Os 30 anos do ‘canto do cisne’ do Queen em Wembley

Até hoje, o Queen soa muito atual. Não só com relação aos discos, mas também ao que levaram para os palcos. Ainda é referência para artistas de todos os estilos – inclusive, nomes do pop têm aproveitado mais a influência do quarteto britânico que os próprios grupos de rock. Torna-se curioso perceber, no entanto, que o canto do cisne da banda em turnê aconteceu há 30 anos.

A icônica apresentação do Queen no estádio de Wembley, em Londres, Inglaterra, aconteceu no dia 12 de julho de 1986. Foi a segunda e última apresentação em sequência da banda no local. Cada show reuniu 75 mil pessoas, uma marca impressionante em território europeu se considerar que era uma performance apenas do grupo, sem envolvimento a nenhum festival.

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O show, completo:

Não foi o show final do Queen, nem a performance derradeira da “Magic Tour”, que foi, de fato, a última turnê da banda. No entanto, a performance em Wembley marcou o imaginário popular, por ter sido lançada em vídeo. Três décadas depois, ainda é uma espécie de show-referência no rock e na música popular em si.

O contexto

O contexto vivido pelo Queen antes da “Magic Tour” era curioso. Após a icônica apresentação no Live Aid, em 1985, a banda contou com uma nova potencialização de seu trabalho. A performance, assistida por uma multidão in loco e por todo o mundo pela transmissão televisiva, foi excelente. O grupo sabia como dominar o palco. A situação, que já era boa com o hit “I Want To Break Free”, de 1984, ficou ainda melhor após o “efeito Live Aid”.

Sempre de proporções imensas, o Queen parecia, enfim, ter atingido o patamar que almejava desde o início da década de 1970. Nem mesmo os clássicos dos anos anteriores foram capazes de colocar a banda no pedestal que estava. A força era tamanha que o mediano álbum “A Kind Of Magic”, lançado um mês antes do show de Wembley, fez muito sucesso na Europa.

Por outro lado, vale destacar que o Queen era imenso na Europa – e no resto do mundo –, mas cada vez mais ignorado nos Estados Unidos. A banda abriu mão da América e, com isso, a própria cultura local deixou de dar ouvidos ao Queen. O sucesso do grupo era menor do que no restante do globo. (Leia também: Brian May revela que clipe de “I Want To Break Free” acabou com o Queen nos EUA)

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O Queen estava gigante ao ponto de poder escolher os locais para os quais venderia seu trabalho. Obviamente, “A Kind Of Magic” teve distribuição mundial. Mas a “Magic Tour” não. Foi opção própria, da banda, de não tocar nos Estados Unidos, mesmo sendo o principal mercado artístico de todo o mundo.

O Queen em Wembley

Geralmente, é estranho comentar sobre um show que não se presenciou pessoalmente. Não era nascido quando a apresentação em Wembley aconteceu – e, mesmo se fosse, provavelmente não estaria no imponente estádio no dia 12 de julho. Ainda assim, não gera desconforto falar sobre a performance do Queen nessa data.

A megaestrutura disponibilizada ao Queen, com cinco mil amplificadores, quase 14 km de cabos e um enorme telão de seis por nove metros, foram correspondentes ao tamanho da banda naquele dia. A apresentação de quase duas horas foi, provavelmente, a melhor da história do grupo.

O registro foi capaz de captar o que era o Queen naquele momento. O clima entre os músicos, os talentos individuais se complementando, o repertório bem construído… tudo deu certo naquela noite.

O estilo prima-donna de Freddie Mercury estava ainda mais aflorado. A homossexualidade do cantor não era discutida publicamente – a não ser em tabloides –, mas Mercury se sentia cada vez mais à vontade com quem era. A leveza de saber quem era e a que veio fez com que Freddie estivesse muito confiante em sua última turnê e, especialmente, na apresentação em Wembley.

O restante da banda se manteve estável, ancorada na confiança de sempre, mas com a precisão potencializada. O primor técnico e o entrosamento de Brian May, Roger Taylor e John Deacon são visíveis na gravação da apresentação.

Depois de fazer história…

Após fazer história no palco de Wembley, o Queen fez mais 10 shows. O último deles, em 9 de agosto de 1986, no Knebworth Park, na Inglaterra, para 120 mil pessoas. Toda a turnê, aliás, foi constituída de apresentações em grandes arenas e destinadas a milhares e milhares de pessoas. Depois disso, o grupo não voltou mais a se apresentar em um palco.

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Não dá para dizer que Freddie Mercury pensava em abandonar as turnês após a “Magic Tour”. Pessoas próximas e relatos do livro “A verdadeira história do Queen”, de Mark Blake, apontam que Mercury começava a se incomodar com a própria idade – afinal, já era um quarentão. Ele dava indícios de que diminuiria o ritmo a partir de então. Não queria se tornar uma caricatura de si próprio.

Diferente do que se afirma, Freddie Mercury não sabia que tinha Aids. Ou sabia e não contou a ninguém, mas nunca disse que planejava mudar tanto os planos de sua carreira, a ponto de não fazer mais turnês. Freddie já apresentava alguns problemas de saúde, mas eram encarados como ocorrências “naturais”, visto que era um verdadeiro boêmio.

Naquele momento, a situação mais complicada era vivenciada por John Deacon. Desde o início da década de 1980, o baixista se sentia desgastado a ponto de considerar deixar o Queen. Pessoas próximas afirmam que ele não conseguia voltar a ser uma pessoa normal após as turnês. Sinal típico de um problema psicológico. O sucesso de “I Want To Break Free” – composição dele – e o “efeito Live Aid” seguraram Deacon na formação, mas se o ritmo da banda continuasse frenético, o músico, fatalmente, sairia.

O que veio depois da “Magic Tour” e do show de Wembley foi uma banda que tentou dar o seu máximo de acordo com as circunstâncias. Relatos apontam que Freddie Mercury foi diagnosticado com Aids em 1987 e, a partir de então, foi tomada a decisão de não fazer mais turnês. Mas a doença era uma bomba-relógio. Freddie sabia que iria morrer logo. Só não sabia, com precisão, quando seria.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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