Matt Sorum caiu como uma luva para o Guns N’ Roses. O baterista deixou o The Cult para se juntar à banda em 1990, logo após a demissão de Steven Adler, para concluir as gravações dos álbuns “Use Your Illusion”. Permaneceu no posto até 1997.
A década de 90 como um todo marcou um período de mudanças para o GN’R. Após estourarem com o álbum “Appetite for Destruction” (1987), Axl Rose e companhia buscaram uma sonoridade diferente, com os já mencionados “Illusion”. Mais pianos, mais músicas grandiosas e especialmente mais shows e turnês de proporções gigantescas.
Em entrevista a Mitch Lafon, no ano de 2016, Sorum concordou com o rótulo de “banda mais perigosa do mundo”, atribuído ao Guns N’ Roses no período. Todavia, explicou que o motivo do “perigo” estava relacionado à própria exaustão que o grupo havia sido submetido na época.
“Nunca sabíamos o que aconteceria. Não havia senso de estabilidade. Aquilo manteve a banda em um estado constante de agressão. Quando subíamos ao palco, descontávamos em nossos instrumentos em exaustão ou raiva. Aquilo fazia o show se tornar lendário.”
Os próprios atrasos de Axl Rose para iniciar os shows colaboravam para esse cenário, conforme revelado pelo músico em outra entrevista, à Billboard, já em 2021.
“Quando falo sobre estar no camarim e estamos duas horas atrasados e eu estou frustrado, assim que você sobe ao palco, era totalmente rock and roll. Antes de subir, estávamos abatidos, pois havia muita frustração, raiva, ansiedade – mas isso tudo levava o show para outro nível.
A plateia ficava elétrica, porque estavam com raiva devido ao nosso atraso. Mas assim que subíamos ao palco, algumas noites simplesmente pegavam fogo.”
Pianos e correria
Matt Sorum também destacou que esperava encontrar algo distinto ao entrar no Guns N’ Roses, de acordo com a mencionada entrevista a Mitch Lafon.
“Tudo era tão diferente do que esperava. Achei que encontraria uma mistura entre AC/DC e Aerosmith, com Sex Pistols e Nazareth. Daí vieram os pianos e aquelas músicas épicas de 10 minutos. Fiquei surpreso.”
Era uma experiência cansativa, sobretudo porque todo o processo se atropelava.
“Não tínhamos muito tempo para preparar. Ensaiamos um mês e fomos gravar. Tivemos que aprender 33, 34 músicas e logo gravamos. Tive muito para aprender. A forma que operamos era insana. Tínhamos um ou dois takes e estava pronto. Não havia cortes, como as bandas de hoje em dia.”
As personalidades no Guns N’ Roses
Ainda durante o bate-papo com Mitch Lafon, Matt Sorum também falou sobre as personalidades que encontrou dentro do Guns N’ Roses.
“O líder, para mim, era Slash – ele tinha uma boa ética de trabalho. Axl era o frontman, que controlava o que aconteceria naquela noite. Eles queriam alguém para segurar a barra e eu fiz isto. Foi interessante, porque as coisas estavam mudando tão rapidamente.”
A personalidade controladora de Rose se refletia muito fora dos palcos, conforme revelado pelo baterista em outra entrevista, agora à Rolling Stone, também em 2021.
“Quando entrei, havia os quatro caras originais. Quando ficamos tão grandes (após os ‘Illusion’), a máquina meio que assumiu o controle. Tomamos decisões que não estavam completamente claras em nossas mentes, com base no álcool e nas drogas. Se havia alguém sóbrio, era Axl. Ele sempre foi acusado de ser o pior viciado em drogas, mas estava apenas tentando conduzir o navio.”
A demissão de Matt Sorum
A saída de Matt Sorum se deu em 1997, em meio a um período pouco produtivo do Guns N’ Roses. Na época, Slash já não fazia mais parte do grupo, mas Duff McKagan e o baterista seguiam como integrantes, ao lado de Rose e do guitarrista rítmico Paul Tobias.
A dispensa ocorreu durante uma sessão de estúdio com os primeiros rascunhos do que se tornaria o álbum “Chinese Democracy” (2008). Tobias chegou ao local criticando uma participação de Slash no programa de TV de David Letterman. Matt reagiu de imediato.
Conforme apontado pelo Uol, o baterista “mandou Paul calar a boca insinuou que ele não sabia tocar ‘Sweet Child O’Mine'”. Axl Rose testemunhou o ocorrido, não aprovou e sobrou para Matt, que foi demitido no ato.
A reportagem aponta que Matt Sorum expressa “sentimentos dúbios” sobre Axl Rose em seu livro biográfico “Double Talkin’ Jove”, pois o vocalista é definido por ele como um “babaca” nos bastidores, mas um “monstro sagrado” no palco.