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Sobriedade deu a Dee Dee Ramone sua ideia mais maluca: virar rapper

Nos anos 1980, lendário baixista dos Ramones deixou banda que o transformou em lenda para tentar a sorte no hip hop - o que não deu certo

Uma daquelas obras de inspiração tão questionável que era óbvio ter sido lançada nos anos 1980. “Standing in the Spotlight”, primeiro disco solo de Dee Dee Ramone sob a alcunha Dee Dee King, é um daqueles álbuns capazes de fazer o ouvinte imaginar a quantidade de entorpecentes necessária para fazer alguém considerar aquilo uma ideia boa.

No caso de Dee Dee Ramone, um dos mais notórios usuários de drogas da história do rock, a resposta, surpreendentemente, é nenhuma. O cara era simplesmente pirado o suficiente pra decidir que, após anos de punk rock, ele deixaria os Ramones de lado para se tornar um rapper.

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Descobrindo a sobriedade e o hip hop

Em 1987, Dee Dee Ramone estava numa clínica de reabilitação após as gravações do disco “Halfway to Sanity”, dos Ramones. Durante esse período, ele foi apresentado ao hip-hop por um grupo de jovens que morava perto do centro.

O hip hop e o punk tiveram suas origens na mesma cidade durante o mesmo período de tempo, mas pelo visto Dee Dee estava preocupado com outras coisas para sequer aprender sobre a existência do gênero. 

Entretanto, a descoberta mudou sua vida, como ele é citado no site Far Out Magazine:

“Eu cansei dos Ramones na época que saí e entrei de cabeça no rap. Achava que era o novo punk rock. LL Cool J era meu maior ídolo.”

A primeira vez que os outros membros dos Ramones souberam dessa epifania musical do baixista aparentemente quando ele apareceu em um ensaio usando correntes de ouro, cabelo arrepiado, e proclamando sua nova missão de vida no rap.

Durante a reabilitação, ele até escreveu seu primeiro single solo nesse estilo, “Funky Man”. Quer ver o refrão?

“I’m a funky man
I got funky bones
I’m a funky man
My name is Dee Dee Ramone!”

Hip hop, mas nem tanto

A gravadora deu 25 mil dólares para Dee Dee gravar “Standing in the Spotlight” por inteiro, mais como favor do que qualquer outra coisa. Enquanto Joey e Johnny queriam nada a ver com a empreitada, Marky deu uma pequena força para o companheiro de banda. 

Em sua biografia “Punk Rock Blitzkrieg: My Life as a Ramone”, ele descreveu sua reação ao pedido de Dee Dee para que tocasse bateria no disco:

“Preferi só aconselhá-lo sobre quais batidas usar e receber um agradecimento quieto. Eu era um roqueiro, não um rapper.”

Ninguém envolvido no disco era realmente rapper ou produtor desse tipo de música. Em uma entrevista à CLRVYNT, o engenheiro de som Greg Gordon explicou a diferença:

“Eu trabalhei com Public Enemy, LL Cool J, Stetsasonic, Run-D.M.C. Mas nós não fizemos o álbum com técnicas de hip hop. Outros caras da cena faziam música vindo e buscando ritmos em discos antigos para tentar casar coisas diferentes. Mas esse disco foi feito mais como uma gravação de rock das antigas com uma bateria eletrônica.”

Solidariedade a Dee Dee Ramone

Por mais que “Standing in the Spotlight” fosse uma empreitada bizarra aos olhos de todos, o que fica claro todos esses anos depois é o quanto pessoas estavam lá para o amigo em necessidade. O produtor Daniel Rey chegava a atender pedidos do músico de acompanhá-lo até a loja de conveniência da esquina porque Dee Dee tinha medo de querer e conseguir drogas no caminho.

Debbie Harry e Chris Stein, do Blondie, gravaram participações especiais na canção “German Kid”. Eles apareceram a pedido da equipe, com Stein dizendo ter uma ideia para guitarra na canção, que acabou sendo uma interpretação super lenta de “Ride of the Valkyries”, de Wagner. Pura galhofa.

Na entrevista à CLRVYNT, Greg Gordon falou sobre sua experiência trabalhando no disco:

“A gravação foi uma alegria só. Eu me sinto muito sortudo por fazer discos. E qualquer vibe que estiver rolando no estúdio acaba indo parar no disco. E aquele disco era o apoio positivo para a vida de alguém. Dee Dee querendo fazer algo melhor do que ir pelo ralo. Era uma boa energia naquele disco. Um disco bem Dee Dee.

Não dá pra chamar de pior disco de hip hop de todos os tempos porque não acho que é um disco de hip hop. É o melhor disco de rap do Dee Dee King. Eu imagino que quando os Ramones surgiram, pessoas pensaram que era o pior disco de rock’n’roll já feito. Eu mixei “Bring the Noise” (de Anthrax e Public Enemy), frequentemente chamada de melhor gravação de hip hop. Se o Dee Dee tiver a pior gravação de hip hop, então tenho o espectro todo coberto!”

Dee Dee deixou o rap para trás logo depois, voltando ao punk rock que o fez famoso. Ele deixou os Ramones em 1989, mas continuou compondo canções para o grupo.

Anos depois de “Standing in the Spotlight”, Johnny Ramone – o mais cético com relação à guinada rap de Dee Dee – decidiu incluir uma das canções do álbum, “The Crusher”, em “¡Adios Amigos!”, último álbum de estúdio dos Ramones.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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