“Let It Scream”, o disco que colocou John Corabi no Mötley Crüe

The Scream – “Let It Scream”
Lançado em 20 de agosto de 1991

O passado de John Corabi antes de ter entrado para o Mötley Crüe não é de amplo conhecimento, nem mesmo de quem acompanhou a sua carreira a partir desse momento. Dessa forma, nem todos sabem que um de seus melhores trabalhos foi produzido justamente antes do Crüe.

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Até o início dos anos 1990, John Corabi era apenas um desconhecido que tentava a vida como músico em Los Angeles, epicentro do hard rock americano. Seu projeto anterior, o Angora, não havia vingado.

Ao mesmo tempo, o Racer X, banda consagrada no segmento virtuoso do metal, entrava em um hiato após Paul Gilbert ter saído do grupo para entrar no Mr. Big. Três dos músicos remanescentes, Bruce Bouillet, John Alderete e Scott Travis, estavam em busca de um vocalista para um novo projeto, chamado de Black Cloud. Foi aí que se cruzaram os destinos de John Corabi e dos demais músicos do Racer X.

O Black Cloud logo se tornou o The Scream, que, em 1990, já começou a tocar um repertório autoral em casas de shows de Los Angeles. Pouco depois, conseguiram um contrato com a HollyWood Records, mas tiveram uma baixa na bateria: Scott Travis deixou a banda para entrar no Judas Priest, onde está até hoje. Walt Woodward III assumiu o posto.

Lançado em 20 de agosto de 1991, “Let It Scream” reflete a linha de som que o hard rock, como um todo, teria seguido se o mercado não tivesse se voltado para o rock alternativo na década de 1990. A pegada oitentista está presente, mas influências de monstros setentistas, como Aerosmith, Mott The Hoople, Led Zeppelin em seus momentos mais explosivos e Rolling Stones, se faz presente por aqui. Com suas devidas diferenças, é o que bandas como Black Crowes, Cinderella (mais tardiamente) e Badlands fizeram nesse mesmo período.

Em sua essência, “Let It Scream” mostra que é possível, sim, unir elementos do hard rock de épocas distintas sem soar deslocado. Músicas como “Outlaw”, “I Believe In Me” e “Every Inch A Woman” têm uma pegada festeira, enquanto a densa “Give It Up”, a poderosa balada “Father, Mother, Son” e a visceral “I Don’t Care” refletem a influência 70s.

Há, ainda, outros momentos que mostram a versatilidade dos envolvidos. Entre as passagens de maior classe do quarteto, estão a country/rockabilly “Never Loved Her Anyway”, a excelente “You Are All I Need” – com uma pitada soul de destaque e backing vocals de Ray Gillen e Jeff Martin -, e a irresistível “Tell Me Why”, que conta com um inusitado solo de sopro.

Com boas músicas, ótima performance e produção irretocável de Eddie Kramer, “Let It Scream” é um daqueles discos excelentes do começo ao fim. Neste álbum, a peteca não cai em nenhum momento.

“Let It Scream” não se tornou um clássico mainstream, mas apresentou as credenciais da banda para quem acompanhava o rock com mais afinco na época. Caso de Nikki Sixx, que, em entrevista à revista Spin, mencionou o álbum como um dos 10 melhores do ano de 1991.

John Corabi ligou para Nikki Sixx com o intuito de agradecer pela menção, já em 1992. Sem esse telefonema, talvez Corabi não tivesse sido convidado para o Mötley Crüe – ou até teria sido, já que “Let It Scream” foi o fator determinante para colocar o vocalista dentro do Crüe. Sem o convite, o The Scream até poderia ter durado mais tempo, já que um novo álbum, “Takin’ It To The Next Level”, começava a ser planejado.

No fim das contas, John Corabi entrou para o Mötley Crüe. O segundo álbum do The Scream foi gravado com Billy Fogarty (Dashboard Mary), mas foi engavetado pela gravadora e o projeto acabou ali. A banda mudou o nome para DC-10 e, com Abe Laboriel Jr. (Paul McCartney) na bateria, lançaram algumas músicas de “Takin’ It To The Next Level” no disco “Co-Burn”. Todo esse material raro lançado após “Let It Scream” está disponível para download gratuito no site do Racer X.

O futuro de John Corabi no Mötley Crüe é de conhecimento geral: apesar do ótimo álbum autointitulado, lançado em 1994, não houve êxito comercial e o vocalista Vince Neil acabou de volta. Uma pena.

John Corabi (vocais, guitarra, violão)
Bruce Bouillet (guitarra, violão)
John Alderete (baixo)
Walt Woodward III (bateria)

Músicos adicionais:
Ray Gillen (backing vocals em 11)
Jeff Martin (backing vocals em 11)
Jimmy Waldo (órgão em 8 e 11)

01. Outlaw
02. I Believe In Me
03. Man In The Moon
04. Father, Mother, Son
05. Give It Up
06. Never Loved Her Anyway
07. Tell Me Why
08. Love’s Got A Hold On Me
09. I Don’t Care
10. Every Inch A Woman
11. You Are All I Need
12. Catch Me If You Can

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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