Como nasceu o Audioslave, um dos grandes supergrupos da história do rock

Das cinzas do Rage Against the Machine, foi erguido outro gigante do rock, agora com a melódica e impactante voz de Chris Cornell

O fim do Soundgarden e do Rage Against the Machine, respectivamente em 1997 e 2000, deu origem ao Audioslave, um dos supergrupos mais celebrados do rock.

Sem o vocalista Zack de la Rocha, o núcleo instrumental do RATM – Tom Morello (guitarra), Tim Commerford (baixo) e Brad Wilk (bateria) – recrutaram Chris Cornell, do Soundgarden, para o projeto, fundado em 2001. O álbum de estreia, homônimo, saiu logo em novembro do ano seguinte e trouxe um verdadeiro arsenal de hits.

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Capa do álbum “Audioslave”, lançado em novembro de 2002

O anjo na encruzilhada

O Rage Against the Machine foi vítima de suas próprias tensões internas, o que fez Zack de la Rocha deixar a banda no ano 2000. A ideia dos músicos remanescentes era seguir com o grupo junto de um novo vocalista.

Muitos testes foram feitos, principalmente com outros rappers, na pegada de Zack. Com o tempo, o trio instrumental percebeu que não queria algo do tipo naquele momento.

Nesse momento de transição, uma figura de grande importância na música se fez presente, mais uma vez sendo decisivo: Rick Rubin. O produtor e amigo dos músicos orientou o Rage Against the Machine a se submeter a uma terapia em grupo. A ideia foi celebrada por Commerford, que apelidou Rubin de “o anjo na encruzilhada” por conta disso.

Mais do que colocar ordem na casa, o produtor também recomendou um vocalista para que o grupo seguisse em frente: Chris Cornell. Na época, o cantor trabalhava em carreira solo, visto que o Soundgarden havia encerrado atividades também devido a tensões internas.

Tom Morello, que dizia ser fã da banda de Cornell e principalmente do álbum “Badmotorfinger” (1991), contou ao canal “Q on CBC” como foi o primeiro – e assustador – encontro entre ele, Rubin e Cornell, na casa do vocalista.

“Encontrávamos Chris em shows, talvez em churrascos ou coisas assim, mas Tim, Brad e eu falamos com Rick Rubin e eu fui com Rick à casa de Chris. Ele estava morando em Ojai, que ficava a uma hora e meia de Los Angeles. Lá, o céu parece mais escuro e é mais arborizado e quase como Transilvânia. E, claro, a casa de Chris era a mais distante, parecida com um castelo espanhol, na colina mais solitária.

As portas se abriram sozinhas ao estilo ‘A Família Addams’, ninguém abriu. Então, chega Chris em sua forma esguia, com seus 1,90m de altura, descendo lentamente as escadas. Rick logo me falou: ‘vamos dar o fora daqui’ (risos). Sentíamos que nossas almas estavam em perigo.”

Relação e química do Audioslave

Àquela altura, não era novidade para ninguém que Chris Cornell era um artista brilhante, mas também um sujeito complicado, em constante guerra com seus próprios demônios. Ele lidava com o alcoolismo no período, chegando a ser internado em uma clínica de reabilitação, e a banda chegou a cancelar suas primeiras apresentações, no Ozzfest de 2002, porque o cantor simplesmente abandonou o projeto após brigas.

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Apesar disso, Chris retornou e o Audioslave deu certo desde o início justamente porque o vocalista estava disposto a colaborar. Ele chegou a engavetar seu segundo disco solo, no qual trabalhava na época, para mergulhar de cabeça no projeto.

Tom Morello relatou à MTV em 2003 que todos os envolvidos sentiram uma forte química assim que Cornell começou a cantar. Parecia estranho para os instrumentistas, pois o estilo do ex-Soundgarden era completamente diferente do adotado por Zack de la Rocha, mas funcionava tão bem quanto – ou até melhor.

“Ele foi até o microfone e cantou a música, e eu não podia acreditar. Não soava apenas bom. Soava ótimo. Soava transcendente. E… quando há uma química insubstituível desde o primeiro momento, você não pode negar.”

Em outra entrevista, para Howard Stern, Morello explicaria a principal diferença entre o novo e o antigo vocalista: a abordagem melódica. Cornell pedia uma musicalidade diferente e a banda toda pareceu rejuvenescida e inclinada a acatar essa mudança.

“A música do Rage Against the Machine traz um baixo do tipo James Brown. Tudo se resume a isso. É a mesma batida motriz, o mesmo ritmo que conduz, pois é rap, é o excelente vocal punk rock de Zack. Com Chris, para permitir que ele brilhasse, deveria haver esse contraponto harmônico.”

Os acertos e os demônios

O Audioslave só acertou seu nome, após sugestão de Chris Cornell, depois que toda a parte musical de seu início estava definida. Prioridades bem definidas.

No primeiro disco, lançado em 2002, ainda era possível pescar influências e citações sonoras da banda original, bem como do Soundgarden, mas uma identidade própria começava a se desenhar a partir dali. Músicas como a pesada “Cochise”, a intensa “Show Me How to Live” (feita originalmente para o Rage), a balada “Like a Stone” e a climática “I Am the Highway”, só para ficar nos destaques, não poderiam ser feitas com Zack de la Rocha.

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Se a química musical era forte, a relação interpessoal nunca foi das melhores. Rumores indicam que a banda chegou a romper antes mesmo de seu primeiro show, ainda em 2002, devido a divergências causadas pelos empresários de Chris Cornell e dos músicos ex-Rage. Felizmente, a situação foi contornada, apesar do “climão”.

Além disso, o vocalista já sofria com problemas com drogas e depressão naquela época, o que o tornavam recluso e arredio. Tom Morello diz que nunca conheceu o vocalista por completo e o considerava bem misterioso.

“Parte significativa da genialidade artística dele estava entrelaçada com esses demônios que estavam ali desde sua infância. Dava para sentir isso nas músicas e letras dele, assim como na vida dele. Havia partes ali que eu jamais tive acesso. O lado bom é que temos todas essas memórias e esses discos. Ele fez muitas boas músicas, das quais poderemos desfrutar para sempre. Penso nele todos os dias.”

Fim, breve reunião e fim definitivo

Como o Rage Against the Machine, o Audioslave durou pouco: a banda rompeu em 2007 com a saída de Chris Cornell. Além do debut homônimo, foram produzidos os álbuns “Out of Exile” (2005) e “Revelations” (2006).

Os músicos trabalharam em projetos solo por um tempo até que voltaram a seus grupos originais: Morello, Commerford e Wilk reuniram o RATM com Zack de 2007 a 2011, enquanto Cornell retomou o Soundgarden em 2009.

O futuro reservou tempo apenas para uma breve reunião do Audioslave, em janeiro de 2017, pouco antes da morte de Chris. A ocasião promovia o Prophets of Rage, outro grupo relacionado ao Rage Against the Machine, como protesto pela posse do então presidente americano Donald Trump.

Em entrevista concedida no mês seguinte, o vocalista se mostrou disposto a uma reunião de fato, embora a agenda de todos os envolvidos dificultasse. Porém, ele foi encontrado morto em maio daquele ano, encerrando de vez qualquer possibilidade do Audioslave voltar à ativa.

O Rage Against the Machine se reuniu pela segunda vez em 2019, mas a parceria com Chris Cornell certamente é um capítulo especial na carreira dos músicos envolvidos.

* Texto por André Luiz Fernandes, com pauta e edição por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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