Como o Faith No More mudou em seu auge e nos deu “Angel Dust”

Ao decidir que não repetiria sonoridade de “The Real Thing”, banda adotou abordagem experimental e surpreendeu em muitos sentidos

Na virada para os anos 1990, o Faith No More estava no topo. O álbum “The Real Thing” (1989) e a turnê subsequente foram sucessos tão esmagadores que posicionaram o grupo como um dos líderes de uma nova onda de bandas que fundia metal tradicional com funk, rap e experimentalismo.

Entretanto, os integrantes viram uma oportunidade no disco seguinte de fazer algo tão diferente, tantos anos à frente da expectativa do público, que alienou a maioria dos fãs de “The Real Thing”, apenas para ganhar uma nova legião tempos depois.

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Estamos falando da obra-prima do metal alternativo que é “Angel Dust”.

Sem espaço na tela

“The Real Thing” pode ter sido um sucesso estrondoso, mas também sinalizou para vários integrantes que o grupo estava correndo perigo de se repetirem.

Numa entrevista para a Metal Maniacs, o baterista Mike Bordin explicou a sensação dentro da banda:

“Quando voltamos de quase um ano e meio de turnê era como se a gente tivesse um daqueles brinquedos de desenhar na tela e a tela estava completamente coberta de coisas, não tinha mais espaço pra nada naquela tela, então dissemos ‘beleza’, apagamos tudo e começamos a compor material novo.”

O grupo tirou um ano e meio de férias após a turnê de “The Real Thing” e os membros começaram a explorar seus interesses próprios, vendo como poderiam se adequar ao Faith No More. O baixista Billy Gould começou a andar com Jello Biafra, do Dead Kennedys, além da banda de death metal mexicana Brujeria, e se interessar por easy listening. O tecladista Roddy Bottum mergulhou de cabeça em eletrônica e techno. E o vocalista Mike Patton colaborou com o músico de jazz avant-garde John Zorn e seu projeto Naked City, além de finalmente gravar o álbum de estreia do Mr. Bungle, que liderava antes de ser contratado pelo Faith No More.

O vocalista finalmente dá seus pitacos

Apesar de ter sido o primeiro álbum com Mike Patton na formação, “The Real Thing” já estava composto e gravado quando ele entrou para o Faith No More. Ele só contribuiu com as letras e gravou os vocais. Nesse novo trabalho, Patton se viu numa posição de ter mais influência sobre os rumos musicais do grupo e estabelecer uma presença verdadeira, como ele disse ao jornalista Steffan Chirazi em 1992:

“Nunca houve nenhuma questão sobre eu permanecer na banda. Começamos a escrever as músicas para esse álbum e ser parte de algo tão fundamental foi o que assegurou isso pra mim. ‘The Real Thing’ era como se fosse de outras pessoas, e da banda de outras pessoas, era como se fosse uma obrigação. Eles não tinham precisado de um vocalista, era só que eles tinham que ter um vocalista. Era por isso que eu estava lá, era por isso que o Chuck [Moseley, vocalista original do grupo que Patton substituiu] estava, a gente não era necessário ali.”

A influência do vocalista pode ser atribuída principalmente à natureza eclética de “Angel Dust”. Vários integrantes estavam trazendo influências novas para o som do grupo e acabava sendo trabalho do vocalista encontrar maneiras de fazer tudo funcionar junto – ou encontrar uma maneira de fazer suas próprias contribuições combinarem com o resto.

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Outro sinal da presença de Patton era o conteúdo das letras, que eram inspiradas por fontes tão inusitadas quanto biscoitos da sorte chineses, programas de talk show, testes de personalidade oferecidos pela Cientologia e experimentos do vocalista de privação de sono.

Em entrevista à Circus Magazine, Patton detalhou parte de sua rotina criativa na época:

“Eu ficava dando voltas no meu Honda. Dirigia para uma parte muito ruim da cidade, estacionava e ficava observando pessoas. Cafés e lanchonetes bem pé-sujo eram ótimas para inspiração.”

Brigas internas

À medida que as gravações de “Angel Dust” foram avançando, um integrante estava se sentindo cada vez mais alienado pela direção sendo tomada com tanto entusiasmo pelo resto. Mais afeito ao metal tradicional, o guitarrista Jim Martin é listado como compositor em apenas três canções – “Jizzlobber”, “Crack Hitler” e “Kindergarten”.

Seu desprazer se estendia até ao nome do disco. Em uma entrevista à MTV durante as gravações, Martin falou:

“Roddy queria chamar o disco de ‘Angel Dust’. Não sei por que, só quero que saibam que se for chamado ‘Angel Dust’, não teve nada a ver comigo.”

Sobre a razão de ter sido chamado “Angel Dust”, Roddy Bottum explicou ao Public News em 1993:

“Acho que é um título que resume o que fizemos perfeitamente. É um lindo nome para uma droga horrenda e isso deveria fazer as pessoas pararem para pensar.”

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Confusão geral

Apesar das tensões entre os integrantes, que incluía o vício crescente em drogas de Bottum, “Angel Dust” foi finalizado e lançado em 8 de junho de 1992. Vendeu aproximadamente 625 mil cópias simplesmente por ser a mesma banda de “The Real Thing”.

Apesar de críticas excelentes, o público não estava nada preparado para essa evolução sonora. Estamos falando em lançar um disco extremamente complexo que combina metal, funk, rap, industrial, avant-garde e até mesmo Henry Mancini durante o auge do grunge.

Nos Estados Unidos, o ímpeto inicial de vendas caiu uma vez que o público se viu confuso com o trabalho. Enquanto isso, no Reino Unido, o álbum vendeu ainda mais que seu antecessor graças a uma cover de “Easy”, dos Commodores, lançada como single no país.

Ao todo, “Angel Dust” vendeu mais de um milhão de cópias nos Estados Unidos até hoje, com mais de três milhões sendo vendidas no resto do mundo. A influência do disco se viu presente já no final dos anos 1990, em bandas como Deftones e System of a Down.

Entretanto, antes mesmo que o grupo pudesse ver os frutos de seu trabalho inovador em “Angel Dust” moldarem o mainstream do rock, o Faith No More terminou em 1998, para só voltarem à ativa novamente em 2009.

Hoje em dia, o grupo segue forte e “Angel Dust” tem lugar cativo em listas dos melhores e mais influentes discos de metal de todos os tempos.

Faith No More – “Angel Dust”

  • Lançado em 8 de junho de 1992 pela Slash / Reprise Records
  • Produzido por Matt Wallace e Faith No More

Faixas:

  1. Land of Sunshine
  2. Caffeine
  3. Midlife Crisis
  4. RV
  5. Smaller and Smaller
  6. Everything’s Ruined
  7. Malpractice
  8. Kindergarten
  9. Be Aggressive
  10. A Small Victory
  11. Crack Hitler
  12. Jizzlobber
  13. Midnight Cowboy

Músicos:

  • Mike Patton (vocais, escaleta na faixa 13, samples na faixa 3)
  • Jim Martin (guitarra)
  • Billy Gould (baixo)
  • Mike Bordin (bateria)
  • Roddy Bottum (teclados)

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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