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Teria o Stone Temple Pilots feito seu melhor show no Brasil justo com Jeff Gutt?

Banda deu início à sua 5ª turnê nacional com apresentação quente no Terra SP, por vezes superando o que fãs locais viram do grupo até com Scott Weiland

Dependendo de sua idade, você certamente ouviu “Plush”, talvez o grande hit do Stone Temple Pilots, estourar nas rádios rock Brasil afora — e, pelo menos em sua primeira audição, nem que por míseros segundos, confundiu a voz de Scott Weiland com a de Eddie Vedder, frontman do Pearl Jam. Foi assim que pintou esta banda formada em San Diego, ensolarada cidade americana a dois mil quilômetros de Seattle — o frio epicentro do grunge, movimento ao qual eles foram anexados mesmo tendo pouco a ver com eles.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Salto temporal: o STP estreou no Brasil e em São Paulo no extinto Via Funchal em dezembro de 2010, na primeira vez que este repórter pagou para estar numa pista premium, pois, sabe-se lá a razão, a diferença de preço entre a área à frente do palco e a pista comum era de vinte e cinco reais para a meia-entrada. Já não foi com Weiland no auge e bastante afetado após o histórico abuso de drogas exaustivamente relatado na mídia especializada ao longo de sua carreira. O destaque da noite foi a performance arrebatadora do baixista Robert DeLeo.

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Menos de um ano depois, foram ao SWU em Paulínia em noite chuvosa que acabou sendo a última vinda do vocalista no Brasil e só voltaram, já com Jeff Gutt no posto, em fevereiro de 2019 em turnê como co-headliner ao lado do Bush no Credicard Hall. A vez seguinte e até então mais recente foi na primeira edição do Summer Breeze Brasil, em 2023. Muito pouco em termos de presença nacional, mas a visita de quinta-feira (22) para performance no Terra SP, dias antes de ir a Brasília tocar no Porão do Rock, parece representar uma tentativa de mudar tal cenário.

Velvet Chains

Antes de conferirmos o que nos reservaria o grupo completado por Dean DeLeo (guitarra) e Eric Kretz (bateria), coube ao Velvet Chains (não confundir com o Velvet Revolver, também do saudoso Weiland) a missão de aquecer a noite. Formado em Las Vegas em 2021, o grupo já tocou no Sun Stage do Summer Breeze 2023 e depois fizeram a abertura para Slash feat. Myles Kennedy and the Conspirators no Espaço Unimed no último dia de janeiro de 2024.

De lá para cá, três integrantes permaneceram: o guitarrista Von Boldt (inicialmente trazido ao país como substituto), o baixista Nils Goldschmidt e o baterista Jason Hope. No mais, o vocalista Chaz Terra assumiu a vaga de Ro Viper e o outro guitarrista é Phillip Paulsen. Em quarenta e nove minutos, mandaram ver com treze músicas voltadas ao hard rock que agradaram ao público, pautando a apresentação em seus dois EPs.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Na prática, executaram as sete faixas de “Last Rites” (2025) junto a três das seis de “Morbid Dreams” (2022): “Back on the Train”, “Fade Away” e “Last Drop”. As três outras foram singles: “Wasted” e “Tattooed”, ambos do ano passado; e “Ghost in the Shell”, lançada dia 16 deste mês. Evidentemente precisam de mais “rodagem” para amadurecer a performance de palco, em especial a de Chaz, ainda um tanto contido para o potencial que tem.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Durante o set, Terra — cantor de sobrenome igual ao nome da casa de eventos — acertou ao optar por tons mais graves, bem encaixados à proposta da banda. Mas quer dois exemplos de detalhes que podem ser melhorados? “Wasted” é arrastada em demasia para inaugurar o set e seus bons riffs lembrarem Alice in Chains logo de partida dão uma impressão alterada do som que pretendiam mostrar. Além disso, faltou dizer os nomes das canções com mais frequência para o público se familiarizar com o material e até mesmo pesquisá-lo no streaming.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Por outro lado, houve bons momentos. O ponto alto foi a versão de “Suspicious Minds”, de Elvis Presley; afinal de contas, com tantas opções, é louvável ver jovens resgatando um cover tão “raiz” do rock. Em reconhecimento, a plateia espontaneamente passou a bater palmas ainda em sua execução. Para “I Am the Ocean”, curiosamente sucessora, Chaz pediu que todos acendessem as lanternas dos celulares, iniciativa que sempre aproxima banda e público.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Fosse uma prova, teriam passado sem tanta dificuldade e foram embora com o devido reconhecimento. Tiveram até o nome gritado ao se despedirem, termômetro confiável em termos de aceitação de seu set.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Repertório — Velvet Chains:

