O destino de duas das bandas de metal mais bem-sucedidas durante a década de 1990 poderia ter sido incrivelmente modificado com um “sim”. Falo de Megadeth, liderado por Dave Mustaine, e Pantera, capitaneado pelos irmãos Vinnie Paul e Dimebag Darrell – este, morto em 2004.
Em entrevistas publicadas desde o fim da década passada, Dave Mustaine comentou, algumas vezes, o fato de que convidou Dimebag Darrell para entrar no Megadeth. Na época – meados de 1989 -, embora já estivesse com Phil Anselmo, o Pantera ainda não havia se alçado à fama. O reconhecimento só veio mesmo com “Cowboys From Hell”, lançado em 1990.
O Megadeth, por sua vez, já era bem conhecido. Todavia, o auge comercial do grupo de Mustaine atingiu o seu auge com a trinca “Rust In Peace” (1990), “Countdown To Extinction” (1992) e “Youthanasia” (1994) – também, na década de 1990.
Dave Mustaine e David Ellefson conheceram o Pantera quando ainda estavam tocando pelos bares do Texas, estado natal da banda. Anos atrás, ao site da revista Billboard, Mustaine relembrou que Ellefson os viu pela primeira vez tocando alguns covers, justamente, do Megadeth.
Em 1989, o guitarrista Jeff Young foi demitido do Megadeth, ao lado do baterista Chuck Behler. Enquanto o caso de Behler tinha a ver com o desempenho técnico durante os shows, Young foi dispensado, aparentemente, após conflitos com Dave Mustaine.
Dessa forma, o Megadeth precisava de um guitarrista e de um baterista. E precisavam ser realmente bons: a banda estava cada vez mais famosa e movimentava cada vez mais dinheiro.
Nick Menza e Dimebag Darrell
Nick Menza foi contratado para a bateria e, posteriormente, David Ellefson se lembrou do guitarrista que viu em um bar no Texas. Aquele músico era Dimebag Darrell, que, conforme relatado anteriormente, ainda não havia conquistado a fama com o Pantera. Outro músico cogitado por Dave Mustaine foi Jeff Waters, do Annihilator, mas, segundo ele, “Waters estava muito longe”, em termos de localização.
Questionado pela Billboard sobre a proposta feita a Dimebag Darrell, Dave Mustaine diz que o convite foi algo corriqueiro.
“Poderia fingir que foi algo grande, elaborado, mas foi apenas uma conversa por telefone, dois caras se falando. Precisávamos de um guitarrista e Ellefson – sendo uma espécie de embaixador da banda – tinha o telefone dele (Dimebag Darrell) e nos colocou em contato.”
Durante o papo, que foi breve, Dimebag Darrell deixou claro que não entraria para o Megadeth se o seu irmão, Vinnie Paul, não fosse junto dele. E aí estava o problema: Nick Menza havia sido contratado pouco tempo antes e, de certa forma, parecia ser o baterista certo para a banda.
Veja a descrição do bate-papo entre Dave Mustaine e Dimebag Darrell, feita pelo próprio Mustaine à Billboard:
“Eu disse (a Dimebag): ‘ei, estamos procurando por um novo guitarrista solo’. Ele diz (com sotaque do Texas): ‘ok, cara, posso levar meu irmão?’. Perguntei: ‘bem, quem é seu irmão?’. Ele disse: ‘Vinnie Paul!’. E eu pensava: ‘Como assim, que p*rra é essa? Trazer o irmão? É como o Rain Man (filme) ou algo do tipo?’ (risos). Então, ele disse: ‘não, cara, ele é meu baterista e precisa estar com a gente!’. E eu falei: ‘oh, cara, eu acabei de contratar Nick Menza’.”
Pantera e Megadeth se dão bem
Tempos depois, o Pantera explodiu com “Cowboys From Hell” e o Megadeth também teve um bom futuro com Nick Menza e o guitarrista Marty Friedman, que acabou ocupando a vaga. Todavia, Dave Mustaine tem a mesma dúvida de quase todo metalhead: como a banda soaria com os irmãos Abbott?
“Penso naquele momento da minha vida, se eu dissesse: ‘Quer saber? Dane-se Nick Menza, vou ficar com Vinnie Paul e Darrell’, como o Megadeth teria soado. Claro, não haveria Pantera e o Megadeth seria ainda mais feroz na guitarra. Mas, é, o que poderia ter acontecido?”
A visão de Vinnie Paul
Em outra entrevista antiga, à rádio 97.1 The Eagle, de Dallas, o baterista Vinnie Paul também falou sobre o convite, de forma mais resumida.
“Foi pouco antes de conseguirmos nosso contrato de gravação. Dave Mustaine ligou e disse que arrumaria um patrocínio e um adiantamento para Dime entrar no Megadeth.”
Vinnie destacou a lealdade e a confiança que Dimebag tinha com relação ao Pantera e a seu irmão.
“Era um momento difícil para o Pantera, estávamos tocando em clubes no Texas há sete anos e nada acontecia. Mesmo assim, ele falou que se a banda o quisesse teriam que me levar junto para ser o baterista. Dave disse que já tinha um baterista. Então, meu irmão respondeu: ‘desculpe, cara, então não vou tocar com vocês’. Ficamos juntos e tudo deu certo.”
Dave Mustaine seguiu amigo de Dimebag Darrell e Vinnie Paul. As bandas dos músicos chegaram a excursionar juntos em 1992.
O Hellyeah, formado por Paul após o fim do Pantera, também já dividiu palcos com Mustaine e seus asseclas. Em outro momento, o líder do Megadeth tocou o solo de “Cemetery Gates” com Dream Theater e Russell Allen, em homenagem a Dimebag.
No fim das contas, ninguém consegue imaginar como seria ter Dimebag Darrell e Vinnie Paul no Megadeth. Apesar dos estilos semelhantes – ambos têm suas sonoridades baseadas no thrash metal -, o Pantera praticou um som mais groovy, enquanto a banda de Dave Mustaine sempre teve uma influência mais jazz, que conferia uma pegada diferente. Alguns elementos se cruzam, mas, outros, não.
Naquela época, há de se destacar, também, que Dave Mustaine praticamente monopolizava o procsso criativo do Megadeth. Ele ainda faz isso, mas, naqueles tempos, a autoridade de Mustaine no que diz respeito à criação era evidente. Em contraponto, no Pantera, Dimebag e Vinnie Paul trabalhavam em conjunto com Phil Anselmo e o baixista Rex Brown.
Com Dimebag Darrell, a projeção de que o Megadeth teria guitarras mais ferozes, feita por Dave Mustaine, é correta. Ainda que Marty Friedman seja um grande guitarrista, seu estilo é menos impositivo que o de Dimebag. Ele e Vinnie Paul dividiriam, com méritos, os holofotes com Dave Mustaine, que, naqueles tempos, deu demonstrações de ter problemas com seu ego.
Fato é que o Megadeth com esteroides, proporcionados pelos irmãos Abbott, seria incrível. Não há dúvidas disso.