então, ex-integrantes do Guns N’ Roses – Slash, Matt Sorum e o baixista Duff McKagan –, ao lado do guitarrista Dave Kushner (Wasted Youth, Duff McKagan’s Loaded, Suicidal Tendencies, etc) e do vocalista Scott Weiland (Stone Temple Pilots), que já não está entre nós, pois faleceu no fim de 2015.

- Advertisement -

Logo que foi anunciado, o Velvet Revolver causou reações bem mistas. Juntar três integrantes de uma banda de hard rock com um vocalista grunge? Trazer ex-músicos de Axl Rose, um cantor de voz aguda, para trabalhar com um barítono? E quem é esse tal de Dave Kushner? Não poderiam ter trazido Izzy Stradlin de volta?

A formação do Velvet Revolver

A última pergunta do parágrafo anterior até tem uma resposta bem elaborada. O Velvet Revolver nasceu, na verdade, após um show em tributo ao então recém-falecido baterista Randy Castillo (Ozzy Osbourne, Mötley Crüe) que contou com a primeira performance conjunta de Slash, Duff McKagan e Matt Sorum desde as suas respectivas saídas do Guns N’ Roses. Na ocasião, eles tocaram com o vocalista Josh Todd e o guitarrista Keith Nelson, ambos do Buckcherry.

Surgiu, então, a ideia de uma banda com os cinco, só que Todd e Nelson acabaram deixando o projeto. Izzy Stradlin, então, foi convidado para tocar. Ele chegou a comentar que poderia assumir os vocais junto de Duff e que todos fariam uma turnê, numa van, em pequenos pubs. Slash relata, em sua autobiografia, que não sabe até hoje se Stradlin estava brincando ou não, mas o guitarrista também abandonou o projeto apenas algumas semanas depois.

Com Dave Kushner na jogada, o grupo saiu em busca deu m vocalista. Travis Meeks (Days of the New), Kelly Shaefer (Neurotica), Sebastian Bach (Skid Row) e Todd Kerns (que se tornaria o baixista da banda solo de Slash no futuro) chegaram a ser testados, enquanto Myles Kennedy (futuramente Alter Bridge e também Slash solo), Mike Patton (Faith No More) e Ian Astbury (The Cult) recusaram seus convites para audições.

O nome de Scott Weiland surgiu devido às origens de Duff McKagan, nascido e criado em Seattle. Inclusive, eles chegaram a tocar em um mesmo evento nos anos 1980, antes da fama e de suas bandas de ofício – Dave Kushner, curiosamente, também tocou no festival local em questão.

A química boa – e a ruim

Em entrevista da época à Knac, Dave Kushner relembrou que a química com Scott Weiland foi “inegável”. “Era ele. Ele chegou, pegou uma demo de nossa música e voltou um dia e meio depois com ‘Set Me Free’, a música da trilha sonora do filme ‘Hulk’. Assim que ouvimos, pensamos: ‘esse é o cara’”, afirmou.

A química interferiu de forma positiva e negativa no Velvet Revolver. Scott Weiland deu, sim, muito certo no projeto, mas um mês após sua entrada, ele foi preso em um acidente de trânsito por dirigir entorpecido e posse de drogas. Acabou entrando na reabilitação e o primeiro álbum da banda teve de ser feito em meio a essa situação turbulenta.

No fim das contas, deu certo: “Contraband” foi lançado em 8 de junho de 2004 e apresentou 13 músicas, incluindo a já mencionada “Set Me Free”, que foi gravada para a trilha sonora do filme “Hulk” – aquele, com Eric Bana, bem antes do Universo Cinematográfico Marvel (UCM) trazer a versão com Mark Ruffalo. Outra música para o cinema chegou a ser gravada na época – um cover de “Money”, do Pink Floyd, para “Uma Saída de Mestre” –, mas ficou fora da tracklist final do disco.

Contraband: acima da média

Embora muito se fale sobre a “seção instrumental” do Guns N’ Roses, “Contraband” destaca a importância de Scott Weiland para o Velvet Revolver. Sozinho, ele assumiu as letras de todas as músicas e deu o tom do trabalho, já que, com exceção de “Dirty Little Thing”, tudo foi composto de forma conclusiva após a sua chegada. Também à Knac, Dave Kushner relembrou: “Fizemos umas 60 músicas com Scott. Claro, estávamos compondo há quase um ano. Quando encontramos Scott, ele ouviu tudo e escolheu seis ou sete músicas em que ele poderia trabalhar. Depois, fizemos outras seis ou sete juntos, com nós cinco no estúdio e foi isso”.

Muitas letras de Weiland são autobiográficas e refletiam o momento turbulento pelo qual sua vida (quase sempre) passava. O vício em heroína inspirou algumas das músicas mais tocantes do disco, como as baladas “Fall to Pieces” e “Loving the Alien”, por exemplo. A aura pesada de faixas como “Do It For the Kids” e “Illegal i Song” também parece ser um “presente” do ex-frontman do Stone Temple Pilots.