01) Wasted
02) Back on the Train
03) Fade Away
04) Eyes Closed
05) Enemy
06) Run Away
07) Stuck Against the Wall
08) Last Drop
09) Suspicious Minds [Elvis Presley]
10) I Am the Ocean
11) Ghost in the Shell
12) Dead Inside
13) Tattooed

Stone Temple Pilots

No aguardo para o show principal, um comentário ambíguo de um fã quando adentrávamos o recinto ecoava na cabeça deste repórter: “Não tenho nada contra o vocalista novo, mas a banda virou um auto-cover, né?”. Mesmo assim o referido cidadão investiu dinheiro e energia para conferir o que seria mostrado. Que culpa Jeff Gutt tem em herdar uma vaga amaldiçoada e previamente ocupada por alguém que nos deixou?

E por que o trio remanescente deveria se trancar em casa em vez de tentar seguir adiante? Viajar o mundo tocando suas próprias músicas e ser bem pago por isso está longe de ser um sofrimento. Se, para tal, era necessário recrutar um novo cantor, que assim o fosse.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Três minutos antes do prometido para 21h30, com os mezaninos cheios, a pista premium abarrotada e a comum bem cheia, ainda que sem excessos, disparou-se um trecho de “La Posada N.1”, da trilha sonora de “Open Upon a Time in the West” (1968) – pois é, não é só o Metallica que adota intros compostas por Ennio Morricone –, preparando terreno para “Unglued”, soando como em estúdio. Do alto do segundo andar dos mezaninos e em posição frontal, constatamos como o setor balança, fenômeno de novo verificado durante outros momentos da noite em “Crackerman” e “Sex Type Thing”.

A coisa começou a embalar mesmo em “Wicked Garden”, a segunda do set, com a galera entregando performance contundente de apoio nos vocais, bem como em refrãos um tanto imprevistos, ou fora da expectativa para este que vos escreve, como os de “Vasoline”, “Big Bang Baby” e “Silvergun Superman”. Outras campeãs de audiência, porém por inteiro, foram a maravilhosa “Interstate Love Song” — segundo seus autores, influenciada por bossa nova —, “Dead & Bloated” e as mencionadas “Crackerman” e “Sex Type Thing”.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Agora sejamos sinceros: evidentemente, as pessoas saíram de casa para escutar “Plush”, mega-hit tão massivamente veiculado que, no Via Funchal, a galera “entrou errado”, acostumada à versão editada para rádio ou ao clipe. Quinze anos depois, aprendeu-se o momento correto de cantar cada um de seus versos, transformando a casa num karaokê. Há de se destacar o mérito do quarteto em não mexer em sua estrutura, tocando a versão encontrada no álbum.

Duas faixas em especial representaram uma espécie de “pérolas escondidas”. A primeira, já citada, é daquelas que ninguém pega o álbum exclusivamente para ouvi-la ou pula da cama ao acordar pensando: “Preciso desesperadamente ouvir ‘Silvergun Superman’”. Contagiante, ela é fundamental no setlist para oferecer peso. A segunda, a belíssima “Still Remains” com letra romântica normalmente ignorada, foi dedicada a Scott Weiland e terminou superaplaudida.

Ainda houve espaço e tempo em meio aos 91 minutos de show para improvisos. “Big Empty” e “Dead & Bloated” surpreenderam ao brotarem com curtas jams introdutórias. A primeira teve somente os irmãos DeLeo, enquanto a segunda contou com a poderosa adesão de Eric, recurso também adotado em “Sex Type Thing”, a saideira.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

