Chris Cornell tinha uma ligação com o Led Zeppelin. Apesar de ter classificado Robert Plant, Jimmy Page e companhia como “ultrapassados” em entrevista no final da década de 1980, o saudoso vocalista do Soundgarden e Audioslave chegou a fazer uma releitura da faixa “Thank You” e até esteve envolvido em rumores de uma reunião dos músicos – o que ele negou.
De qualquer forma, ao seu ver, uma banda surgida em Seattle, nos Estados Unidos, poderia facilmente ser comparada ao Zeppelin: o Heart.
Conversando com o canal VH1 em 2001, o cantor, também oriundo da mesma cidade atrelada ao grunge, disse enxergar semelhanças entre ambos os grupos. Na ocasião, sem dar detalhes, mencionou (via Rock and Roll Garage):
“Eu não fazia distinção entre o Heart e nenhuma das bandas de rock que eu ouvia. Para mim, o Heart era como uma versão americana do Led Zeppelin.”
Cornell voltou a fazer a analogia ao introduzir o Heart ao Rock and Roll Hall of Fame em 2013. Durante o seu discurso, o artista mencionou a força das irmãs Ann Wilson (voz) e Nancy Wilson (guitarra e voz) e destacou:
“Heart, com duas Joanas d’Arc na linha de frente detonando completamente, apoiadas por uma banda surpreendentemente poderosa e única, derrubou qualquer barreira de gênero à sua frente, armadas com a pura e destemida força do rock and roll. O Heart foi importante para nós, não apenas como músicos, mas também como prova de que Seattle podia criar algo belo e poderoso no rock. Algo que o resto do mundo poderia, de fato, se importar […]. Ao ouvir pela primeira vez os grandes álbuns que a banda compôs, cantou e tocou, como ‘Dreamboat Annie’, ‘Little Queen’ e ‘Dog and Butterfly’, dava para sentir que era uma banda que sabia exatamente o que estava fazendo, para onde estava indo, seguindo os passos do Led Zeppelin e demonstrando uma impressionante versatilidade.”
Segundo Nancy, o vocalista era um grande fã do Heart e confessou ficar nervoso diante da banda tamanha admiração. Ao podcast The Mistress Carrie em 2021, com transcrição da Ultimate Guitar, a guitarrista contou:
“Antes mesmo dele fazer o discurso de introdução, tivemos uma entrevista com ele, e ele era um grande fã. Ele admitiu que era tão fã da gente que mal conseguia falar conosco em Seattle, e isso me fez amá-lo ainda mais, porque ele ficava nervoso até para nos cumprimentar. E então ele nos induziu com aquele discurso incrível, maravilhosamente elaborado.”
Heart, Chris Cornell e Seattle
O Heart experimentou uma segunda onda de sucesso na carreira durante os anos 1980, quando abraçou o glam metal, em alta à época. Pouco depois, o grunge tomou conta das paradas. A grande coincidência da situação é que o grosso da cena se concentrava em Seattle, onde a banda havia sido criada e servia de referência por conta de seus primeiros discos.
Em entrevista ao podcast Talk is Jericho (transcrita pelo Ultimate Guitar) em 2021, a guitarrista Nancy Wilson falou sobre o choque de encarar aquela geração que surgia. Mencionando o próprio Chris Cornell, a musicista explicou:
“Estávamos com vergonha do que fizemos, pois eles eram os novos caras legais do pedaço. Não sabíamos como se sentiriam ao nosso lado após os hits e vídeos dos anos 1980.
Isso foi logo após Andrew Wood, do Mother Love Bone ter morrido de overdose. Um amigo em comum, Kelly Curtis, nos convidou para uma celebração de sua memória. Lá estavam Chris Cornell, o Alice In Chains, Screaming Trees, Mudhoney e Nirvana, todos chorando e rindo ao mesmo tempo em memória dele. Foi onde nos conhecemos.”
O medo inicial não se confirmou, com o Heart sendo bem recebido e acolhido pelo movimento. Posteriormente, a amizade se intensificaria.
“Começamos a sair com eles, íamos a festas, Jerry Cantrell (guitarrista e vocalista do Alice in Chains) queria que ensinássemos a tocar algumas de nossas músicas… Eles foram gentis e perdoaram as escolhas que havíamos feito. Gostavam de Kiss e outras bandas daquela época. Era uma nova geração muito legal.”
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