O juiz Fernando M. Olguin, do tribunal da Califórnia, Estados Unidos, optou pelo arquivamento do processo de Spencer Elden, o homem retratado ainda bebê na capa do álbum “Nevermind” (1991), do Nirvana, contra a própria banda. Ele acusa o grupo e vários de seus representantes de “pornografia infantil”.
De acordo com a Spin, o arquivamento ocorreu após pedido do próprio espólio do Nirvana – que não foi rebatido pelos advogados de Elden. A equipe jurídica do rapaz de 30 anos tinha até a última quinta-feira (30/12) para se opor à solicitação dos réus, mas não o fez.
Documentos jurídicos acessados pela publicação apontam:
“A não-apresentação de um novo recurso resultará na extinção desta ação sem prejuízo do descumprimento da ação penal e / ou do descumprimento de ordem judicial.”
Agora, Spencer tem até o dia 13 de janeiro para apresentar um recurso que reativa o processo. Caso isso seja feito, os representantes do Nirvana terão até o dia 27 do mesmo mês para rebater a acusação.
A acusação
Em agosto último, Spencer Elden moveu um processo contra os integrantes remanescentes do Nirvana, o espólio do falecido Kurt Cobain, o fotógrafo Kirk Weddle e empresas envolvidas com o lançamento de “Nevermind”.
A alegação feita é de que eles teriam praticado “pornografia infantil”, desrespeitando leis federais dos Estados Unidos, com a capa do trabalho. São, ao todo, mais de 10 partes acusadas – pede-se indenização de US$ 150 mil (cerca de R$ 787 mil) de cada uma delas no processo, além de um julgamento por júri e proibição das “práticas ilegais” por parte dos envolvidos.
Os pais de Elden, segundo ele, nunca assinaram nenhum contrato que autorizasse a divulgação das fotos. Eles teriam recebido apenas US$ 200 pelas imagens. Afirma-se que os integrantes do Nirvana prometeram cobrir as genitais do bebê, o que não ocorreu.
“Os réus conscientemente produziram, tiveram posse e promoveram pornografia infantil comercialmente, retratando Spencer, e eles sabidamente receberam valor em troca de fazê-lo. Apesar disso, os réus não tomaram medidas razoáveis para proteger Spencer e evitar a disseminação de sua exploração sexual e tráfico de imagens.”
Atualização
Já em novembro, os representantes do homem atualizaram a lista de réus do processo. Courtney Love, viúva de Kurt Cobain e principal responsável do espólio dele, agora é ré da ação. Em contrapartida, saíram o baterista Chad Channing, que saiu do Nirvana um ano antes de “Nevermind” ser lançado; a gravadora Warner Music; e Heather Parry e Guy Oseary, citados como gerentes do espólio de Cobain.
A atualização usou até mesmo um trecho de um diário de Kurt, publicado como livro em 2002. Diz:
“Diários sem data escritos por Cobain esboçam a capa do álbum de uma maneira sexual, com sêmen por toda parte. Em vários casos, os diários descrevem a visão distorcida de Cobain para a capa do álbum ‘Nevermind’, junto com suas lutas emocionais: ‘gosto de fazer incisões na barriga de bebês e depois f*der a incisão até que a criança morra’.”
A resposta do Nirvana
A resposta da equipe jurídica do Nirvana na Justiça ocorreu em dezembro. Eles pediram que o processo fosse arquivado, dizendo que os argumentos de Spencer Elden não são “não são sérios” e que mesmo se as acusações fossem reais, teriam sido prescritas porque a lei federal de pornografia infantil dos Estados Unidos limita o tempo hábil a 10 anos.
“Elden passou três décadas lucrando com status de celebridade como o ‘bebê do Nirvana’. Chegou a reencenar a fotografia muitas vezes em troca de compensações financeiras. Teve o título do álbum ‘Nevermind’ tatuado em seu peito. Apareceu em um talk show vestindo um macacão se autoparodiando. Autografou cópias da capa do álbum à venda no eBay. Usou a conexão para flertar com mulheres.”
Nirvana, “Nevermind” e Spencer Elden
Lançado em setembro de 1991, “Nevermind” é o álbum de maior sucesso da carreira do Nirvana e um dos discos mais vendidos da história da indústria fonográfica. Mais de 30 milhões de cópias do trabalho foram comercializadas mundialmente, no embalo de hits como “Smells Like Teen Spirit”, “Come as You Are”, “Lithium” e “In Bloom”.
Embora tenha recriado a foto diversas vezes, Spencer Elden já havia revelado certo incômodo por ter aparecido na capa do álbum. À revista Time, em 2016, ele declarou:
“É uma viagem. Todos os envolvidos no álbum ganharam muito, muito dinheiro. Sinto como se eu fosse o último a ser lembrado do grunge. Moro com minha mãe e dirijo um Honda Civic. É difícil não se chatear quando você se lembra da quantidade de dinheiro envolvida. Vou a um jogo de beisebol e penso: ‘todos aqui provavelmente viram meu pequeno pênis de bebê’. Sinto que uma parte dos meus direitos humanos foi revogada.”