Por que Paul McCartney processou os Beatles logo após o fim da banda

Banda acabou em abril de 1970, mas só encerrou como empresa em 1975, após processo movido por Paul McCartney

Os Beatles encerraram suas atividades oficialmente em abril de 1970, pouco antes do lançamento de seu último álbum, ‘Let It Be‘. O fim da banda foi confirmado por Paul McCartney em uma entrevista a um jornal britânico.

Ainda assim, os Beatles não acabaram de fato. Por conta disso, Paul McCartney precisou mover uma ação judicial para que a banda realmente acabasse. O processo teve início em 31 de dezembro de 1970 e só acabou em 1975, quando, de forma oficial, o grupo chegou ao fim.

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Antes de tudo, é importante destacar que a ação movida por Paul McCartney visava os negócios. Os Beatles já não existiam como banda, mas continuavam operando enquanto empresa. A chave para essa questão está em Allen Klein, escolhido como empresário do grupo em seus tempos finais.

Klein trabalhava para os Rolling Stones naquela época e era o nome que Lennon, Harrison e Starr queriam para gerenciar os Beatles. McCartney, por sua vez, se opunha à decisão e queria que seu novo sogro, Lee Eastman, e cunhado, John Eastman, respectivamente pai e irmão de Linda McCartney, cuidassem da banda.

Os demais músicos não concordavam com a sugestão de Paul McCartney, pois achavam que ele seria favorecido de alguma forma em uma parceria que, antes, era igualitária. Não dá para negar que esse impasse acabou colaborando para o fim dos Beatles – ainda que um ou outro fã mais desavisado acredite até hoje na lenda de que tudo foi culpa de Yoko Ono.

Para piorar, a Apple Corps, corporação que gerenciava oficialmente a carreira dos Beatles, não informava seus registros de contabilidade a McCartney desde a sua fundação, em abril de 1967. Em meio a tudo isso, os Beatles continuavam existindo enquanto empresa, pois era necessário pagar uma série de impostos para dar fim à parceria.

Àquela altura do campeonato, por mais que os Beatles estivessem encerrados, existia a especulação de que a parceria poderia ser retomada em algum momento. John Lennon, George Harrison e Ringo Starr saíram da banda pelo menos uma vez cada entre 1968 e 1970. Para que pagar tantos impostos para acabar com uma banda que logo poderia voltar?

Allen Klein sabia disso e chegou a sugerir que todos os músicos fossem convidados para trabalhar em uma canção solo de Ringo Starr. Se todos comparecessem, seria um sinal de que ainda haveria química entre eles. Todavia, Paul McCartney recusou o convite.

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O que diz Paul McCartney

Diante de tudo isso, Paul McCartney sentiu cheiro de fraude, que estaria sendo orquestrada por Allen Klein, e decidiu resolver tudo na Justiça. “A única forma de salvar os Beatles e a Apple, tendo controle de todo o material – incluindo o novo filme ‘Get Back’ de Peter Jackson e os relançamentos remasterizados atuais – era processar a própria banda”, disse o músico, em recente entrevista à ‘G1’.

Caso nada fosse feito, todo o catálogo dos Beatles pertenceria a Klein, segundo McCartney. “Eu quis processar apenas Allen Klein, mas me disseram que ele não fazia parte disso, então, não daria certo. Disseram que eu teria de processar os Beatles”, afirmou.

As consequências para Paul McCartney foram terríveis. “Como eu tive que fazer isso, virei o cara que acabei com os Beatles e ainda processei os ex-colegas. […] Foram tempos terríveis. Bebia demais e era tudo muito louco, mas sabia que aquela era a única forma de salvar tudo. Não dava para trabalhar tão duro a vida toda e ver tudo desaparecer”, disse.

A reação inicial de John Lennon, George Harrison e Ringo Starr ao processo não foi nada boa. Não só porque eles também eram alvos da ação, como, também, por serem grandes amigos de Allen Klein. “Eu sabia que, se eu conseguisse, também salvaria tudo para os caras também. Eles estavam prestes a dar tudo para ele. Eles amavam o tal do Klein, enquanto eu dizia que ele era um idiota”, afirmou.

O processo contra os Beatles

A situação se arrastou por alguns anos na Justiça. Paul McCartney pedia a dissolução oficial dos Beatles enquanto grupo e representação comercial e acusava Allen Klein de má administração dos fundos da banda.

Paul McCartney se motivou até mesmo de situações que impactavam no trabalho artístico dos Beatles. Foi de Allen Klein a ideia de substituir a versão original de ‘The Long and Winding Road’, faixa do álbum ‘Let It Be’, para uma gravação espalhafatosa feita pelo produtor Phil Spector. Além disso, os direitos do documentário sobre o disco foram repassados da Apple à United Artists. Tudo isso aconteceu sem autorização de McCartney.

Durante toda a ação, o músico solicitou ao juiz que a Apple Corps continuasse a ser administrada por alguém escolhido pela corte. Ele estava determinado em tirar Klein de vez da jogada.

Em meio à disputa judicial, os outros três membros dos Beatles foram ouvidos e chegaram a sugerir uma volta da banda, pois os problemas entre eles “já haviam sido superados”. Àquela altura, apenas McCartney não queria o retorno do grupo.

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Fim oficial da banda e da ação

A dissolução dos Beatles foi assinada em 29 de dezembro de 1974, dois dias antes do processo completar 4 anos de tramitação, e formalizada em 9 de janeiro de 1975. Foi para essa ação, inclusive, que John Lennon assinou a papelada enquanto visitava os parques Walt Disney World na Flórida, Estados Unidos, durante férias com a família.

No fim das contas, Allen Klein realmente era um fanfarrão. Foi descoberto que ele ludibriou os Rolling Stones no que diz respeito aos direitos do material da banda da década de 60 e, ao que tudo indica, planejava fazer o mesmo com os Beatles.

Lennon, Harrison e Starr também foram percebendo, ao longo do tempo, que Klein era, no mínimo, um péssimo empresário. Ele teria sido, por exemplo, o principal responsável pelo projeto de ajuda a Bangladesh, feito por Harrison, não ter dado certo como o esperado.

Os três resolveram, então, romper com Allen Klein em março de 1973, o processando meses depois, em novembro do mesmo ano, por questões relacionadas à contabilidade de suas carreiras solo. Os músicos saíram perdendo no fim das contas, já que a ação movida contra Klein acabou, em 1977, com um acordo extrajudicial em que ele recebia US$ 5 milhões.

O fim dos Beatles só foi oficializado em 1974 porque Lennon, Harrison e Starr se desiludiram e romperam com Klein, o que possibilitou uma negociação com McCartney. Caso contrário, a ação teria se arrastado por ainda mais tempo.

Tretas judiciais à parte, a relação entre os membros dos Beatles não era tão ruim. Vale destacar que em seus álbuns solo, cada músico costumava trazer algum ex-parceiro como convidado especial. ‘Ringo’ (1973), terceiro disco solo de Ringo Starr, chegou a reunir os outros três integrantes, ainda que em músicas diferentes.

Entre Paul McCartney e John Lennon, ainda havia ressentimento, mas não relacionado ao processo. Em 1974, eles até tocaram juntos em uma jam, só que as trocas de provocações em entrevistas e até em letras de músicas (como ‘Too Many People’, de Paul, e ‘How Do You Sleep?’, de John) eram frequentes. Lennon foi assassinado em 1980 e encerrou qualquer chance de reunião dos Beatles.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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