Os méritos do instrumental, especialmente do trio ex-GN’R, também são enormes. Além da repercussão midiática que o reencontro gerou, os músicos estavam trabalhando em uma pegada diferente. “Contraband” é, de certo modo, o disco mais pesado em que esses caras tocaram. Os timbres são mais grosseiros, os riffs de guitarra estão na linha de frente – e o instrumento trabalha de forma bem casada com a cozinha –, afinações mais graves foram experimentadas e Matt Sorum, em especial, vivia um grande momento com as baquetas em mãos.

A música de abertura, “Sucker Train Blues”, representa perfeitamente a proposta musical do Velvet Revolver: som pesado e envolvente. Outras músicas que se destacam são o hit “Slither” (que rendeu à banda um Grammy na categoria Melhor Performance de Hard Rock, em 2005), a positivamente enganosa “Big Machine” e seus riffs viscerais em meio a um refrão tão grudento, a cadenciada “Superman” com grande trabalho criativo de Slash, a enérgica “Dirty Little Thing” (única colaboração de Keith Nelson mantida no registro) e as já citadas baladas “Fall To Pieces” e “Loving The Alien”

Como esperado, “Contraband” fez grande sucesso. O álbum vendeu 4 milhões de cópias em todo o mundo, com quase 3 milhões só nos Estados Unidos, e emplacou “Fall To Pieces” e “Slither” nas paradas especializadas em rock, fora o já citado reconhecimento do Grammy para esta última citada. A turnê de divulgação foi um sucesso e contou com quase 200 datas, entre os anos de 2004 e 2005, em quatro continentes: América do Norte, Europa, Ásia e Oceania. Os números impressionaram até mesmo os mais otimistas.

Outro êxito do álbum veio em reconhecimento dos “especialistas”, sejam músicos ou críticos da área, já que o trabalho e o projeto em si foram muito elogiados. Em entrevista à Billboard, Duff McKagan comentou: “Parece que essa banda – a nossa reencarnação em outra coisa – está sendo aceita nesse escalão superior. Tocamos com Elton John e Stevie Wonder, fomos chamados para tocar no Grammy e todas essas outras coisas magníficas. Finalmente, somos respeitados enquanto músicos”.

Born to fail

O Velvet Revolver, porém, nasceu já fadado ao fracasso em termos de longo prazo. As personalidades conflitantes, os problemas com vícios (especialmente de Scott Weiland e Slash) e as eternas comparações com as bandas anteriores dos envolvidos, com destaque às exaustivas menções ao Guns N’ Roses e seu ainda esperado “Chinese Democracy” fritaram e inviabilizaram a existência da banda por mais tempo.

A banda fez apenas mais um álbum (“Libertad”, em 2007) antes de encerrar suas atividades em 2008, com os demais integrantes se voltando contra Scott Weiland. Um show de reunião rolou em 2012, mas os ex-Guns N’ Roses já estavam com suas carreiras reencaminhadas. Talvez, Weiland topasse um retorno, já que sairia fora do Stone Temple Pilots novamente em 2013. Talvez, uma eventual volta atrapalhasse Slash e Duff de retomarem suas vagas no GN’R em 2016. Talvez.

Mesmo que todos mudassem de ideia e quisessem voltar à ativa, poderia ser tarde demais, pois, como dito anteriormente, o cantor morreu em 2015, aos 48 anos, em um ônibus de turnê, em decorrência de uma overdose – o clichê do rockstar problemático que merecia mais atenção e cuidados, mas era ridicularizado pela imprensa e até parte do público. Todos sabíamos que isso aconteceria. Só não sabíamos quando.

Quando Slash relata que não tem “nada positivo” para falar do Velvet Revolver, o comentário parece englobar não só a música produzida pelo quinteto, como, também, todos os conflitos internos. Porém, ao dizer que a banda “o auge” de sua vida, Matt Sorum pensa exclusivamente no som – e, certamente, o grande trabalho desempenhado em “Contraband” deve vir à mente dele.

Velvet Revolver – “Contraband”

1. Sucker Train Blues
2. Do It for the Kids
3. Big Machine
4. Illegal i Song
5. Spectacle
6. Fall to Pieces
7. Headspace
8. Superhuman
9. Set Me Free
10. You Got No Right
11. Slither
12. Dirty Little Thing
13. Loving the Alien

Scott Weiland (vocal)
Slash (guitarra)
Dave Kushner (guitarra)
Duff McKagan (baixo)
Matt Sorum (bateria)

Músico adicional:
Douglas Green (teclados nas faixas 6 e 10)

Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Facebook | YouTube.

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioResenhasA história de “Contraband”, a pulsante estreia do Velvet Revolver
Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Últimas notícias

Curiosidades