As declarações que fizeram Roger Waters ser acusado de antissemitismo

Ex-Pink Floyd é conhecido por seu posicionamento a favor da causa palestina e já criticou Israel inúmeras vezes

Nos últimos anos, Roger Waters tem sido acusado de antissemistismo – termo para discriminação ou ódio contra judeus. Seu histórico de declarações motivam a alegação, embora o ex-integrante do Pink Floyd negue ter esse tipo de preconceito.

Ainda que se arraste há mais de uma década, a polêmica começou a trazer consequências palpáveis ao músico apenas nas últimas semanas. Um show do artista em Frankfurt, na Alemanha, foi cancelado por esse motivo. Outras apresentações, como em Munique e Colônia, também podem deixar de ocorrer.

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As posições de Waters em prol da causa palestina são conhecidas. Não à toa, ele se vinculou a um organização de boicote cultural contra Israel, devido a uma política aplicada agressivamente pelo governo israelense com relação a cidadãos palestinos que muitas outras autoridades compararam ao apartheid na África do Sul.

Contudo, algumas de suas declarações e até posturas adotadas em uma turnê anterior levaram a discussão para o campo do antissemitismo.

Afinal, o que ele disse ao longo dos últimos anos para ser acusado de antissemitismo? É o que vamos abordar a seguir, em ordem cronológica. As informações são dos sites Farout, Times of Israel, Haaretz, Daily Mail e The Jerusalem Post, entre outras fontes mencionadas ao longo do texto.

Estrela de Davi em show

As primeiras acusações de antissemitismo contra Roger Waters surgiram em 2010. No dia 6 de outubro daquele ano, durante um show da turnê “The Wall Live” em Nova York, o músico foi criticado por retratar a Estrela de Davi, o símbolo mais famoso do judaísmo, como uma bomba sendo despejada por um avião – junto de símbolos do cristianismo, islamismo e cifras de dólar – ao longo da execução da canção “Goodbye Blue Sky”. Isso se repetiu em outras apresentações.

Após a polêmica, o ex-Pink Floyd saiu em sua defesa e justificou o uso deste e dos demais símbolos (via Associated Press).

“‘Goodbye Blue Sky’ é sobre como eu me sinto ao ver os campos da Terra sendo banhados por sangue, por que estamos determinados a bombardear outros homens por conta de nossa ideologia ou nossa religião, e alguns se incomodaram com isso.”

Movimento BDS e boicote cultural a Israel

Meses mais tarde, em março de 2011, Roger Waters escreveu uma coluna para o jornal The Guardian onde anunciou que havia passado a integrar o chamado movimento BDS.

Sigla para “Boicote, Desinvestimento, Sanções”, este movimento foi criado em apoio ao povo palestino e para fazer pressão contra o governo israelense. Houve adesão de muitos músicos que, em forma de protesto, iniciaram um boicote cultural contra o país e prometeram não realizar qualquer tipo de apresentação em Israel. 

Anos mais tarde, em 2019, sobrou até mesmo para Milton Nascimento, lenda do MPB. Nesta ocasião, Waters pediu para o “Bituca” cancelar uma apresentação agendada para acontecer em Tel-Aviv, capital de Israel.

No entanto, em suas redes sociais, Milton negou o pedido do colega, afirmou que foi convidado a cantar no país a convite de uma empresa e que não cancelou apresentações nem mesmo durante a ditadura militar.

“Este show não tem qualquer incentivo do governo de Israel, muito menos do exército israelense. Durante a ditadura militar brasileira eu jamais deixei de tocar no meu país. Então, por que eu deixaria de tocar agora? Por que deixaria de compartilhar experiências de amor e mudança enquanto acontece no Brasil um governo de extrema-direita? Mesmo divergindo das ideias de um governo, jamais abandonarei meu público”

Comparações com o nazismo e lobby judeu

Em dezembro de 2013, o ex-Pink Floyd enfureceu muita gente ao comparar, durante evento em apoio à Palestina, o povo judeu aos nazistas. Para o músico, o que o estado moderno de Israel vem fazendo é parecido com as políticas do regime liderado por Adolf Hitler.

“Os paralelos com o que aconteceu na Alemanha nos anos 1930 são esmagadoramente óbvios.”

Além disso, no mesmo evento, Waters também acusou a indústria musical de fazer um lobby a favor do povo judeu.

“O lobby judeu é extraordinariamente poderoso, particularmente na indústria em que trabalho, que é a indústria da música e do rock n’ roll, como dizem.”

O músico ainda explicou que tomou essa decisão de boicotar Israel como forma de garantir a independência palestina e por não concordar com as atitudes do governo israelense contra o povo palestino.

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Briga com rabino

Também no ano de 2013, Roger Waters se desentendeu com o rabino Abraham Cooper. O motivo da briga ocorreu no mês anterior: durante um show, o músico utilizou um porco inflável que continha diversos símbolos, incluindo a Estrela de Davi.

