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Resenha: Em ‘Young & Dangerous’, The Struts acerta ao reforçar tempero pop

Resenha: The Struts – ‘Young & Dangerous’

Os britânicos do The Struts compõem uma das bandas de rock mais aclamadas da década. Seu álbum de estreia, “Everybody Wants” (2014), foi tão elogiado que foi relançado, dois anos depois, no complicado mercado americano, cada vez menos afável a novidades do estilo.

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O motivo para tanta benevolência com o The Struts é evidente: em seu primeiro álbum, a banda apresentou uma pitada pop irresistível em meio ao seu hard rock de fortes referências ao glam. É como se o Slade tivesse chegado ao século 21 – ainda que as comparações não sejam tão felizes, já que há outras características diferentes (e, ainda bem, suficientemente identitárias) no som do quarteto.

Não à toa, o The Struts tem chamado a atenção de muita gente – especialmente fora do Reino Unido, onde, curiosamente, a banda tem sido um pouco ignorada. Até o frontman do Foo Fighters, Dave Grohl, se solidarizou com o grupo, dizendo em entrevista à Radio X que foi “a melhor atração de abertura que o Foo Fighters já teve” e que não entende por que o quarteto ainda não estourou no Reino Unido.

Independentemente da aparente falta de tato musical dos britânicos de hoje em dia, o segundo álbum da banda, “Young & Dangerous”, chegou a público cercado de expectativas. O trabalho, lançado no fim de outubro, tinha a missão de amplificar o que cativou tanta gente com “Everbody Wants”. Embora o caminho seguido seja um pouco diferente do usual, o resultado final agrada muito.

O grande diferencial de “Young & Dangerous” é que a pitada pop, até então mais discreta, se tornou um forte tempero. As novas canções são ainda mais grudentas, com ganchos melódicos de impacto, e os músicos não têm medo de usar elementos da sonoridade pop que outras bandas foram execradas ao tentarem reproduzir nos últimos tempos, como refrães em coro, eventual mistura de batidas orgânicas e eletrônicas, andamentos upbeat e até palminhas e estalos de dedos. Tudo isso é aplicado com cuidado, mas está lá, para todo mundo ouvir.

A conexão entre o pop e as bases sonoras do glam rock é evidente nas principais músicas de “Young & Dangerous”, como as divertidas “Primadonna Like Me” e “I Do It So Well”, a eficiente “Body Talks” (que tem até uma versão onde o frontman Luke Spiller divide vocais com a artista pop Kesha) e as quase-eletrônicas “In Love With A Camera” e “I Do It So Well”. Até em “Somebody New”, que é uma balada – tipo de som em que o pop costuma se influenciar pelo rock e não o contrário -, a mistura se mostra bem azeitada.

Novo Queen? Não!

Há, inclusive, quem chame o The Struts de “novo Queen”, o que só mostra como fãs de rock (especialmente vertentes mais pesadas) parecem não conhecer artistas surgidos neste século. As semelhanças com o Queen se restringem, basicamente, apenas ao visual de Luke Spiller semelhante ao de Freddie Mercury nos anos 1970 e alguns fraseados de guitarra de Adam Slack, que remetem a Brian May. Nada além.

É perceptível que as bases do The Struts estão fincadas no glam rock britânico, dos anos 1970 – cena a qual o Queen pertenceu nos primórdios. No entanto, o som do quarteto dialoga, diretamente, com nomes contemporâneos do chamado indie rock, como The Killers e Kaiser Chiefs, e até com artistas claramente pop, como o Maroon 5 em seus momentos lado B. Sendo assim, o caldeirão de influências é suficientemente amplo para evitar comparações simplistas.

O ‘homem de frente’

Toda a banda soa afiada em “Young & Dangerous”, mas a performance vocal de Spiller é o grande destaque. Sua interpretação, de tom original e envolvente, mostra que seu tipo está em falta no rock atual. Em tópicos que transcendem o álbum, como fotos e vídeos de shows, Spiller confirma a impressão de que é um frontman completo.

Ele, é claro, sabe disso. “Estamos sem showmen no rock and roll? Sim. Estou reclamando? Não, porque isso deixa o caminho aberto para mim”, disse, em recente entrevista à Another Man Magazine. “Claro que quero levar as coisas adiante, mas não vou fingir que não ouvi David Bowie, T. Rex, Queen ou Oasis. Nosso objetivo é levar a diversão de volta ao rock and roll.”

Nesse ponto, Spiller tem razão, pois “Young & Dangerous” traz, sim, diversão e irreverência ao rock – algo que se perdeu quando os músicos do estilo deixaram de se influenciar por outros gêneros e artistas atuais para focar apenas nos “dinossauros”. O novo álbum do The Struts tem músicas que podem rolar tanto na festa de Natal da sua tia quanto em um pomposo comercial de TV. E isso é bom, porque não se deve fazer rock apenas para ouvir no quarto.

Luke Spiller (vocal)
Adam Slack (guitarra)
Jed Elliott (baixo)
Gethin Davies (bateria)

1. Body Talks
2. Primadonna Like Me
3. In Love With a Camera
4. Bulletproof Baby
5. Who Am I?
6. People
7. Fire (Part 1)
8. Somebody New
9. Tatler Magazine
10. I Do It So Well
11. Freak Like You
12. Ashes (Part 2)
13. Body Talks (com Kesha)

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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