Como a Marvel está quebrando a indústria de efeitos visuais, segundo sindicalista

Trabalhadores de estúdios de VFX têm condições de trabalho e remuneração cada vez piores, enquanto gigantes de Hollywood continuam a aumentar a demanda

A Fase 4 do Universo Cinematográfico Marvel (UCM) foi a mais criticada até agora, entre outras coisas, por conta dos efeitos visuais, muitas vezes de qualidade não tão alta. E isso tem um motivo: a Marvel Studios, divisão da Disney responsável pelo UCM, sob o comando de Kevin Feige, estaria quebrando financeiramente o setor da indústria responsável pelos efeitos visuais – ou VFX, na sigla em inglês.

A situação só piora ao longo do tempo. Quando “Thor: Amor e Trovão” foi lançado, o diretor Taika Waititi e a atriz Tessa Thompson deram entrevistas onde faziam piada com alguns dos efeitos do próprio filme.

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A coisa ficou ainda mais complicada quando a série “Mulher-Hulk: Defensora de Heróis” – uma das atrações com VFX mais criticado – tocou no assunto de maneira literal, com uma de suas famosas cenas de “quebra da quarta parede”.

Máquina de moer gente

Isso tudo é reflexo do que passam as empresas responsáveis pelos efeitos, onde os profissionais têm trabalhado cada vez mais, além de receberem remunerações mais baixas e em condições piores.

O artista de efeitos visuais Joe Pavlo, que também é sindicalista de sua área, falou ao Omelete sobre os problemas que esses profissionais têm enfrentado nos últimos anos. Segundo ele, o volume de trabalho é alto e os prazos, cada vez mais apertados.

“Eles querem que as coisas sejam feitas o mais rápido e barato possível, o que faz o sistema colapsar, tamanha a pressão. Os efeitos acabam não tendo a qualidade que deveriam. E a culpa não é dos artistas. Não há tempo e dinheiro o suficiente.”

Pavlo trabalha com VFX há mais de 30 anos e é um artista premiado, com um Emmy pela série de TV “Roma” e outro pelo filme “A Vida e a Morte de Peter Sellers”. Ele se sindicalizou em 2012, quando problemas similares aos que a categoria vive hoje começaram a surgir durante a pós-produção de “As Aventuras de Pi”, do diretor Ang Lee.

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Desde então, o profissional faz parte do Sindicato de Transmissão, Entretenimento, Comunicações e Teatro (Bectu, na sigla em inglês). O órgão britânico luta pelos direitos dos trabalhadores da área, o que incluiria até mesmo direitos pela criação de personagens e outras propriedades intelectuais.

Direito autoral

Ainda ao Omelete, Joe Pavlo explica que existem cenários, personagens e objetos hoje em dia nos filmes que são 100% criados do zero pela equipe de VFX, o que lhes daria esses direitos.

“Falamos de criaturas feitas só de CGI e ambientes criados no computador. Fazer essas coisas é como colocar o homem na lua. São necessárias muitas pessoas e trabalho árduo. Mas ainda assim, nossos clientes não são realistas. Se somos tão produtivos, por que nunca precisamos trabalhar tão duro e por mais tempo quanto hoje? Trabalhamos seis dias, 80 ou 90 horas por semana, em filmes frequentemente medíocres. Poderíamos trabalhar só três vezes por semana pelo pagamento que recebemos e tendo folgas remuneradas.”

O Bectu está em constante contato com sindicatos similares dos Estados Unidos, que parecem ser mais organizados e com maior poder de atuação. Cada caso é acompanhado pessoalmente pela entidade.

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Segundo Pavlo, já houve casos de doenças graves e até suicídios causados pela jornada extenuante e quantidade de trabalho além da conta para suprir as demandas dos estúdios e criadores de conteúdo, que estão sempre na briga para sair na frente da concorrência.

Futuro nada promissor

Pelo tamanho que adquiriu nos últimos anos, a Marvel Studios é o principal causador dos problemas atuais dos profissionais de VFX, mas está longe de ser o único. Joe Pavlo cita ainda a Netflix e seu conteúdo original, bem como produções menores, mas que contam com prazos e orçamentos insuficientes para a entrega do trabalho como deve ser.

Kevin Feige, o homem que comanda tudo nos filmes da Marvel, é famoso por cobrar pessoalmente a alta performance dos efeitos visuais, tão imprescindíveis para seus longas. O próprio Pavlo trabalhou com Feige no primeiro filme dos “Guardiões da Galáxia”, em 2014. As Fases 5 e 6 do UCM serão iniciadas nos próximos meses, com grandes produções que incluem dois novos filmes dos Vingadores, o que já cria expectativas negativas entre os artistas de VFX.

Enquanto Marvel, Warner/DC e outros estúdios brigam por cada centavo de bilheteria, centímetro de exposição publicitária e segundo de propaganda, os trabalhadores estariam seguindo sem muito amparo e em condições cada vez piores. E não há super-herói capaz de combater essa vilania.

A entrevista completa com Joe Pavlo pode ser lida no Omelete.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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