Sobre o sensacional e sumido Vito Bratta, ex-guitarrista do White Lion

Fui viciado no som do White Lion de forma curiosa por um tempo. Antigamente, não pensava no motivo pelo qual me sentia tão contemplado por aquele som. Hoje, com um pouco mais de maturidade, consigo concluir que o guitarrista Vito Bratta foi o elemento decisivo para isso.
Vito Bratta formou o White Lion com o vocalista Mike Tramp em 1983. O guitarrista tinha apenas 22 anos, mas já se destacava por uma técnica exemplar. Antes disso, tocou com o baterista do Tyketto, Michael Clayton, em uma banda chamada Dreamer. Bratta pegou muito de Eddie Van Halen e um pouco de Uli Jon Roth para construir seu estilo. Aos mais atraídos pelo instrumento: ele tinha agilidade, mas não deixava perder o senso melódico. Dominava ligados e especialmente tappings. Era sensacional.
O White Lion explodiu em 1987, com “Pride”, segundo disco. Já tinham um álbum, “Fight To Survive”, lançado. Mais dois trabalhos – “Big Game” e o formidável “Mane Atraction” – chegaram às prateleiras até que o grupo passou por momentos de turbulência e, enfim, encerrou em 1992. A banda acabou, mas Vito Bratta continuou envolvido com a gravadora Atlantic Records para produzir um registro de estúdio de outro projeto. Também tentou montar o próprio conjunto, mas não rolou. Saiu do mercado da música em 1994.
Curiosamente, Vito Bratta é o dono de todos os direitos das músicas do White Lion, após Mike Tramp ter vendido a sua parte ainda nos anos 1990. Tramp tentou reunir o grupo diversas vezes e até anunciou que havia conseguido isso em 2003, mas logo apareceu à imprensa para negar o que ele mesmo revelou. Bratta não queria nada de reunião.
Há algumas lendas em torno do que Vito Bratta teria feito após a sua saída do mercado da música. A mais clássica é que ele teria abandonado a área e começado a trabalhar como técnico de informática. Nunca foi comprovado. Fato é que ele deve ter arrumado uma ocupação, pois, em entrevista a Eddie Trunk, Bratta diz que saiu do mercado para acompanhar seu pai, que ficou doente em 2002 e não tinha quem cuidasse dele. Não se sabe se o pai melhorou, continua ruim ou faleceu. O guitarrista também reclama que uma reunião do White Lion não renderia o dinheiro necessário para justificá-la.
Vito Bratta disse que machucou o pulso em meados de 1997 e precisou parar de tocar guitarra. Ele era do tipo que se aquecia para os shows meia hora antes, fazia a apresentação e depois continuava a debulhar as seis cordas muitas vezes até a manhã seguinte. Não há mãos e pulsos que aguentem, mesmo.
Mas na mesma entrevista, Vito Bratta afirmou que não recusaria nenhuma reunião do White Lion – apesar de não considerar rentável financeiramente a volta do grupo -, só que por conta do pai, não poderia aceitar naquele momento. Apesar das desavenças, Mike Tramp chegou a declarar que tentou reformar a banda com Warren DeMartini e até Paul Gilbert, mas que nenhum chegava aos pés de Bratta porque ele era um ótimo compositor. “Ele seria maior que Steve Vai e esses outros caras”, disse Tramp ao Metal Sludge.
Vito Bratta também pode ter se desiludido. O sucesso de “Pride” nunca se repetiu, apesar de “Mane Attraction” ser um trabalho reconhecidamente grandioso. A gravadora não soube trabalhar com eles mais, o que gerou crises internas. Quando se dá o melhor e não atinge o mesmo sucesso de outrora, o desânimo bate à porta. Fato é que Bratta tem espaço para voltar a qualquer momento. Basta voltar a ficar em forma nas seis cordas. Talento ninguém perde. É um caso semelhante ao de Vinnie Vincent, ex-KISS. Mas este sumiu pela loucura. Bratta desapareceu pelas circunstâncias e pelo desinteresse.

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Abaixo, parte da entrevista concedida a Eddie Trunk, em 2007:

“No que diz respeito a trabalhar com Mike Tramp novamente e voltar ao White Lion, nunca disse ‘não’ a qualquer coisa. Disse ‘não’ por certas razões. Algumas coisas aconteceram na minha vida e me obrigaram a negar. ‘Olha, não posso fazer isso agora’. E havia razões por trás disso. Meu pai teve uma doença há cinco anos e foi um pesadelo. E não tinha ninguém para cuidar dele, exceto minha mãe eu. E foi isso que fizemos. Infelizmente, você não pode simplesmente ir embora. Agora, nos dias White Lion, não é só você que é jovem, você está nos seus 20 anos, mas seus pais são jovens. Lembro-me de avisarem que vai rolar uma turnê de dois anos e falarmos: ‘Ok, por mim até três’. Há despesas também. Quando o White Lion explodiu, não falávamos sobre dinheiro. Ninguém falava ‘quanto faremos hoje?’. Ninguém ligava. Mas chega um momento em que há contas para pagar e há pessoas que dependem além de você. Não é algo como ‘Oh, vou fazer essa turnê de reunião do White Lion e fazer muito dinheiro’. Há contas a pagar, e você não pode dizer ao roadie que está ali apenas pela diversão. Também há a questão da família, que não está bem”.

“Quando você tem uma namorada e você termina, ela te trai na sua frente e ainda diz ‘se você não quer voltar, é isso que vou continuar fazendo’. O problema é que eu tenho que ficar vendo o Mike fazer essas coisas de Tramp’s White Lion, com uma banda totalmente nova. Sempre desejei o melhor a ele, mas cada vez que ele faz uma dessas, mais vontade tenho de me ausentar de tudo.”

“Quando você me perguntou sobre um problema na mão, Eddie, precisei mentir um pouco para você. Disse que não havia lesão. Mas existe. Bati algo em meu pulso sobre 1997 que me impediu de tocar durante todo o dia. E eu era do tipo que tocava 14 horas por dia. Chegava em casa às 4 da manhã de shows e tocava por mais duas. Sempre estava tocando. Guitarristas entenderão. É como atletismo.”

“A lesão está melhorando, mas sinto como se estivesse tocando em fios de alta tensão quando encosto em codas de aço. Os médicos diziam que eu poderia me curar ou perder a funcionalidade da mão. Então eu tive que decidir: quero tocar com dor? Então criei desculpas para mim mesmo. ‘Não posso tocar por causa da minha mão’, ou ‘não posso tocar por causa do meu pai’. Mas a resposta é que não vou dizer que a reunião nunca vai acontecer. Adoraria que acontecesse hoje. Não vou fechar a porta. Mike Tramp sabe disso. E o que continuo pedindo a Mike é que pare de fechar a porta na minha cara.”
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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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