Atenção: o texto a seguir não contém spoilers da quarta temporada de “Stranger Things”, mas pode apresentar spoilers de anos anteriores.
Meses atrás, foi noticiado que a Netflix, responsável por “Stranger Things” e tantas outras produções, perdeu assinantes pela primeira vez em uma década. Ao todo 200 mil clientes deixaram o serviço de streaming no primeiro trimestre de 2022.
Muito se debateu sobre os motivos de tal debandada. Falou-se bastante sobre os preços mais altos ou a forte concorrência, mas o problema pode ser, simplesmente, qualidade. O público está mais exigente depois de consumir tantos produtos rivais. E tal hipótese volta a se reforçar após a estreia do primeiro volume da quarta (e penúltima) temporada de “Stranger Things”.
Lançada em 2016, a série precisou de poucos dias para se tornar um fenômeno global com sua primeira temporada. Com um roteiro primoroso, uniu terror, mistério, personagens carismáticos e muita nostalgia, já que se passa na década de 1980.
Os anos dois e três foram lançados na sequência. Diante disso, a Netflix demonstrou estar consciente de que não dava para a produção ser duradoura e anunciou que a quinta temporada seria a última. E prometeu um final emocionante.
O caminho até a conclusão, porém, não tem sido dos melhores. Os sete primeiros episódios da temporada que antecede o fim de “Stranger Things” apresentam decisões ruins que afastam o seriado de sua ideia original.
Aqui, distancia-se do terror e mistério em prol de uma trama bagunçada, com três enredos desnecessários – e uma quarta história, digna de aplausos, é tratada de forma qualquer.
Protagonismo mal direcionado
A quarta temporada de “Stranger Things” começa nos apresentando seu novo vilão, o assustador Vecna. Trata-se de uma clara homenagem a Freddy Krueger (Robert Englund), uma vez que o antagonista tem como fonte principal de ataque as mesmas características do bom e velho Freddy –os sonhos.
Todas as cenas envolvendo a nova ameaça são ótimas. São perturbadoras e trazem todo o suspense e mistério típicos da série. Não há medo de chocar também nas mortes, ao melhor estilo de filmes como “O Chamado” (2002).
A trama, obviamente, acontece na fictícia cidade de Hawkins. E tudo fica ainda melhor quando a turma começa a agir. O time da vez traz como destaques os ótimos Lucas (Caleb Mclaughlin) e Max (Sadie Sink), Nancy (Natalia Dyer) em sua melhor participação e desempenho até agora, a divertida Robin (Maya Hawke), o novato e surpreendente Eddie Munson (Joseph Quinn) e a já conhecida dupla Steve (Joe Keery) e Dustin (Gaten Matarazzo), novamente demonstrando sua química.
Mas quando Eleven (Millie Bobby Brown) volta a surgir novamente como protagonista, há problemas. Sem carisma e sem seus poderes, a personagem nos oferece uma história de bullying no passado e presente. Há apenas muito choro e vários gritos durante as tentativas de recuperar tais poderes em meio a um arco arrastado, que deixa o público exausto demais para curtir o bom “plot twist” ao fim do volume um. Culpa dos criadores, diretores e roteiristas, não da atriz, embora a performance da colega Sadie Sink (Max) nos faça questionar por que ela não tem os mesmos holofotes.
E não dá nem para alegar que faltou tempo para desenvolver o arco. Os episódios deste novo ano são enormes. Cada um deles ultrapassa a marca de uma hora e 10 minutos. O segundo volume, que estreia em julho, ainda trará um último episódio com duas horas e 19 minutos. Dá para dizer que faltou mais coragem para pensar fora da “caixinha” e colocar todo o protagonismo em apenas uma personagem.
A volta de Jim Hopper
Muitos seriados têm feito sucesso nos últimos anos devido à coragem de se matar personagens queridos. A comoção sempre é prolongada.
É o caso do valente policial Jim Hopper (David Harbour), melhor personagem de “Stranger Things”. Após seu emocionante falecimento, o personagem é trazido de volta das cinzas – o que já era sabido, mas a pergunta “como ele sobreviveu àquilo?” permaneceu por dois anos.
A resposta, infelizmente, é bastante simplória. Em mais uma trama da série, somos obrigados a acompanhar Jim Hopper sendo capturado e levado preso em uma espécie de “Alcatraz Russa”. A situação piora quando Joyce Byers (Winona Ryder), extremamente caricata nesta temporada, embarca em uma missão surreal pela Rússia para resgatar o amado policial.
O núcleo em si não é ruim. David Harbour é um grande ator até calado. Mas há exageros na trama, como aviões que caem e todos sobrevivem, invasão a locais secretos, corridas com um pé totalmente destroçado, entre outros pontos.
E o final?
A quarta temporada de “Stranger Things” apresenta quatro histórias separadas que precisam – e vão – se juntar de alguma forma para o grand finale. Ainda há Mike (Finn Wolfhard), Jonathan (Charlie Heaton) e Will (Noah Schnapp) em busca de motivos de estarem na série nesta temporada – com destaque às cenas sobre a sexualidade do último citado – e uma sequência de dramas pseudoadolescentes que foram inventados para o novo ano e agora precisam ser resolvidos, novamente rebaixando o carismático Steve de Joe Keery após ele parecer ter encontrado seu lugar ao sol.
Faltam mais dois episódios e pouco mais de três horas de conteúdo. Infelizmente, a série não soube aproveitar seu pote de ouro e decidiu dar atenção a elementos descartáveis. Dispensaram a máxima “menos é mais”. Agora, resta-nos torcer para que os próximos episódios encontrem seu caminho de volta às origens ou que seja tomada uma decisão: “Stranger Things” é uma série para crianças, adolescentes ou para todos? Porque começou sendo para todos.
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critica mais merda, a série está boa, vcs que são chatos demais.
quer uma série perfeita? faça uma então.