Cooper afirmou o seguinte:

“Com essa demonstração nojenta, Roger Waters deixou claro como um cristal: esqueçam Israel. Waters é um hater declarado dos judeus. Aquele vídeo é chocante.”

Waters não deixou a fala passar em branco e rebateu o rabino em seu perfil no Facebook:

“Esse seu acesso de raiva é inflamatório, não ajuda em nada e sugiro ser para apenas impedir o progresso em torno da paz e compreensão entre as pessoas. Também é extremamente insultante para mim, pessoalmente, que você me acuse de ser antissemita, um ‘hater’ de judeus e um ‘simpatizante nazista’.”

Assim como ocorreu no show de 2010, Waters ainda lembrou que o porco inflável usado na apresentação também continha símbolos do cristianismo, judaísmo e socialismo, além de marcas de renome e cifras de dólar. 

Nova comparação de Israel com a Alemanha nazista

Alguns dias mais tarde, Roger Waters voltou a comparar o estado de Israel com a Alemanha nazista. Durante conversa com Omar Barghouti, criador do movimento BDS, o ex-Pink Floyd afirmou que o governo israelense controla seus cidadãos por meio de propaganda da mesma maneira que a Alemanha fez no passado.

“Não é difícil lembrar do (Joseph) Goebbels (o ministro responsável pela propaganda na Alemanha nazista). A tática é contar a grande mentira o máximo possível, várias e várias e várias vezes. E as pessoas passam a acreditar nela.”

Sheldon Adelson e a morte de George Floyd

Já em junho de 2020, Waters voltou a causar polêmica por conta de uma entrevista que concedeu a um canal de TV palestino associado ao Hamas, o movimento que luta pela causa palestina, mas é visto como grupo terrorista por Israel.

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Primeiro, o músico acusou o empresário americano Sheldon Adelson, de origem judaica e financiador do Partido Republicano dos EUA, de estar manipulando o então presidente do país, Donald Trump, além de insultá-lo. Ele declarou (tradução via Tenho Mais Discos Que Amigos):

“O Sheldon Adelson é um fanático racista de direita que não entende a primeira coisa sobre a ideia de que os seres humanos podem ter direitos. [Ele] acredita que apenas judeus – somente judeus – são completamente humanos. Que eles estão ligados de alguma forma. [Ele acredita que] todo mundo na Terra está aqui para servi-lo. Sheldon Adelson acredita nisso. Não estou dizendo que o povo judeu acredita nisso. Eu estou dizendo que ele acredita, e ele está puxando as cordas. Então, ele tem essa estranha construção bíblica em sua cabeça, de que de alguma forma tudo ficará bem no mundo se houver uma Grande Israel, que ocupa toda a Palestina histórica e o Reino da Jordânia – reúna tudo isso e chame de Israel, a dando apenas ao Povo Escolhido… Ele é louco. Este é um cara louco, louco, louco.”

Depois, Waters afirmou que a morte de George Floyd, que ocorreu meses antes e gerou uma série de protestos nos Estados Unidos e até em outros países, foi fruto de treinamentos repassados por Israel para policiais americanos.

“Os israelenses inventaram (o método) ‘vamos matar pessoas ajoelhando sobre o pescoço delas’. É uma técnica israelense ensinada para ser militarizada nas forças policiais dos Estados Unidos por especialistas israelenses.

Os americanos têm os procurado para ensiná-los a como matar os negros, pois veem o quão eficientes os israelenses têm sido em assassinar os palestinos, em territórios ocupados, com o uso dessa técnicas, e e eles têm orgulho disso. Os israelenses têm orgulho disso.”

Por conta dessas declarações, ele pediu desculpas posteriormente em uma nota publicada em seu site oficial.

“Eu não tinha ideia de que estava evocando uma tropa antissemita. Lamento qualquer dano causado pelo meu uso de palavras ao povo judeu e também lamento que isso possa ter reforçado mentiras prejudiciais sobre os judeus. Nada poderia ter sido mais longe das minhas intenções. […] [Sobre a fala a respeito da polícia] Um amigo ao qual pedi orientação sobre isso me disse que em Israel não há esse treinamento policial com as táticas que usaram para matar George Floyd. Eles não precisam.”

Estas foram as principais declarações, ao longo dos últimos anos, que resultaram nestas acusações de que Roger Waters seria antissemita. E se considerarmos que ex-Pink Floyd é bastante engajado politicamente e gosta de falar o que pensa, podemos esperar mais polêmicas pela frente. 

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Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atua no mercado desde 2013 e já realizou trabalhos como assessor de imprensa, redator, repórter web e analista de marketing. É fã de esportes, tecnologia, música e cultura pop, mas sempre aberto a adquirir qualquer tipo de conhecimento.

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