A história do multiplatinado álbum de estreia do Blind Melon

Primeiro disco do grupo liderado pelo vocalista Shannon Hoon traz o hit “No Rain” como destaque

O Blind Melon tinha tudo para despontar como uma das grandes bandas dos anos 1990. Foram muitas as vezes em que a sorte lhes sorriu…

Mas quem disse que isso seria o suficiente?

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O irmão do rock de Lafayette

O Blind Melon foi formado em Los Angeles, Califórnia, em 1989. O nome veio da música “Blind Melon Chitlin’”, presente no álbum homônimo da dupla humorística Cheech & Chong lançado em 1971.

O line-up original consistia em Shannon Hoon (vocais), Rogers Stevens (guitarra solo), Christopher Torn (guitarra base), Brad Smith (baixo) e Glen Graham (bateria).

Gene Simmons, do Kiss, foi um dos primeiros a enxergar o potencial da banda, chegando a convidá-la para visitar sua casa onde conversas sobre um possível empresariamento ocorreram. Ao fim do dia, porém, nenhum papel foi assinado.

Em 1991, a demo “The Goodfoot Workshop” chamou a atenção da Capitol Records, que ofereceu um contrato e disponibilizou um orçamento de 500 mil dólares para a gravação do primeiro disco.

Mas antes que “Blind Melon”, o álbum, chegasse às lojas, Hoon se tornaria rosto conhecido na indústria fonográfica: é dele a voz aguda que se ouve em “Don’t Cry”, do Guns N’ Roses. Assim como Axl Rose, Hoon era de Lafayette, Indiana, e havia deixado sua cidade natal em busca de melhores oportunidades de carreira. Os dois se conheciam desde a época da escola.

Embora tenha cantado em outras músicas de “Use Your Illusion”, foi a participação de Hoon no videoclipe da baladaça que pôs seu nome — e por conseguinte o de sua banda — em evidência.

“OK, chamemos de ‘pegada setentista’”

Não obstante a bênção do maior nome do hard rock daquele tempo, ter aberto shows para o Soundgarden durante a turnê de “Badmotorfinger” aproximou o Blind Melon da cena grunge. Como resultado disso, Rick Parashar, que havia produzido “Ten” do Pearl Jam e o primeiro e único disco do Temple of the Dog, foi quem conduziu as gravações do álbum de estreia da banda.

Gravado quase que inteiramente ao vivo em estúdio — o estúdio, no caso, sendo o London Bridge, em Seattle, de onde saíram clássicos como “Apple” (Mother Love Bone), “Facelift” (Alice in Chains) e os supracitados “Ten” e “Temple of the Dog” —, “Blind Melon” abusa dos equipamentos vintage, como amplificadores valvulados e microfones de outrora.

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A inspiração para isso, segundo Hoon em entrevista ao Lawrence Journal-World de 1º de agosto de 1993, foram artistas e bandas dos anos 1960 e 1970:

“Allman Brothers [Band]; Crosby, Stills, Nash and Young […] Aquela pegada caseira, aconchegantes — OK, chamemos de ‘pegada setentista’. Todos [da banda] amamos as produções dessa época […] Vários álbuns dos [Rolling] Stones que soam exatamente da mesma forma independentemente de onde você os ouça. Você cria meio que uma identidade invisível para o álbum quando o grava de determinada maneira.”

Também é notório ao longo do disco a divisão entre os sons de guitarra, com a de Stevens predominantemente no lado direito da mix e a de Thorn no lado esquerdo; tal qual eram (e são até hoje) divididas as guitarras nos álbuns dos Rolling Stones.

Três acordes e a depressão

A pegada quase minimalista e de sonoridade propositalmente ultrapassada é evidente sobretudo em “No Rain”, segundo e maior single extraído do álbum e, possivelmente a música mais conhecida do grupo.

Construída em cima de três acordes, “No Rain” evoca as raízes do cancioneiro estadunidense tanto na forma acústica — à exceção do solo de guitarra com um mínimo de overdrive — quanto no conteúdo em tom de desabafo da letra sobre a incapacidade de sair da cama e ficar arranjando desculpas para não encarar o dia.

A letra de “No Rain” foi escrita por Brad Smith e a inspiração foi sua então namorada, que sofria de depressão.

Felicidade e pertencimento

Por mais legal que a música seja e por mais dinheiro que a Capitol tenha investido no lançamento do single em múltiplos formatos, somente quando o clipe de “No Rain” estreou na MTV que as vendas do álbum, lançado a 22 de setembro de 1992, dispararam, ultrapassando as 4 milhões de cópias vendidas.

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Nele, a atriz Heather DeLoach dá vida à “bee girl” que ilustra a capa do disco. O clipe começa com a jovenzinha com fantasia de abelha sendo ridicularizada pelo público num concurso de talentos. Ela sai chorando pelas ruas de Los Angeles até encontrar um grupo de pessoas também fantasiadas de abelhas e poder voltar a sorrir e dançar.

A mensagem é nítida: uma das condições da felicidade é a sensação de pertencimento.

As drogas, sempre elas

Os dois anos seguintes ao lançamento de “Blind Melon” seriam passados na estrada, com direito a Hoon indo preso em 1993 por urinar em cima de um fã num show no Canadá e subindo ao palco do Woodstock ’94 chapado de LSD usando um vestido da namorada. 

Dada a inconsequência resultante do uso de drogas, não houve quem não desconfiasse de que a boa fase não duraria muito. Dito e feito: dois meses após “Soup” (1995), o segundo álbum, chegar às lojas, Shannon morreria de overdose aos 28 anos.

Portanto, passados trinta anos de seu lançamento, “Blind Melon” tende a ser lembrado como o primeiro passo de uma banda que tinha tudo — além do talento, “padrinho” ultrafamoso e uma gravadora disposta a investir — para ter chegado muito longe.

Blind Melon – “Blind Melon”

  • Lançado em 22 de setembro de 1992 pela Capitol Records
  • Produzido por Rick Parashar e Blind Melon

Faixas:

  1. Soak the Sin
  2. Tones of Home
  3. I Wonder
  4. Paper Scratcher
  5. Dear Ol’ Dad
  6. Change
  7. No Rain
  8. Deserted
  9. Sleepyhouse
  10. Holyman
  11. Seed to a Tree
  12. Drive
  13. Time

Músicos:

  • Shannon Hoon (voz, violão, tamborim)
  • Brad Smith (baixo, flauta, backing vocals)
  • Rogers Stevens (guitarra solo)
  • Christopher Thorn (guitar rítmica, bandolim)
  • Glen Graham (bateria, percussão)

Músico adicional:

  • Ustad Sabri Khan (sarangi na faixa 9)

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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