Entrevista: Conheça o Inspector Cluzo, o ótimo duo de agricultores roqueiros

O Inspector Cluzo tocou no terceiro e último dia do festival Lollapalooza Brasil 2019, realizado em São Paulo no início do mês, mas aposto que você não ouviu falar dessa banda. Também pudera: o duo francês, formado por Laurent Lacrouts (vocal e guitarra) e Mathieu Jordain (bateria), tocou bem cedo, antes das 14h, que é quando a transmissão pela TV foi iniciada.

Uma pena. A dupla, que pratica um rock bastante visceral e influência do garage e até do blues, merecia maior atenção na line-up. A grande prova está no sexto e mais recente álbum dos franceses, “We The People Of The Soil”, que chegou em 2018. Não pude conferir o show no Lolla, mas imagino que seja de mesma qualidade, tendo em vista que os dois já se apresentaram em mais de 60 países com apenas 10 anos de carreira.

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Todo esse hype por trás do Inspector Cluzo contrasta, diretamente, com a ocupação dos músicos fora dos palcos: os dois são agricultores orgânicos profissionais em sua fazenda, a “Lou Casse”. “Nós estamos em uma fazenda de 8.6 hectares com outros 65 produtores. Durante o verão, cultivamos milho. No inverno, é a vez do trigo. Temos 0.7 hectare de um campo onde produzimos para nós mesmos, como vegetais, frutas, frangos e tudo o mais. Nós temos internet lá, mas ainda não temos eletricidade. No inverno, a forma de se aquecer é com lareira. Temos uma pequena venda e nos alimentamos somente com o que cultivamos”, afirmou Laurent Lacrouts, em entrevista exclusiva.

O ar dos campos dá o tom orgânico e visceral do som do Inspector Cluzo. As influências são híbridas – vão do funk rock a White Stripes – e as músicas parecem nascer de jams, pois não são muito formatadas. “Nesse disco, quisemos manter tudo bem orgânico. Sempre fazemos assim, mas, dessa vez, foi ainda mais, pois gravamos em Nashville e a mágica daquele lugar interferiu, além do produtor Vance Powell (Chris Stapleton, White Stripes, Wolfmother). Temos uma vida muito orgânica, pois nos alimentamos com o que produzimos. Então, é o mesmo processo: estamos nos alimentando com nossas músicas”, explicou Lacrouts.

Em “We The People Of The Soil”, a pegada ficou mais intensa e rendeu ótimas músicas, como “Ideologies”, “The Sand Preacher” e “Pressure On Mada Lands” – esta última, com participação de Tyler Bryant, do The Shakedown. “Conhecemos Tyler e o adoramos, ficamos muito amigos. Fizemos o convite para o álbum e ele aceitou”, disse Lacrouts sobre a participação de Bryant. Outra presença externa é a da cantora Mariane Dissard em “The Best”. “Ela é uma velha amiga nossa, que fez carreira nos Estados Unidos por uns 25 anos. Nós a chamamos para participar de um show, percebemos que tínhamos muito em comum e fizemos essa música com ela”, completou.

Prós e contras do formato duo

As vantagens e desvantagens de se trabalhar como duo, com apenas dois integrantes, são evidentes. E os músicos – que possuem até um selo musical chamado Fuckthebassplayer Records (“F*-da-se o baixista”, em tradução livre) resumiram essa situação de forma bastante precisa durante o bate-papo. “Os prós são fáceis. Quando você quer ensaiar ou fazer um show, é mais fácil, pois trabalhamos juntos o tempo todo. Se você tem mais integrantes, precisa conferir a agenda de todos eles. Então, facilita muito para nós”, contou Mathieu Jordain.

“Os contras ocorrem porque nós amamos música, então, às vezes, queremos adicoinar mais melodias e arranjos e não podemos. Porém, no fim, isso pode ser até considerado um pró, já que isso nos deixa mais criativos para fazer as pessoas ouvirem os arranjos que queríamos colocar sem que seja tocado”, pontuou Laurent Lacrouts.

Viajantes

Pelas contas dos músicos do Inspector Cluzo, o Brasil foi o 65° país a contar com um show do duo. O “passaporte” dos caras conta não apenas com países da Europa e América, como, também, da África, continente pouco visitado por bandas de rock. Por que eles apostam tanto na divulgação em locais tão diferentes – e distantes?

“Na maior parte do tempo, estamos tocando na França, porque o mercado musical é rico, então, dá para ganhar dinheiro lá. Fazemos uns 100 a 150 shows remunerados na França por ano. Por outro lado, isso ajuda a criar um comportamento preguiçoso, pois muitos não têm curiosidade de sair por aí. Não somos assim. Então, viajamos muito e fazemos vários festivais. Preferimos viajar e conhecer pessoas. Tocar no Brasil é mais interessante, ou na Costa Rica, ou no Panamá”, explicou  Laurent Lacrouts.

“Você enriquece quando conhece diferentes pessoas e culturas. Isso é alimento para a sua música. E quando você volta, você percebe que aprendeu muita coisa”, complementou Mathieu Jordain.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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