E quanto aos músicos? Comecemos pelo grande cara do quarteto. Jeff? Não — Robert. Incrível a facilidade com a qual toca seu instrumento, dele fazendo uma extensão natural de seu corpo – e se você ainda não teve o prazer de escutar “Lessons Learned” (2022), sua estreia solo, faça-o assim que possível. Ciente de seu papel, foi o único a se dirigir à platéia além do frontman e teve o cuidado de elogiar o país e agradecer por estarem aqui. De quebra, ainda foi o mais aplaudido quando o vocalista apresentou seus colegas no retorno para o bis.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Dean talvez seja o mais famoso anti-guitar hero de uma banda de rock de grande porte. Reservado, faz tudo com competência e é mestre em não aparecer, chegando ao ponto de solar sem luzes nele projetadas, como, por exemplo, em: “Down”, a “novinha” do set, de 1999; “Silvergun Superman” e “Meatplow”. Eric é seguro, cirúrgico e discreto, mas desce o braço quando preciso, como nas partes pesadas de “Big Empty” e “Piece of Pie”.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Jeff é, sim, um cantor dos bons e sabe agitar a massa, incluindo quem se posicionou nas áreas laterais da pista premium e também recebeu sua atenção, como a demonstração de carinho a quem estava no setor PcD, lá indo cantar em “Plush” e “Trippin’ on a Hole in a Paper Heart”. Com estética similar à de Scott (até mesmo os óculos escuros), respeita as linhas vocais originais, porém não embarca na onda de personificar o ídolo. E ainda teve brilhante sacada no verso “It’s staring me down, wearing a crown of apathy”, de “Piece of Pie”, apontando para uma tatuagem de coroa em seu peito.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Tudo isso quer dizer que o show foi perfeito? Quase. Faltou “Creep” – como assim? E regressar para o bis com “Kitchenware & Candybars” foi anti-catártico e quebrou o clima, mas o público compreendeu do que ela se tratava. Impressionou o número de celulares erguidos para filmá-la. E, caso esteja curioso, “My Second Album”, escondida no CD, não veio a tiracolo.

Vale lembrar que o grupo encerrou a turnê comemorativa de trinta anos do lançamento de “Purple” (1994) no começo de março e nem por isso deixou de resgatar oito faixas de seu segundo disco. Para aumentar a alegria dos fãs das antigas, foram seis de “Core” (1992). Ou seja, quatorze das dezessete do total foram extraídas apenas dos dois primeiros e indiscutíveis melhores álbuns do quarteto.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

As apostas restantes também foram em “bolas de segurança”, pois duas foram de “Tiny Music… Songs from the Vatican Gift Shop” (1996), justamente os dois primeiros singles: “Big Bang Baby” e “Trippin’ on a Hole in a Paper”. E a única de “No. 4” (1999) foi “Down”, também seu primeiro single. Assim, não houve material de: “Shangri-La Dee Da” (2001); dos dois trabalhos que levam o nome do grupo, lançados em 2010 e 2018; de “High Rise” (2013), EP com Chester Bennington; e, com o perdão do trocadilho, deram um perdido em “Perdida” (2020) – sendo que este e o antecessor foram gravados já com o atual vocalista.

Não causa estranheza terem excluído material com Gutt em estúdio? Ninguém reclamou, mas não cabia sequer uma música? Não parece normal, muito embora o Queensrÿche tenha adotado postura idêntica na abertura de luxo para o Judas Priest na Vibra São Paulo, ignorando os registros na voz de Todd La Torre e focando 100% do set em canções originais com Geoff Tate.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Encerramos com o tremendo barulho na cabeça com o qual este redator foi dormir: ao ver o Stone Temple Pilots pela sexta vez (incluindo todas as descritas no texto e uma ida ao Circo Voador dois dias após a estreia no Via Funchal), seria herético afirmar esta ter sido a melhor atuação? A sensação era a de “sim”, com total relutância em admitir por não ter sido com Scott Weiland. O setlist ajudou muito, bem como o fato de haver um frontman presente e em plena forma.

Cabe, sempre, o debate sobre ter sido o melhor show. Mas que foi impecável e super quente, ah, isso foi.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Stone Temple Pilots — ao vivo em São Paulo

  • Data: 22 de maio de 2025
  • Local: Terra SP
  • Produção: Stones / Rider2 / Volumen4 / Numb

Repertório:

Intro: La Posada N.1 [Ennio Morricone]
01) Unglued
02) Wicked Garden
03) Vasoline
04) Big Bang Baby
05) Down
06) Silvergun Superman
07) Meatplow
08) Still Remains
09) Big Empty
10) Plush
11) Interstate Love Song
12) Crackerman
13) Dead & Bloated
14) Trippin’ on a Hole in a Paper
Bis:
15) Kitchenware & Candybars
16) Piece of Pie
17) Sex Type Thing
Outro: Soiree [Bill Evans]

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