‘Barracuda’, do Heart: uma narrativa contra uma mentira sexista

Nem todos sabem, mas a letra da música 'Barracuda', um dos maiores sucessos do Heart, reflete uma situação desagradável envolvendo o machismo da própria gravadora da banda.

Nem todos sabem, mas a letra da música ‘Barracuda’, um dos maiores sucessos do Heart, reflete uma situação desagradável vivenciada nos primórdios da banda. A composição foi uma resposta à veiculação de uma mentira, considerada sexista, sobre a vocalista Ann Wilson e sua irmã, a guitarrista Nancy Wilson. E a responsabilidade pela divulgação do falso rumor foi da própria gravadora do grupo, a Mushroom Records.

Em 1977, um funcionário da Mushroom Records foi ao camarim do Heart, após um show em Detroit onde haviam feito a abertura para o The Kinks, perguntando onde estava o “amor” de Ann. Ele não se referia ao namorado da cantora, o empresário Michael Fisher, mas, sim, à própria irmã dela, Nancy.

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Logo após, Ann Wilson soube que a própria gravadora havia colocado um anúncio de página inteira na revista Rolling Stone afirmando que Nancy e ela tinham um relacionamento incestuoso. A situação, que inspirou uma furiosa Ann a compor ‘Barracuda’, foi relembrada, quatro décadas depois, em depoimento à mesma revista.

“Aquilo nos irritou. Foi contra tudo o que estávamos tentando iniciar e inventar – e o fato de que nossa primeira vez na Rolling Stone teve essa implicação lasciva”, disse Wilson. “Para nos imaginar juntas em uma relação lésbica e incestuosa – a sordidez realmente veio a mim naquele momento. Aquela letra foi composta pela minha verdadeira natureza, em raiva legítima”, disse.

A “utilidade” de ‘Barracuda’

Ann Wilson afirmou esperar que ‘Barracuda’ seja “útil quando mulheres pensam sobre o que querem e o que não querem”. A cantora destacou, ainda, a recente ação judicial que a cantora Taylor Swift moveu contra um DJ que a apalpou. A artista foi até o fim no processo, pedindo apenas 1 dólar de indenização – a ideia era buscar justiça com relação ao abuso que havia sofrido.

“Antes, eu não sabia o porquê. Agora, sei que estávamos sendo lançadas como garotas bonitas, em vez de pessoas com ideias e habilidades. Veja alguém como Taylor Swift, pelo que ela passou. Ela se arriscou com relação ao cara que a apalpou e levou tudo isso para o tribunal. As pessoas viraram os olhos com relação a isso, mas ela tem um ponto. Alguém pensa que tem direito de chegar a um meet and greet, subir a saia de Taylor Swift e pegar em sua bunda. E isso foi OK. Ele poderia se gabar disso em um bar”, afirmou.

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A vocalista do Heart disse que já passou por diversas situações semelhantes à vivenciada por Taylor Swift. “Quando estávamos com 20 e poucos anos, íamos a estações de rádio e diziam: ‘amamos suas tetas’. Era irritante. E se me tocassem – era a sensação mais nojenta de todas. Mas nos anos 70, se eu contasse ao meu empresário que qualquer DJ havia tocado o meu ombro no caminho errado… quem seria demitida? Eu”, pontuou.

Ao ser questionada se pensava que seria mesmo demitida, Ann Wilson reformulou um pouco a sua afirmação. “Talvez não fosse demitida, mas deixada de lado. Diriam ‘f*da-se ela’ ou ‘que vadia’. As pessoas falam dos outros da pior forma possível, especialmente quando se torna um produto para venda. Você é só uma coisa. ‘É legal? Bonito? As pessoas vão comprar?’. Tipo: ‘O quão selvagem vocês duas, como irmãs, ficariam juntas? Deve haver uma relação lésbica incestuosa’. A ideia de duas irmãs, juntas, atraentes, em uma imagem sexual é um desvio. É uma forma de tirar a ênfase de nossa música e nossa mensagem”, disse.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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