A bronca de gravadora que fez o Sepultura mudar em 2010: “não são Pink Floyd”

Dono da Nuclear Blast disse aos brasileiros que eles “não eram o Pink Floyd”, mas uma banda de metal

Os dois últimos álbuns do Sepultura com a gravadora SPV foram baseados em obras conhecidas. “Dante XXI” (2006), trabalho final com Iggor Cavalera, buscou referências em “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri. Já “A-Lex” (2009), com Jean Dolabella empunhando as baquetas, se inspirou em “Laranja Mecânica”, de Anthony Burgess.

Quando a banda se mudou para a Nuclear Blast, em 2010, veio um pedido logo de cara para que simplificassem as coisas. Embora os trabalhos posteriores seguissem buscando conceitos amarrados, o grupo retomou uma sonoridade mais próxima do que a havia consagrado – especialmente em “Kairos” (2011) e “The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart” (2013), que marcou a estreia de Eloy Casagrande no kit.

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Em entrevista a Lucas Brêda para a Folha de S.Paulo, Andreas Kisser recordou a fala – definida como “puxão de orelha” – de Markus Staiger, dono da companhia. Contou o guitarrista:

“Ele dizia: ‘Vocês são uma banda de metal, não são Pink Floyd. É caveira, é heavy metal, thrash, porrada’.”

“Machine Messiah” e “Quadra”

Em seus álbuns mais recentes, o Sepultura voltou a construir histórias que desenhavam um cenário por trás do que desejava passar – embora não fosse uma história roteirizada. Para “Machine Messiah” (2017), a banda explicou em material promocional:

“A principal inspiração em torno de ‘Machine Messiah’ é a robotização da nossa sociedade hoje em dia. O conceito de uma Máquina-Deus que criou a humanidade e agora parece que esse ciclo está se fechando, retornando ao ponto de partida. Viemos das máquinas e estamos voltando para onde viemos. O messias, quando retornar, será um robô, ou um humanoide, nosso salvador biomecânico.”

Já em “Quadra” (2020), que se nada mudar terá sido o último disco da carreira do grupo, a situação foi ainda mais elaborada. Andreas explicou no press release:

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“Em português, além de outros significados, ‘Quadra’ significa ‘quadra esportiva’: uma área terrestre limitada, com demarcações, onde um jogo acontece com suas determinadas regras. Somos de diferentes ‘Quadras’. Todos os países têm fronteiras, tradições, cultura, religiões, leis, educação e um conjunto de regras onde a vida acontece.”

A proposta se estende para outros aspectos da vida, incluindo as necessidades pessoais e as características individuais. Kisser comenta:

“Nossas personalidades, o que acreditamos, como vivemos, como construímos sociedades e relacionamentos… tudo depende desse conjunto de regras com as quais crescemos. Conceitos de criação, deuses, morte e ética. Somos escravizados pelo conceito do dinheiro. Quem é pobre ou rico, é assim que medimos pessoas e bens. Independentemente de sua ‘Quadra’, você precisa de dinheiro para sobreviver. É a regra principal do jogo ‘vida’.”

A capa também contou com uma contextualização particular. O guitarrista diz:

“A moeda é forjada com o crânio do senador, que representa o conjunto de leis em que vivemos. O mapa mundi na cabeça representa as fronteiras das nações, com linhas imaginárias separando pessoas por conceitos de raça e do que é sagrado.”

Sepultura e a turnê de despedida

Neste fim de semana o Sepultura encerra a segunda perna brasileira de sua turnê de despedida, a “Celebrating Life Through Death”. A banda fará três shows em São Paulo, no Espaço Unimed. Todos os ingressos foram vendidos. Em dezembro, há uma terceira etapa já agendada, incluindo a apresentação em Ribeirão Preto, que precisou ser remarcada.

Antes, o grupo passa por América do Norte e Europa. Na primeira, Obituary, Agnostic Front e Claustrofobia acompanharão o giro. No Velho Continente, Jinjer, novamente o Obituary e Jesus Piece se encarregarão de esquentar a plateia para a atração principal.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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